meio ambiente

Estudo mostra rastros deixados no planeta por plantações e criações de animais

Estudo mapeia os rastros deixados no planeta por plantações, criações de animais e outras atividades humanas do tipo. Brasil está entre os cinco países que causam o maior impacto em ecossistemas terrestres e aquáticos

Correio Braziliense
postado em 25/10/2022 06:00
 (crédito: Paul Ellis/AFP)
(crédito: Paul Ellis/AFP)

Em um planeta com 8 bilhões de pessoas, uma agricultura industrializada e cadeias de suprimentos complexas, quantificar os rastros deixados pelas atividades humanas para produzir alimentos parece até impossível. Um grupo de cientistas da Universidade da Califórnia Santa Bárbara (UCSB), nos Estados Unidos, porém, foi atrás dessa resposta. Eles classificaram a produção de alimentos na terra e nas águas, considerando fatores como emissões de gases de efeito estufa e poluição, e chegaram a dados que consideram úteis para avaliar o impacto desse tipo de atividade no meio ambiente. Um deles revela que cinco países são responsáveis por quase metade da pressão ambiental global. O Brasil é um deles.

"Todo mundo come comida, e mais e mais pessoas estão prestando atenção às consequências planetárias do que comem (...) Precisamos conhecer o impacto geral da produção total de alimentos especialmente para definir melhores políticas alimentares", afirma Ben Halpern, líder do estudo, publicado na revista Nature Sustainability. O também ecologista marinho conta que descobrir esse impacto no planeta é uma tarefa complicada porque, entre outros fatores, existem muitos alimentos diferentes produzidos de maneiras distintas, o que gera pressões ambientais também diversas.

Por isso, Halpern e colegas buscaram entender os impactos da produção global de alimentos junto com os contextos locais desses processos. Eles coletaram dados detalhados sobre emissões de gases de efeito estufa, uso de água doce, perturbação do habitat e poluição de nutrientes (por exemplo, escoamento de fertilizantes) gerados por 99% da produção total relatada de alimentos aquáticos e terrestres em 2017. Os impactos foram sendo mapeados em alta resolução para que o grupo pudesse criar uma imagem mais sutil das pressões — as entradas, os processos e as saídas — da produção global de alimentos.

Os resultados indicaram locais afetados pelas várias pressões da produção de alimentos e a gravidade desse impacto e surpreenderam a equipe, conta Melanie Frazier, coautora do artigo. "As pressões cumulativas da produção de alimentos são mais concentradas do que se acreditava anteriormente. A grande maioria — 92% das pressões da produção de alimentos em terra — está concentrada em apenas 10% da superfície do planeta", detalha. A análise também revelou que o espaço necessário para a pecuária leiteira e bovina representa cerca de 25% da pegada acumulada de toda a produção de alimentos.

Outra constatação foi a de que cinco países respondem por quase metade de toda a pressão ambiental ligada à atividade. São eles: Índia, China, Estados Unidos, Brasil e Paquistão. Porém, características específicas de cada nação deixam esses rastros diversificados e podem servir de parâmetros para escolhas ambientalmente mais estratégicas.

Por exemplo, graças à tecnologia que reduz a emissão de gases de efeito estufa e aumenta os rendimentos, os EUA — maior produtor mundial de soja — são duas vezes mais eficientes do que a Índia — o quinto maior produtor — nesse tipo de cultura, tornando o grão estadunidense uma melhor escolha ecológica.

"A eficiência ambiental de produzir um determinado tipo de alimento varia espacialmente, de modo que os rankings de alimentos por eficiência diferem acentuadamente entre os países, e isso é importante para orientar quais alimentos comemos e de onde", enfatiza Halley Froehlich, professor-assistente em estudos ambientais da UCSB e coautor do estudo.

Pressões cumulativas

A pesquisa também revela conexões entre terra e mar que se perdem quando se olha apenas para um ou outro, perspectiva que, alertam os autores, resulta em pressões ambientais significativas. No artigo, eles ilustram que a criação de porcos e galinhas também tem uma pegada oceânica, porque peixes marinhos forrageiros, como arenques, anchovas e sardinhas, são usados para alimentar esses animais terrestres. O inverso é verdadeiro para as fazendas de maricultura, cujas rações baseadas em plantações estendem a pressão ambiental das fazendas de peixes sobre a terra.

Dessa forma, avaliar as pressões cumulativas pode trazer à tona resultados que não poderiam ser previstos examinando apenas os impactos individuais, alertam os cientistas. Outro exemplo usado por eles é a criação de gado. Embora essa atividade exija uma maior área de pastagem, as pressões cumulativas da suinocultura, que produz muita poluição e usa mais água do que a criação de gado, são ligeiramente maiores do que as das vacas. Considerando as pressões cumulativas, o grupo chegou às cinco atividades que mais tensionam o meio ambiente — a produção de porcos, vacas, arroz, trigo e oleaginosas.

Estratégias

Esses dados, acreditam os autores, poderão ajudar na definição de estratégias que ajudem a reduzir a degradação ambiental e a aumentar a segurança alimentar. Em alguns casos, a saída pode ser melhorar a eficiência agrícola; em outros, os consumidores podem precisar mudar as escolhas alimentares. Halpern, o líder do estudo, alterou os hábitos para reduzir a pegada ambiental. Há anos, o ecologista passou a se alimentar mais de peixes acreditando estar ajudando a reduzir a pressão sobre as águas.

Com a pesquisa, mudou de ideia. "Agora que temos os resultados, vejo que, do ponto de vista ambiental, o frango é realmente melhor do que alguns frutos do mar. Então, mudei minha dieta para começar a incluir frango novamente, eliminando alguns frutos do mar de alta pressão, como bacalhau e arinca. Na verdade, estou comendo minhas palavras", brinca. 

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