"Os benefícios da droga precisam ser equilibrados com os efeitos colaterais", diz Bart De Strooper, líder do grupo de pesquisa de demência da Universidade College London, na Inglaterra. Dezessete por cento dos participantes que estavam no grupo dos que receberam o lecanemab tiveram hemorragias cerebrais, e 13% apresentaram inchaço no órgão. Essas condições, chamadas Aria (sigla, em inglês, de amyloid-related imaging abnormalities) foram vistas em outras drogas experimentais para Alzheimer baseadas em anticorpos. Sete por cento dos voluntários abandonaram o estudo devido aos efeitos colaterais.
"Aria é um efeito colateral conhecido que envolve sangramento ou acúmulo de líquido no cérebro. Pode variar de leve e insignificante a bastante grave", diz De Strooper." O estudo relata que o número de mortes nos grupos tratados com placebo e lecanemab é semelhante, ou seja, seis e sete, respectivamente. Novos estudos serão capazes de identificar os pacientes em risco e aqueles que irão se beneficiar ao máximo com o tratamento."
"Opção real"
O especialista, porém, considera que, de forma geral, o resultado do estudo foi positivo. "Este é o primeiro medicamento que oferece uma opção real de tratamento para pessoas com Alzheimer. Embora os benefícios clínicos pareçam um tanto limitados, pode-se esperar que eles se tornem mais aparentes se o medicamento for administrado por um período de tempo mais longo."
Em nota, a Fundação para Descobertas de Drogas para Alzheimer, uma organização não-governamental sediada nos Estados Unidos, disse que "os resultados são uma boa notícia para milhões de pacientes e famílias que vivem com a doença". "Mas isso é apenas um começo, temos muito caminho para superar a redução (de declínio cognitivo) de 27% do lecanemab", escreveu o neurocientista Howard Filit, diretor científico da ONG. Ele lembrou que drogas que visam a eliminação da amiloide são parte da solução, "mas ainda há uma necessidade premente de desenvolver uma nova geração de drogas visando todos os aspectos da biologia do envelhecimento que possam ser combinadas para abordar toda a gama de patologias subjacentes que contribuem para a doença". Um relatório recente da fundação indicou que 75% das substâncias em ensaios clínicos para Alzheimer têm outros alvos, além da beta-amiloide e da tau. (PO)
