Antropologia

Estudo diz que humano passou a andar de duas pernas antes do que o imaginado

Estudo reforça a ideia de que essa habilidade foi adquirida muito cedo em nossa história, numa época ainda associada à capacidade de se locomover de galho em galho

Correio Braziliense
postado em 25/08/2022 06:00
 (crédito:  Guy Franck  / PALEVOPRIM / CNRS - Universidade de Poitiers/Diviulgação )
(crédito: Guy Franck / PALEVOPRIM / CNRS - Universidade de Poitiers/Diviulgação )

O bipedismo é considerado, literalmente, um passo decisivo na evolução humana. No entanto, não há consenso sobre quando isso ocorreu, devido à falta de fósseis que possam ser datados. Agora, uma equipe de pesquisa da França e do Chade examinou três ossos de membros do representante humano mais antigo atualmente identificado, o Sahelanthropus tchadensis, também conhecido como homem de Toumai. Publicado na revista Nature, o estudo reforça a ideia de que essa habilidade foi adquirida muito cedo em nossa história, numa época ainda associada à capacidade de se locomover de galho em galho.

Com 7 milhões de anos, o Sahelanthropus tchadensis é considerado a espécie representativa mais antiga da humanidade. A sua descrição remonta a 2001, quando a Missão Paleoantropológica Franco-Chadiana (MPFT) descobriu os restos de vários indivíduos em Toros-Menalla no deserto de Djurab (Chade), incluindo um crânio muito bem preservado. Esse crânio, e em especial a orientação e a posição anterior do forame occipital onde se insere a coluna vertebral, indicam um modo de locomoção bipodal, sugerindo que ele era capaz de andar sobre duas pernas.

Além do crânio, apelidado de Toumaï, e fragmentos de mandíbulas e dentes já publicados, a localidade de Toros-Menalla 266 rendeu duas ulnas (osso do antebraço) e um fêmur (osso da coxa). Essas peças também foram atribuídas ao Sahelanthropus porque nenhum outro grande primata foi encontrado no local; no entanto, é impossível saber se pertencem ao mesmo indivíduo que o crânio.

O fêmur e as ulnas foram submetidos a uma bateria de medidas e análises, tanto de sua morfologia externa, quanto das estruturas internas, usando imagens de microtomografia: medidas biométricas, morfometria geométrica, indicadores biomecânicos etc. Esses dados foram comparados com os de uma amostra relativamente grande de macacos existentes e de fósseis: chimpanzés, gorilas, orangotangos, macacos do Mioceno e integrantes do grupo humano (Orrorin, Ardipithecus, Australopithecus, Homo antigo, Homo sapiens).

Escaladas

A estrutura do fêmur indica que o Sahelanthropus era geralmente bípede no chão, mas provavelmente também se locomovia nas árvores. De acordo com os resultados das ulnas, esse bipedalismo convivia em ambientes arbóreos com uma forma de quadrupedalismo, ou seja, a escalada arbórea possibilitada por pegadas firmes, claramente diferente daquela de gorilas e chimpanzés, que se apoiam no dorso de suas falanges.

As conclusões do estudo, incluindo a identificação do bipedismo, baseiam-se na observação e comparação de mais de 20 características do fémur e da ulna. Eles são, de longe, a interpretação mais parcimoniosa da combinação desses traços. Todos os dados, segundo os autores, reforçam o conceito de uma locomoção bípede muito precoce na história da humanidade, ainda que nessa fase outros modos de locomoção também fossem praticados. 

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