Mudanças climáticas

Mamíferos da Amazônia são ameaçados por "savanização" da floresta

Mesmo os animais que usam habitats de floresta e savana, como pumas e tatus gigantes, são vulneráveis a essas mudanças

Correio Braziliense
postado em 16/02/2023 06:00
 (crédito: Daniel Rocha/UC Davis/Divulgação )
(crédito: Daniel Rocha/UC Davis/Divulgação )

De onças e jaguatiricas a tamanduás e capivaras, a maioria dos mamíferos terrestres que vivem na Amazônia brasileira está ameaçada pelas mudanças climáticas e pela projetada savanização da região. O alerta é de um estudo publicado na revista Animal Conservation pelo pesquisador Daniel Rocha, da Universidade da Califórnia, Davis, nos Estados Unidos.

O estudo, que, entre outros, foi financiado pelo Ministério da Educação brasileiro, constatou que mesmo os animais que usam habitats de floresta e savana, como pumas e tatus gigantes, são vulneráveis a essas mudanças. Também ilustra como espécies e terras protegidas por meio de esforços locais de conservação não são imunes às mudanças climáticas globais.

"Estamos perdendo a Floresta Amazônica enquanto falamos", disse Rocha, que conduziu a pesquisa como aluno de doutorado no Departamento de Vida Selvagem, Peixes e Biologia da Conservação da UC Davis. "A biodiversidade da Amazônia é muito suscetível aos efeitos das mudanças climáticas. Não é apenas local, é um fenômeno global. Não podemos impedir isso apenas pela aplicação da lei, por exemplo. Essas espécies são mais suscetíveis do que imaginávamos, e mesmo as áreas protegidas não podem protegê-las tanto quanto pensávamos."

A savana intocada é um bioma único que suporta uma gama diversificada de vida. Mas a savanização no contexto do estudo se refere a quando a exuberante floresta tropical dá lugar a uma paisagem mais seca e aberta que se assemelha à savana, mas, na verdade, é um bioma degradado. O desmatamento local e as mudanças climáticas globais na temperatura e na precipitação favorecem essa conversão ao longo das bordas sul e leste da Amazônia brasileira.

Espécies arbóreas, como macacos, serão claramente afetadas por tais mudanças. Mas os autores do estudo queriam entender melhor como se espera que os mamíferos terrestres se saiam — especialmente aqueles que usam habitats de floresta e savana quando têm acesso a ambos.

Para o estudo, que teve apoio logístico do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), os pesquisadores realizaram pesquisas com armadilhas fotográficas de mamíferos terrestres em quatro áreas protegidas do sul da Amazônia brasileira, que é uma mistura de floresta tropical e Cerrado natural. Usando modelos estatísticos, eles quantificaram como 31 espécies foram afetadas pelo habitat de savana.

Os cientistas, então, procuraram diferenças entre as espécies conhecidas por usar principalmente floresta tropical, savana ou ambos os habitats. Os resultados mostraram que apenas algumas preferem o habitat mais árido. Rocha observa que os modelos foram baseados em savana intocada, não degradada. Então, os efeitos negativos da savanização entre os animais provavelmente serão ainda mais fortes.

"Infelizmente, há mais perdedores do que vencedores", disse Rocha, que atualmente é professor assistente na Southern Nazarene University, em Oklahoma. "A maioria das espécies amazônicas, quando pode escolher entre boas florestas e boas savanas, escolhe a floresta. Isso é verdade mesmo para espécies consideradas 'generalistas', que usam ambos os habitats. À medida que perdemos florestas, elas também sofrem."

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