Pesquisa

Primeira amputação cirúrgica data de 31 mil anos, segundo estudo

Até agora, a evidência mais antiga de tal intervenção, descoberta em 2010 em um sítio neolítico na França, datava de 7 mil anos

Agência France Presse
postado em 07/09/2022 15:43
 (crédito: Tim MALONEY / GRIFFITH UNIVERSITY / AFP)
(crédito: Tim MALONEY / GRIFFITH UNIVERSITY / AFP)

Um esqueleto descoberto em uma parte remota de Bornéu reescreve a história da medicina antiga e revela que a primeira amputação bem-sucedida foi realizada há 31.000 anos, de acordo com um estudo.

Até agora, a evidência mais antiga de tal intervenção, descoberta em 2010 em um sítio neolítico na França, datava de 7.000 anos. Envolveu uma amputação do braço de um homem, sem dúvida bem sucedida, com base na análise de seus ossos, que revelou sinais de cicatrização.

Os cientistas concordam que as primeiras práticas médicas estão ligadas à revolução neolítica há cerca de 10.000 anos, quando a agricultura e a sedentarização levantaram problemas de saúde anteriormente desconhecidos.

Mas a descoberta de restos humanos antigos de pelo menos 31.000 anos, na parte indonésia de Bornéu, modifica essa visão ao revelar que os caçadores-coletores já praticavam a cirurgia.

A descoberta "reescreve nossa compreensão do conhecimento médico", explicou o paleontólogo Tim Maloney, da Universidade Griffith, na Austrália, que liderou o estudo publicado na revista Nature.

Os ossos foram encontrados em 2020 na gruta de calcário de Liang Tebo, conhecida por suas pinturas rupestres.

Entre os inúmeros morcegos, andorinhas-do-mar, andorinhões e até alguns escorpiões que habitavam o local, os paleontólogos retiraram delicadamente as camadas sedimentares e encontraram a sepultuta de um esqueleto notavelmente preservado.

- "Corte oblíquo" -

O corpo não tinha, porém, o tornozelo e o pé esquerdos.

A ponta do osso restante da perna mostrava um "corte nítido e oblíquo, que você pode ver olhando através do osso", disse Tim Maloney em entrevista coletiva.

Essa aparência teria sido menos regular se a amputação tivesse sido causada por uma queda ou ataque de um animal.

Portanto, tudo indica que não foi uma amputação acidental, mas uma verdadeira opção médica.

Ainda mais surpreendente: o paciente, que morreu com uma idade estimada de 20 anos, parece ter sobrevivido entre seis e nove anos após a operação, com base em sinais de cicatrização óssea, observáveis ao microscópio.

Também é improvável que a amputação tenha sido realizada como punição, já que a criança – ou o jovem adolescente – parece ter recebido um tratamento completo após a cirurgia.

"Isso supõe um conhecimento profundo da anatomia humana, do sistema muscular e vascular", analisa o estudo.

As pessoas que operaram o jovem tiveram que “limpar, desinfetar e cobrir regularmente a ferida” para evitar sangramento ou infecção pós-operatória, que poderia causar a morte.

O estado físico do jovem amputado, deficiente e dependente, provavelmente obrigou os que o cercavam a cuidar dele por seis a nove anos, o que revela um comportamento altruísta nesse grupo de caçadores-coletores.

Essas descobertas “fornecem uma nova visão dos cuidados e tratamentos que foram oferecidos em um passado muito distante e modificam nossa visão de que essas questões não foram levadas em consideração na pré-história”, disse Charlotte Ann Roberts, arqueóloga da Universidade britânica de Durham, em comentário que acompanha o estudo.

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