SAÚDE

Vitamina D reduz risco de diabetes em 15%, mostra estudo

A associação é observada após a suplementação do composto em adultos com pré-diabetes. Especialistas alertam que a abordagem deve ser acompanhada, havendo, inclusive, a possibilidade de insuficiência renal devido a superdosagens

Fernanda Fonseca*
postado em 18/02/2023 06:00
 (crédito: Reprodução/Freepik)
(crédito: Reprodução/Freepik)

Absorvida a partir da ingestão de alimentos e dos raios ultravioleta da luz solar, a vitamina D desempenha diversas funções em processos bioquímicos fundamentais para o corpo humano, incluindo facilitar a secreção de insulina e o metabolismo da glicose. Um estudo publicado na revista Annals of Internal Medicine sinaliza outro benefício metabólico — desta vez, protetivo. A suplementação do composto pode estar relacionada a uma redução no risco de desenvolvimento do diabetes tipo 2 entre pré-diabéticos.

Para chegar à conclusão, pesquisadores do Hospital Tufts Medical Center, em Boston, nos Estados Unidos, acompanharam voluntários com ao menos 18 anos e pré-diabetes durante três anos. A equipe avaliou a ingestão da vitamina D oral em qualquer formulação, como o ergocalciferol (vitamina D2) e o colecalciferol (vitamina D3), além de um grupo controle, que recebeu placebo.

Durante o período da pesquisa, o diabetes foi diagnosticado em 22,7% dos adultos que receberam vitamina D e em 25% daqueles que receberam placebo, o que, segundo os autores, representa uma redução relativa de 15% no risco de desenvolvimento da doença metabólica. Também observou-se que os participantes designados com a vitamina D demonstraram ser 30% mais propensos a terem regressão à taxa normal da glicose no sangue do que o grupo controle.

Na avaliação dos autores, os resultados são relevantes. "Embora o grau de redução relativa no risco de diabetes com vitamina D seja pequeno, de 15%, em comparação com outras estratégias de prevenção de diabetes, extrapolando para os mais de 374 milhões de adultos em todo o mundo que têm pré-diabetes, os dados sugerem que a suplementação barata pode retardar o desenvolvimento de diabetes em mais de 10 milhões de pessoas", justificam, no artigo.

Anti-inflamatória

Embora seja denominada dessa forma, a vitamina D é um hormônio produzido nos tecidos da pele após a exposição solar e que também pode ser obtida pela ingestão de alimentos específicos ou por suplementação. "Esse composto tem uma ação anti-inflamatória. Por conta dessa capacidade, diminui o estresse oxidativo, e a pessoa tende a ter menos problemas de saúde", explica Fernando Alves, médico endocrinologista do Hospital Santa Lúcia. "A vitamina D tende, inclusive, a melhorar um pouco a resistência à insulina que começa a ser desenvolvida no quadro de diabetes", completa.

Os especialistas afirmam que, de acordo com os estudos recentes, acredita-se que a vitamina D tenha efeitos diretos e indiretos em vários mecanismos relacionados à fisiopatologia do diabetes tipo 2, mas que deve haver cautela na conclusão de que a deficiência desse composto aumenta o risco da doença.

"O status de vitamina D é um excelente marcador de boa saúde, incluindo associações positivas com idade jovem, peso corporal normal e estilo de vida saudável", diz Cristiane Moulin, endocrinologista e doutora em ciências médicas pela Universidade de São Paulo (USP). "Mas pode ser que nem todos os fatores sabidamente envolvidos na gênese do diabetes tipo 2 foram totalmente controlados (na pesquisa de Boston). A influência da dieta, preferências alimentares e níveis de atividade física, por exemplo, são fatores importantes, que podem influenciar nos resultados."

Cuidados

Fernando Alves reforça a importância dos cuidados ao se iniciar uma suplementação. "A gente não simplesmente suplementa a vitamina D porque a pessoa está com diabetes. Mas esse paciente, provavelmente, tem muito risco de já estar com a deficiência dessa vitamina", afirma. "São necessários estudos maiores para a gente conseguir definir essa relação. Mas um paciente tem que ser visto como um todo. Então, se a gente está vendo que ele tem obesidade, diabetes, pressão alta e deficiência de vitamina D, muitas vezes, está tudo correlacionado."

Mariana Melendez, nutricionista da Clínica SIM (Saúde Integrada Multidisciplinar), em Brasília, e doutora em nutrição humana, alerta também para os efeitos adversos causados pela alta ingestão do composto. "Não é uma vitamina que podemos tomar em dosagens superaltas porque existe, sim, uma implicação tóxica, principalmente na questão renal. A pessoa pode desenvolver prejuízos renais sérios, que podem fazer com que ela entre em um quadro de insuficiência renal", enfatiza. "Nosso organismo tem que ter um equilíbrio entre vários nutrientes, não só a ingestão de vitamina D."

*Estagiária sob a supervisão de Carmen Souza

 

Notícias no seu celular

O formato de distribuição de notícias do Correio Braziliense pelo celular mudou. A partir de agora, as notícias chegarão diretamente pelo formato Comunidades, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp. Assim, o internauta pode ter, na palma da mão, matérias verificadas e com credibilidade. Para passar a receber as notícias do Correio, clique no link abaixo e entre na comunidade:

 

 

Apenas os administradores do grupo poderão mandar mensagens e saber quem são os integrantes da comunidade. Dessa forma, evitamos qualquer tipo de interação indevida.

Cobertura do Correio Braziliense

Quer ficar por dentro sobre as principais notícias do Brasil e do mundo? Siga o Correio Braziliense nas redes sociais. Estamos no Twitter, no Facebook, no Instagram, no TikTok e no YouTube. Acompanhe!

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Fase estratégica

 (crédito: Acervo Pessoal )
crédito: Acervo Pessoal

"O diabetes tipo 2 aparece quando o corpo não consegue usar de forma adequada a insulina que produz e, com o tempo, passa também a produzir insulina de forma menos eficiente para controlar a taxa de glicemia no sangue. Mais de 90% das pessoas com diabetes têm o tipo 2. É importante destacar que metade dos pacientes nesse estágio 'pré' vão desenvolver a doença. O pré-diabetes é especialmente importante por ser a única etapa que ainda pode ser revertida ou mesmo que permite retardar a evolução para o diabetes e suas complicações."

Cristiane Moulin, endocrinologista e doutora em Ciências Médicas pela Universidade de São Paulo (USP)

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

CONTINUE LENDO SOBRE