Um grupo de pesquisadores descobriram que uma dose do antibiótico doxiciclina, usado para prevenir a malária e tratar acne e rosácea, reduz drasticamente o risco de contrair infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) se tomado em até 72 horas após o sexo desprotegido. De acordo com o estudo, o tratamento é mais eficaz para prevenir clamídia e sífilis e, em menor eficácia, a gonorreia.
A análise foi conduzida por pesquisadores da Université Paris Cité, da França, que reuniram dados de grupos de teste com homens e mulheres cisgêneros e transgêneros e descobriram que o antibiótico é altamente eficaz em homens e mulheres trans que fazem sexo com homens.
O antibiótico, no entanto, não mostrou benefício em mulheres cisgênero — identidade de gênero correspondente ao sexo atribuído no nascimento. Os resultados foram apresentados no fim de fevereiro na Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas, em Seattle, nos Estados Unidos.
Os responsáveis pelo estudo ressaltam que o preservativo é a melhor prevenção para as ISTs, mas que nem sempre estão disponíveis e é preciso preencher a lacuna de tratamento para reduzir o risco, como a pílula do dia seguinte reduz o risco de contracepção quando ocorre o sexo sem proteção.
Para a análise, o professor de doenças infecciosas da Université Paris Cité Jean-Michel Molina, líder do estudo, testou a doxiciclina em 232 homens que fazem sexo com homens. Aqueles que tomaram doxiciclina após o sexo desprotegido tiveram 84% menos probabilidade de contrair clamídia ou sifílis e 50% menos de ser infectado por gonorreia, se comparado com os participantes que não foram tratados pelo antibiótico.
O novo estudo mostra a eficácia do medicamento com apenas uma dose, mas outras análises já haviam verificado a relevância da doxiciclina na prevenção das ISTs. Em 2017, um grupo de estudo exclusivo de homens que fazem sexo com homens utilizou duas pílulas dentro de três dias para reduzir o risco de ISTs, o que foi comprovado, principalmente por clamídia, sífilis e gonorréia. Em 2022, um novo estudo reforçou o resultado e mostrou que a incidência de sífilis e clamídia reduziu mais de 80% dos participantes.
“Decepção”: medicamento não traz eficácia para mulheres cis
Em outro braço do estudo, a médica de doenças infecciosas da Hennepin Healthcare e da Universidade de Minnesota Jenell Stewart conduziu um grupo de análise para verificar a eficácia do medicamento em mulheres cisgênero. O resultado, de acordo com ela, foi “uma grande decepção”.
Fizeram parte do estudo 449 mulheres jovens do Quênia que já faziam parte de um estudo de prevenção de HIV. Elas tomaram a doxiciclina e foram testadas a cada três meses, mas não houve relevância no tratamento: o número de infecções entre as participantes que tomaram o antibiótico era similar ao daquelas que não tomaram o medicamento.
O objetivo do grupo, agora, é descobrir porque o remédio não fez efeito em mulheres cis. Uma das hipóteses é de que a droga pode ser metabolizada de forma diferente nessa parte da população. Outra é de que o problema ocorreu devido à nacionalidade do grupo: no Quênia há alta prevalência de bactérias resistentes a antibióticos.
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