O tempo que os filhos dedicam aos jogos eletrônicos preocupa boa parte das famílias. Sedentarismo, prejuízos à visão e até desvios de comportamento estão entre os temores. Um estudo divulgado hoje, na Heart Rhythm, revista oficial da Sociedade do Ritmo Cardíaco, traz novo componente à lista: a possibilidade de, durante uma partida de videogame, a criança sofrer uma arritmia cardíaca, com risco de morte. Os pesquisadores enfatizam que esses casos não são comuns, mas a incidência tem aumentado nos últimos anos.
"Tendo cuidado de crianças com problemas de ritmo cardíaco por mais de 25 anos, fiquei chocado ao ver o quão essa apresentação é emergente e que várias crianças morreram por causa disso", afirma, em nota, Jonathan Skinner, coinvestigador do estudo e pesquisador do Sydney Children's Hospitals Network, na Austrália. Skinner e os colegas documentaram um padrão incomum, mas distinto, entre crianças que perdem a consciência enquanto se divertem com jogos eletrônicos.
Para isso, fizeram uma revisão sistemática da literatura científica sobre o fenômeno e iniciaram um esforço internacional para identificar casos de crianças com perda súbita de consciência enquanto jogavam videogames. O grupo chegou a 22 casos e concluiu que os jogos de guerra multiplayer (com várias pessoas jogando ao mesmo tempo) foram o gatilho mais frequente.
Algumas crianças morreram após sofrer uma parada cardíaca. Quando submetidas a avaliações, sobreviventes e não sobreviventes, constatou-se que a taquicardia ventricular polimórfica catecolaminérgica (TVPC) e a síndrome congênita do QT longo (SQTL) foram as causas subjacentes mais comuns. A TVPC é uma complicação genética. Já a SQLT pode ser hereditária ou adquirida. Ambas são causas comuns de morte súbita entre jovens.
Segundo os cientistas, houve alta incidência de variantes genéticas potencialmente relevantes (63%) entre os pacientes. Claire M. Lawley, investigadora principal do estudo, relata que, em algumas situações, essa vulnerabilidade só foi identificada depois de a criança ter passado mal. "Os videogames podem representar um sério risco para algumas crianças com condições arrítmicas. Eles podem ser letais em pacientes com condições arrítmicas predisponentes, mas muitas vezes não reconhecidas", alerta a também pesquisadora do hospital australiano.
Lawley conta que, quando foi descoberta, essa vulnerabilidade genética gerou implicações significativas para as famílias. Em alguns dos casos, a avaliação médica da criança que perdeu a consciência durante uma partida de videogame levou muitos parentes a serem diagnosticados com um importante problema de ritmo cardíaco.
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Vigilância
Já quando pais e responsáveis sabem que os pequenos têm complicações como a TVPC e a SQTL, a cientista sugere que o contato com os videogames seja monitorado. "As famílias e as equipes de saúde devem pensar nas precauções de segurança em relação aos jogos eletrônicos em crianças que têm uma condição em que os ritmos cardíacos rápidos são um risco", enfatiza Lawley.
De acordo com o artigo, no momento dos incidentes, muitos dos pacientes estavam em estados excitados, tendo acabado de ganhar ou perder a partida ou em conflito com os outros jogadores. "Já sabemos que algumas crianças têm problemas cardíacos que podem colocá-las em risco ao praticar esportes competitivos, mas ficamos chocados ao descobrir que algumas estavam tendo apagões com risco de vida durante os videogames", afirma o coinvestigador Christian Turner.
O cientista chama a atenção para o fato de alguns pais acharem que os videogames são um dispositivo que deixa os filhos livres de ameaças, principalmente pela possibilidade de eles se divertirem dentro de casa. "Eu pensava anteriormente que seria uma atividade alternativa segura", admite. "Essa é uma descoberta realmente importante. Precisamos garantir que todos saibam o quão importante é fazer o check-out quando alguém tem um episódio de desmaio nessas circunstâncias."
Lawley concorda e ressalta a importância do acompanhamento médico: "Crianças que, de repente, perdem a consciência durante jogos eletrônicos devem ser avaliadas por um cardiologista, pois isso pode ser o primeiro sinal de um problema cardíaco grave". Skinner, por sua vez, enfatiza a importância dos profissionais de saúde na prevenção ao problema. "Todos os colaboradores desejam divulgar esse fenômeno para que nossos colegas em todo o mundo possam reconhecê-lo e proteger essas crianças e suas famílias."
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Atenção nos e Sports
"O aconselhamento adequado sobre os riscos de videojogos intensos deve ser direcionado a crianças com diagnóstico cardíaco pró-arrítmico e a qualquer criança com histórico de síncope de esforço de etiologia indeterminada. Além disso, quaisquer futuros programas de triagem destinados a identificar atletas em risco de arritmias malignas devem incluir atletas considerados para a participação em eSports."