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Covid-19: reinfecção aumenta duas vezes o risco de morte

Indivíduos também são mais vulneráveis a problemas pulmonares, cardíacos e cerebrais, mostra estudo americano. O surgimento de novas variantes, como a BQ.1, pode fazer com que um número maior de pessoas fique nessa condição

Carmen Souza
postado em 11/11/2022 06:00
 (crédito: SEBASTIEN BOZON)
(crédito: SEBASTIEN BOZON)

Ter alta cobertura vacinal contra a covid-19 e baixa taxa de transmissão do Sars-CoV-2 fez com que boa parte do mundo entrasse em um novo estágio da pandemia, voltando praticamente à normalidade. Um estudo que acaba de ser divulgado na revista Nature Medicine, porém, alerta que é preciso seguir atento ao novo coronavírus. O patógeno continua sendo muito perigoso. E fatal. Ser infectado por ele mais de uma vez aumenta em duas vezes o risco de morte, mostra a pesquisa com dados de mais de 11 milhões de pessoas.

Uma maior possibilidade de hospitalização e de ter o funcionamento de órgãos vitais comprometidos, como pulmões e coração, também foi observada por cientistas da Universidade de Washington, em St. Louis, entre indivíduos infectados pelo vírus em mais de uma ocasião. "Nossa pesquisa mostrou que contrair uma infecção pela segunda, terceira ou quarta vez contribui para riscos adicionais à saúde na fase aguda, ou seja, nos primeiros 30 dias após a infecção, e nos meses seguintes, na longa fase da covid", informa, em nota, Ziyad Al-Aly, autor sênior do artigo.

O também epidemiologista clínico da universidade estadunidense ressalta que, nos últimos meses, cresceu um "ar de invencibilidade" entre as pessoas que tiveram covid-19 ou foram vacinadas, com uma expectativa de que não passariam por infecções graves. "Alguns começaram a se referir a esses indivíduos como tendo uma espécie de superimunidade ao vírus", diz. A pesquisa conduzida por Al-Aly e colegas mostram que a realidade não é bem assim.

Para isso, eles analisaram cerca de 5,8 milhões de registros médicos não identificados — de pacientes com idades, raças e sexos variados — em um banco de dados mantido pelo Departamento de Assuntos de Veteranos dos EUA. Também criaram um conjunto de dados controlado de 5,3 milhões de pessoas que não testaram positivo para infecção pelo coronavírus entre 1º de março de 2020 e 6 de abril de 2022. E compilaram um grupo de controle composto por mais de 443 mil pessoas que testaram positivo e outro de quase 41 mil que tiveram duas ou mais infecções documentadas no mesmo período.

A análise dos dados foi feita por meio de modelagem estatística, usada para examinar os riscos à saúde de infecções repetidas nos primeiros 30 dias após a contaminação e até seis meses depois. De forma geral, os pesquisadores descobriram que as pessoas com reinfecções pelo coronavírus apresentaram duas vezes mais risco de morrerem e três vezes mais risco de serem hospitalizadas, comparadas àquelas que não foram infectadas mais de uma vez.

Além disso, as infecções repetidas deixaram os indivíduos mais propensos a desenvolverem problemas pulmonares (3,5 vezes mais), cardíacos (três vezes mais), cerebrais (1,6 vez mais), comparados aos contaminados uma única vez. O contato excessivo com o Sars-CoV-2 também levou a um maior comprometimento dos sistemas musculoesqueléticos e gastrointestinais e contribuiu para o surgimento de diabetes, doenças renais e problemas de saúde mental.

Quanto menos, melhor

Os cientistas constaram, ainda, que a vulnerabilidade parece aumentar a cada novo contato com o coronavírus. "Isso significa que, mesmo que você tenha duas infecções, é melhor evitar uma terceira. E se você teve três infecções, é melhor evitar a quarta", sugere Al-Aly. A opinião é compartilhada pela infectologista Joana D'arc Gonçalves, do Centro Especializado em Doenças Infecciosas (Cedin). "Estamos diante de um vírus que tem driblado nosso sistema imunológico e com capacidade de se manter ativo mesmo com os anticorpos acumulados ao longo de algumas infecções", afirma.

A médica explica que, à medida que um vírus se espalha, infectando várias pessoas, ele sofre inúmeras modificações, na tentativa de uma adaptação e da propagação da espécie. "Essas alterações genéticas podem ser benéficas ou deletérias ao organismo humano e ao vírus. Em algumas circunstâncias, ocorre um aumento da capacidade de replicação do vírus com diminuição da virulência e a capacidade de produzir doença grave. Em outras, não."

Variantes diversas

Os pesquisadores estadunidenses avaliaram diferentes cepas do coronavírus, como a delta, a ômicron e BA.5. Boa parte dos infectados tinha contraído o vírus duas ou três vezes. Considerando o cenário brasileiro, o registro de casos com variantes que podem ser mais contagiosas, como a recente BQ.1, e características específicas do período atual — de aumento de doenças respiratórias e celebrações — deixam, na avaliação de Joana D'arc, o período mais delicado. "Geralmente, permanecemos em ambientes com pouca ventilação, mais fechados, sem falar nas festas que gostamos de celebrar, como a copa, o Natal, o ano-novo, além das férias. Tudo isso somado a dificuldade na compra e na operacionalização das vacinas contra covid nos leva a refletir se podemos voltar a perder para a doença", diz.

Segundo a infectologista, a retomada de medidas preventivas e o cumprimento das orientações dos órgãos de saúde ajudarão a reduzir os riscos de adoecimento. O conselho é repetido por Al-Aly. "As pessoas devem fazer o possível para evitar infecções repetidas, recebendo todos os reforços elegíveis e ficando em casa quando estiverem doentes", indica.

O pesquisador também indica que os resultados devem ser considerados pelas autoridades públicas. "Nossas descobertas têm amplas implicações para a saúde pública, pois nos dizem que devem ser implementadas estratégias para prevenir ou reduzir o risco de reinfecção", justifica.

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