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Entenda importância do diagnóstico de autismo em adultos, como da ex-BBB Morango

A ex-BBB Angélica Morango revelou recentemente que foi diagnosticada com o Transtorno do Espectro Autista. Ela se enquadra no nível 1 de suporte. Entenda:

A discussão a respeito do Transtorno do Espectro Autista (TEA) está ganhando cada vez mais espaço no debate público. Apesar de ser mais comum ouvir falar sobre o transtorna em crianças, o autismo é uma condição para a vida inteira. Por isso, muitas pessoas que não foram diagnosticadas quando pequenas, podem descobrir serem autistas quando adultas. Este foi o caso da ex-BBB Angélica Morango. A DJ revelou que foi diagnosticada com o transtorno, na terça-feira (6/12). A informação foi compartilhada por ela no Instagram, seis meses após ficar inativa na rede social.

Receber o diagnóstico, mesmo que tardio, e compreender como o TEA funciona em sua vida é fundamental para o autoconhecimento, desenvolvimento da independência, das relações sociais e, consequentemente, a qualidade de vida e inclusão social das pessoas autistas.

A médica neurologista e doutora em neurociências pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Ingrid Faber, afirma que o diagnóstico na vida adulta é bastante desafiador e, em geral, requer uma avaliação multidisciplinar, com diversos profissionais como neurologista, psiquiatra e psicólogo.

Em adultos diagnosticados tardiamente, costuma haver um padrão comportamental. Geralmente são pessoas que manifestam os sintomas de forma mais leve, tidas apenas como tímidas ou com dificuldades sociais típicas, o que atrasa o diagnóstico.

É o caso da DJ Angélica Martins, mais conhecida como Morango desde sua participação na 10ª edição do Big Brother Brasil (BBB). Em um vídeo publicado no aplicativo, ela explicou que se ausentou da internet por insatisfação com o algoritmo do Instagram e a forma como as pessoas utilizam a rede. Ela afirmou, no entanto, que não pretendia ficar tanto tempo ausente, mas, nesse tempo, buscou ajuda psicológica e recebeu o diagnóstico.

"Em agosto eu busquei um acompanhamento com um psicólogo especializado em pessoas com Transtorno do Espectro Autista e TDAH. Ele descartou o TDAH, mas me diagnosticou como autista, um diagnóstico de mais de 20 páginas", contou a jornalista.

Confira o relato de Angélica:

Segundo Ingrid Faber, o TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento. “Esse transtorno é um espectro com diversas características possíveis, sendo que cada pessoa vai apresentar uma combinação variada dessas características. Ou seja, não existe nenhum autista igual a outro. É comum que haja um histórico atraso de fala e/ou de atrasos motores, mas isto não é uma condição para o diagnóstico”, diz a neurologista.

Algumas características do autismo que muitas vezes estão presentes na vida adulta são:

  • Perceber estímulos sensoriais (barulhos, imagens, tecidos de roupas) de maneira mais acentuada ou diferente da maioria das pessoas, podendo gerar distrações ou incômodo acima do esperado;
  • Perceber a interação com pessoas como algo desafiador, incômodo ou que provoca ansiedade. Dificuldade de ler nas entrelinhas, levar as coisas no sentido literal, dificuldade de interpretar sarcasmos, tom de voz, piadas ou metáforas;
  • Tendência a comportamentos rígidos ou ritualizados, que significa dizer que a pessoa se sente impelida a levantar da cama sempre na mesma posição, escovar os dentes seguindo uma mesma ordem, sempre tomar banho em uma mesma sequência.

“Esses e outros comportamentos característicos do TEA podem prejudicar a vida da pessoa no trabalho, em momentos de lazer e com a família. Apesar de haver muito ainda a se evoluir em relação às terapias para autismo em adultos, quando nós comparamos ao que existe para crianças, o diagnóstico oferece muitos benefícios, dentre eles, técnicas da psicologia para treino de habilidades sociais além de uma maior aceitação das diferenças e potencialidades por parte do indivíduo e de sua rede de apoio, tornando o ambiente mais adaptado às suas necessidades” explica a médica.

Níveis de suporte

Angélica Morango revelou ainda que se encontra dentro do nível um de suporte. "Existem três níveis de autismo, que as pessoas também conheciam como leve, moderado e severo. Ser autista nível 1 de suporte [diagnóstico de Angélica] significa que preciso de menos suporte de quem é nível 2 ou 3, mas eu tenho as minhas questões e perante a lei sou reconhecida como uma pessoa com deficiência, uma PCD", especificou ela na sequência.

A ex-BBB ainda revelou que o diagnóstico fez com que ela entendesse muito sobre si. "Foi muito louco. Quando eu fui diagnosticada pelo psicólogo foi um baque. Eu chorei. Foi um choro ao mesmo tempo de medo, do que significava ser uma pessoa diagnosticada como autista. E ao mesmo tempo foi muito catártico, me trouxe um alívio muito grande porque eu entendi que muita coisa de como eu funciono, como lido com as pessoas, tem um motivo. Não é uma questão de personalidade", concluiu. 

Conforme a neurologista Ingrid Faber, por se tratar de um espectro, cada pessoa autista possui características diferentes e são vários os sinais que podem contribuir para o diagnóstico. No entanto, há uma classificação com o objetivo de orientar sobe as intervenções, de acordo com as necessidades de cada pessoa.

Essa classificação, porém, é bastante questionada pela própria comunidade autista, uma vez que, por se tratar de um espectro, é difícil “classificar em níveis” cada manifestação do transtorno. A comunidade médica e terapeuta, no entanto, utiliza essa classificação para definir o nível de apoio demandado por cada autista. São três níveis de suporte, sendo eles, resumidamente:

Nível 1: antigo autismo “leve”, consiste em dificuldades para a interação social, porém de forma mais sutil, além de dificuldade para troca de atividades e problemas de organização, também de forma leve. Exige menor necessidade de apoio no dia a dia. Porém, possui diversos desafios, especialmente sensoriais;

Nível 2: a dificuldade para socialização é maior. Pouco ou nenhum contato visual e resistência ao toque. Há também uma resistência a lidar com mudanças, além de comportamentos repetitivos. Popularmente conhecido como autismo “moderado”, nesse nível a pessoa precisa de um pouco mais de apoio em sua rotina

Nível 3: antes conhecido como autismo “severo”, há um maior déficit de comunicação verbal e não verbal. A pessoa também possui grande dificuldade com as interações sociais, muita dificuldade em mudanças e comportamentos repetitivos constantes. Exige muito apoio para as atividades do cotidiano.

Como é feito o diagnóstico

De acordo com a médica neurologista Ingrid Faber, o diagnóstico na vida adulta é bastante desafiador e, em geral, requer uma avaliação multidisciplinar, com diversos profissionais como neurologista, psiquiatra e psicólogo, dentre outros.

A avaliação é clínica, ou seja, não existem exames para que o diagnóstico seja fechado. No entanto, os profissionais podem pedir exames para descartar outras possibilidades, como doenças neurometabólicas. Exames genéticos também podem ser solicitados.

Após o laudo, a pessoa autista pode ser encaminhada para terapias com alguns profissionais, como terapeuta ocupacional, psicólogo, fonoaudiólogo, nutricionista, dentre outros. Esses profissionais vão ajudar a pessoa com autismo e a família a entender as características do TEA e a lidar com elas no dia a dia, para que o paciente tenha mais qualidade de vida e inclusão social

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