Jornal Correio Braziliense

Duas perguntas para...

Marcelo Luiz Martins Pompêo, professor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo

Marcelo Luiz Martins Pompêo
Divulgação site da Universidade de São Paulo - Marcelo Luiz Martins Pompêo

Em razão do tamanho, os nanoplásticos podem ser mais perigosos que os microplásticos?

Ao longo do tempo, todos os plásticos passarão a ser nanoplásticos. O que hoje se sabe é que, quanto menor o tamanho das partículas, mais facilmente são transportadas e ingeridas pelos organismos. E, no caso dos nanoplásticos, em função de seu menor tamanho, podem entrar no interior de células e mais facilmente serem passados para os demais níveis tróficos Os estudos mostram que, quanto menores os tamanhos das partículas, proporcionalmente mais compostos podem ser adsorvidos na superfície do microplástico e mais ainda no nanoplástico, pois é ainda menor. Assim, em decorrência do menor tamanho, da facilidade de entrar nos organismos e de ser transportado e por, potencialmente, ter mais compostos adsorvidos, os nanoplásticos são mais potencialmente perigosos do que os microplásticos. Digo potencialmente, pois também ficará na dependência da classe de compostos adsorvidos, com alguns compostos mais potencialmente tóxicos do que outros.

Retirar os microplásticos da natureza é um desafio aos pesquisadores da área ambiental. Já existem projetos em andamento capazes de eliminar esses rejeitos de oceanos e solos, por exemplo?

A remoção dos micro e nanoplásticos em grande escala é praticamente impossível. No entanto, é possível coletar, na natureza, plásticos maiores, seja pelo uso de máquinas, seja pela catação manual mesmo. Mas o ideal é esticar a vida útil dos plásticos que utilizamos, com reúso e reciclagem o máximo possível. Mas também há que ter políticas públicas disciplinando o uso dos plásticos e seu descarte. Há que inibir o uso de plásticos de uso único, como pratos, sacolas, garfos, plásticos de embalagens etc., além de fortalecer o reúso e a reciclagem que, no conjunto, visam reduzir a sua produção. Também há que fiscalizar e punir quem descartar de modo inadequado. São questões complexas, em um mundo muito dominado pelo uso dos plásticos, mas teremos que enfrentar essa questão. A hora é agora.