Mudanças climáticas

Aquecimento na temperatura na Groenlândia é maior do que o imaginado

Para taxas de emissões globais não mitigadas (chamadas de "business as usual" no jargão climático), a camada de gelo deverá contribuir com até 50cm para o nível médio do mar global até 2100

Paloma Oliveto
postado em 20/01/2023 06:00
 (crédito: JONATHAN NACKSTRAND)
(crédito: JONATHAN NACKSTRAND)

Uma reconstrução de temperatura a partir de núcleos de gelo do último milênio revela que o aquecimento atual no centro-norte da Groenlândia é muito mais acentuado do que se imaginava. A década mais recente pesquisada em um estudo publicado na revista Nature — 2001 a 2011 — foi a mais quente em 1 mil anos, e a região está, agora, 1,5°C acima do registrado no século 20.

Segundo os autores, do Instituto Alfred Wegener, na Alemanha, a camada gelada da Groenlândia desempenha um papel fundamental no sistema climático global. Com enormes quantidades de água armazenadas no gelo (cerca de 3 milhões de quilômetros cúbicos), o derretimento e o consequente aumento do nível do mar são considerados um potencial ponto de inflexão — quando não há mais retorno.

Para taxas de emissões globais não mitigadas (chamadas de "business as usual" no jargão climático), a camada de gelo deverá contribuir com até 50cm para o nível médio do mar global até 2100. "As estações meteorológicas ao longo da costa registram temperaturas crescentes há muitos anos. Mas a influência do aquecimento nas partes elevadas de até 3 mil metros da camada de gelo permaneceu incerta devido à falta de observações de longo prazo", disseram os pesquisadores.

Interior

Além da temperatura, a equipe reconstruiu a produção de derretimento da camada de gelo. O fenômeno aumentou de forma significativa desde os anos 2000 e, agora, contribui intensamente para o aumento global do nível do mar. "Ficamos surpresos ao ver como as temperaturas no interior estão intimamente ligadas à drenagem de água derretida em toda a Groenlândia, que, afinal, ocorre em áreas de baixa altitude ao longo da borda da camada de gelo perto da costa", disse, em nota, Maria Hörhold, principal autora do estudo.

"Associado ao aumento das temperaturas documentado no artigo, muitas geleiras enormes na Groenlândia aceleraram drasticamente seu fluxo para o mar, diminuíram e recuaram, especialmente nas últimas duas décadas, quando foi relatado um aumento da temperatura", comenta Jeffrey S. Kargel, do Instituto de Ciências Planetárias de Tucson, nos Estados Unidos, que não participou do estudo. "Os novos resultados reforçam que a mudança climática global causada pelo homem é amplificada no Ártico em relação ao resto do planeta, e que o aquecimento teve grandes consequências para o aumento do nível do mar e distúrbios da circulação oceânica."

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