UNIVERSO

Lixo espacial na órbita da Terra é bomba-relógio, dizem cientistas

Pesquisadores de diversas áreas se uniram em um movimento que pede um acordo global de responsabilidade para eliminar os detritos que se acumulam ao redor do planeta

Talita de Souza
postado em 10/03/2023 18:07 / atualizado em 10/03/2023 18:07
Em 2015, o astrônomo Stuart Grey, da University College London, fez uma ilustração com a quantidade de detritos espaciais na órbita da Terra -  (crédito: Stuart Grey/University College London)
Em 2015, o astrônomo Stuart Grey, da University College London, fez uma ilustração com a quantidade de detritos espaciais na órbita da Terra - (crédito: Stuart Grey/University College London)

Cientistas de todo o mundo se uniram em um manifesto que pede um tratado jurídico global para combater o acúmulo de lixo espacial na órbita da Terra, considerado por eles como uma bomba-relógio para a humanidade devido à expansão da indústria espacial. O documento foi lançado na quinta-feira (9/3) e publicado na revista Science.

A preocupação da comunidade científica não é nova, mas se intensificou nos últimos anos após a identificação de uma escala crescente de satélites enviados para a órbita do planeta: de 2 mil em 2018, o número saltou para 9 mil satélites (em 2023) — e estima-se que chegará a 60 mil até 2030.

A predição revela um problema grave, já que são os satélites — e as naves que os levam à órbita — que causam o maior montante de lixo espacial, seja por partes dele deixados para trás quando são lançados ou por aqueles que já foram desativados e abandonados ao redor do planeta. O cenário se agrava com a estimativa dos cientistas de que existem mais de 100 trilhões de peças de satélites antigos não rastreadas que circulam em volta da Terra.

Em 2016, o astronauta Tim Peake, da Agência Espacial Europeia (ESA), compartilhou a foto de um trincado em uma das janelas da Estação Espacial Internacional, causada por um detrito espacial.

No caso da grande nave, o objeto não causou estragos porque o local é revertido com janelas multicamadas, mas revelou o perigo do lixo espacial. Mesmo que sejam menores que três centímetros, os detritos podem causar estragos e desativar sistemas de satélite.

Os satélites são essenciais para a Terra porque são responsáveis pela distribuição de sinais de telefonia, internet e televisão (satélite de comunicação); por viabilizar o GPS (satélites de navegação); por monitorar o tempo e o clima da Terra, sendo capazes de dar alertas de tempestades, ciclones, furacões e queimadas; e por monitorar o território da Terra por completo.

Assim, o lixo espacial pode causar danos em serviços essenciais aos humanos disponibilizados por satélites já existentes, além de criar um ambiente inóspito para o lançamento de novos e necessários satélites.

Lixo espacial também traz riscos físicos para seres humanos

Os detritos espaciais não são um problema apenas de caráter espacial: os cientistas alertam sobre o risco dos detritos entrarem na atmosfera da Terra e caírem em diferentes locais do planeta, causando níveis diferentes de destruição.

Os riscos promovidos pelo lixo espacial podem ser tão prejudiciais que é comparado, pelos cientistas, com a população dos mares, urgência ambiental que coloca em risco a Terra e os seres humanos.

“A questão da poluição plástica e muitos outros desafios enfrentados por nossos oceanos agora estão atraindo a atenção global. No entanto, tem havido uma ação colaborativa limitada e a implementação tem sido lenta. Agora estamos em uma situação semelhante com o acúmulo de detritos espaciais”, compara Imogen Napper, cientista marítima e pesquisadora da Universidade de Plymouth que liderou o manifesto com apoio da National Geographical Society.

“Levando em consideração o que aprendemos em alto mar, podemos evitar cometer os mesmos erros e trabalhar coletivamente para evitar uma tragédia dos comuns no espaço. Sem um acordo global, poderíamos nos encontrar em um caminho semelhante”, alerta a especialista.

O chefe da Unidade Internacional de Pesquisa de Lixo Marinho da Universidade de Plymouth Richard Thompson ressalta que a poluição marítima poderia ter sido evitada e o esforço dele e dos colegas é mostrar ser possível o combate ao lixo espacial, desde que haja proatividade.

“No futuro, precisamos assumir uma postura muito mais proativa para ajudar a proteger o futuro do nosso planeta. Há muito que pode ser aprendido com os erros cometidos em nossos oceanos que são relevantes para o acúmulo de detritos no espaço”, relata Richard.

O grupo de pesquisadores propõe um acordo no qual sejam definidas medidas para implementar a responsabilidade do produtor de naves e satélites espaciais, assim como também os compradores deles — uma das ideias é ampliar o uso de materiais sustentáveis nas máquinas para que se desintegrem e não perpetuem no Universo. O mesmo tem sido visto nos acordos de colaboração de combate à poluição marítima.

"Os satélites são vitais para a saúde de nosso povo, economias, segurança e da própria Terra. No entanto, usar o espaço para beneficiar as pessoas e o planeta está em risco. Ao comparar como tratamos nossos mares, podemos ser proativos antes de prejudicar o uso do espaço para as gerações futura”, alega Melissa Quinn, chefe da empresa britânica de lançamento de satélites Spaceport Cornwall

A empresária ressalta que os líderes de empresas e de governos ao redor do mundo se juntem à responsabilidade do combate ao lixo espacial. “A humanidade precisa assumir a responsabilidade por nossos comportamentos no espaço agora, não mais tarde. Encorajo todos os líderes a tomarem nota, reconhecerem a importância deste próximo passo e se tornarem conjuntamente responsáveis”, acrescenta Melissa.

O manifesto, publicado em formato de artigo, foi co-escrito por cientistas pesquisadores da Universidade de Plymouth, da Iniciativa Arribada, da Universidade do Texas em Austin, do do Instituto de Tecnologia da Califórnia, do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, Spaceport Cornwall e da Sociedade Zoológica de Londres.

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