UNIVERSO

Descobertas do James Webb revelam um novo mundo para os humanos

Supertelescópio espacial encontra, pela primeira vez, um planeta fora do Sistema Solar, impossível de ser detectado por outros instrumentos. Nasa também anuncia a descoberta, em zona habitável, de um corpo celeste do tamanho da Terra

Paloma Oliveto
postado em 13/01/2023 06:00
 (crédito:  NASA, ESA, CSA, L. Hustak (STScI)
(crédito: NASA, ESA, CSA, L. Hustak (STScI)

Um ano após chegar a seu destino, o telescópio espacial James Webb detectou, pela primeira vez, um exoplaneta — planeta que orbita uma estrela —, uma de suas missões mais aguardadas por astrônomos. O corpo celeste rochoso, LHS 475b, está a 41 anos-luz daqui, tem quase o mesmo tamanho da Terra, mas, dificilmente, abrigaria algum tipo de vida: a temperatura local, revelou o equipamento, ultrapassa centenas de graus Celsius.

Dados do mapeamento Transiting Exoplanet Survey Satellite (Tess) da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) sugeriam a existência do planeta, localizado na constelação de Octans. Mas somente um telescópio com a precisão sem precedentes do James Webb poderia confirmar o palpite. A descoberta do LHS 475b foi anunciada na 241ª reunião da Sociedade Astronômica Norte-Americana, em Seattle.

Liderada pelos astrônomos Kevin Stevenson e Jacob Lustig-Yager, da Universidade de Johns Hopkins, a equipe usou dados coletados pelo supertelescópio para observar o trânsito do planeta em três ocasiões. Quando esse corpo celeste passa por sua estrela, a luz emitida por ela fica mais fraca, o que foi capturado pelo James Webb, confirmando a existência do LHS 475b. "Não há dúvidas de que o planeta está lá", disse, em nota, Lustig-Yager.

O James Webb é o único telescópio capaz de caracterizar as atmosferas de exoplanetas do tamanho da Terra. Os cientistas usaram o equipamento para analisar o novo planeta em vários comprimentos de onda de luz, para ver se ele tinha uma atmosfera. Por enquanto, não foi possível tirar conclusões definitivas, mas o instrumento captou uma série de moléculas, indicando que essa é uma possibilidade.

"Esse planeta pode ser, muito bem, um corpo sem ar que perdeu a atmosfera existente um dia", explicou Kevin Stevenson, em uma coletiva de imprensa transmitida on-line. "Mas ele também pode ter uma atmosfera compacta ou muito fina, o que ainda não pudemos captar."

Nova análise

Os astrônomos terão uma nova oportunidade, em meados do ano, de observar um trânsito do LHS 475b e esperam poder elucidar questões ainda abertas. Os dados, por enquanto, sugerem que, se há uma atmosfera, ela não tem nenhuma semelhança com a terrestre e tampouco é espessa, o que já descarta, por exemplo, a presença de metano, como acontece em Titã, a lua de Saturno. Uma aposta é que a composição seja mais parecida com a de Vênus, com dióxido de carbono.

O LHS 475b completa uma única órbita em torno de sua estrela anã vermelha a cada dois dias terrestres. Como a hospedeira tem menos da metade da temperatura do Sol, é possível que o planeta ainda mantenha uma atmosfera, apesar de sua proximidade com a estrela, explicou Stevenson. "Estamos na vanguarda do estudo de exoplanetas pequenos e rochosos", disse Lustig-Yaeger. "Nós mal começamos a descobrir como suas atmosferas podem ser."

Em nota, o diretor da Divisão de Astrofísica da Nasa, Mark Clampin, destacou a importância da descoberta: "Esses primeiros resultados observacionais de um planeta rochoso do tamanho da Terra abrem as portas para muitas possibilidades futuras para, com o James Webb, estudar atmosferas de planetas rochosos. O telescópio está nos aproximando cada vez mais de uma nova compreensão de mundos semelhantes à Terra fora do Sistema Solar, e a missão está apenas começando."

Cobertura do Correio Braziliense

Quer ficar por dentro sobre as principais notícias do Brasil e do mundo? Siga o Correio Braziliense nas redes sociais. Estamos no Twitter, no Facebook, no Instagram, no TikTok e no YouTube. Acompanhe!

Newsletter

Assine a newsletter do Correio Braziliense. E fique bem informado sobre as principais notícias do dia, no começo da manhã. Clique aqui.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Vida em potencial

 (crédito: NASA/JPL-Caltech/Robert Hurt)
crédito: NASA/JPL-Caltech/Robert Hurt

O LHS 475b não foi o único exoplaneta cuja descoberta foi anunciada na reunião da Sociedade Astronômica Norte-Americana. No início da semana, a Nasa informou, no evento, a existência de um mundo do tamanho da Terra, o TOI 700, que orbita sua estrela em uma zona habitável, ou seja, a uma distância que permitiria a existência de água líquida na superfície, um pré-requisito para a existência da vida como conhecemos. Com o tamanho 95% semelhante ao terrestre, o corpo celeste é, provavelmente, rochoso.

O TOI 700e foi detectado com dados do Tess e junta-se a outros quatro planetas no mesmo sistema solar. "Ele recebe um fluxo de energia que corresponde a 1,3 vez a insolação da Terra — então, está em uma zona onde a água líquida pode existir, sob condições adequadas", explicou, em uma coletiva de imprensa on-line, Emily Gilbert, pós-doutoranda do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, que liderou a descoberta.

A estrela desse sistema solar, a 100 anos-luz da Terra, na constelação de Dorado, abriga pelo menos outros quatro planetas, detectados anteriormente. Um deles, o TOI 700d, também está na zona habitável e tem o tamanho da Terra. O TOI 700e leva 28 dias para dar a volta na hospedeira, disse Gilbert.

Lançada em 2018, a missão Tess monitora grandes áreas do céu, chamadas setores, ao longo de 27 dias, cada um. Dessa forma, o satélite consegue rastrear mudanças no brilho estelar, causadas pelo trânsito de um planeta. "Estamos ansiosos pelas outras descobertas emocionantes escondidas no tesouro de dados da missão", comentou, em nota, Allison Youngblood, astrofísica, pesquisadora e vice-cientista do projeto na Nasa. (PO)

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

CONTINUE LENDO SOBRE