Quando bem planejada, a atividade de reflorestamento pode ser mais benéfica para os agricultores do que o plantio de forma tradicional, mostra um estudo publicado na última edição da PLoS Biology. Uma equipe da Universidade de Queensland, na Austrália, acompanhou o efeito da restauração de cenários naturais em cafeiculturas e constatou que a rentabilidade da produção pode aumentar cerca de 90%.
O grupo, liderado por Sofía López-Cubillos, acompanhou plantações na Costa Rica. A conclusão foi que, em 40 anos, o lucro dos produtores da região pode aumentar com o reflorestamento adequado. Além disso, a restauração da vegetação em terrenos de plantio diminui o espaço cultivável e causa a elevação dos serviços ecossistêmicos, como a polinização.
"Esse estudo explorou os trade-offs entre a rentabilidade do café e a restauração florestal, descobrindo que, em cinco anos, os lucros aumentaram cerca de 90% após a restauração e a área florestal foi restaurada em 20%", detalha, em nota, López-Cubillos.
A equipe de cientistas criou uma estrutura de planejamento para reflorestar o lugar levando em conta o efeito benéfico dos animais polinizadores. Os pesquisadores pensaram o melhor arranjo espacial de restauração para alcançar ao menos um de dois objetivos: o sucesso no replantio das matas junto com a expansão da agricultura ou apenas a conservação da vegetação.
Para isso, dividiram a área analisada em uma espécie de grades, com mais de 60 mil quadrados cada, e fizeram estimativas da produção atual de café, da quantidade de abelhas e da lucratividade. Depois, calcularam os lucros do grão entre cinco e 40 anos sob diferentes cenários de restauração. A análise indicou que alocar, de forma estratégica, terras para agricultura e florestas poderia aumentar os retornos econômicos, em comparação com um panorama no qual a paisagem atual era mantida.
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Longo prazo
Em cinco anos, priorizar os cuidados com a mata se mostrou mais lucrativo do que táticas que, ao mesmo tempo, aumentaram os terrenos de plantio. Depois de 40 anos, equilibrar estrategicamente a conservação e os lucros agrícolas aumentou a cobertura florestal em 20%, quase dobrando os lucros dos proprietários de terras.
O engenheiro agrônomo e especialista em meio ambiente Charles Dayer conta que já existem algumas medidas para minimizar os danos do agronegócio à natureza. "São técnicas para reduzir problemas de erosão e melhorar qualidade de matéria orgânica feitas tanto por iniciativa de produtores quanto pela legislação. É, sim, possível produzir e preservar", enfatiza.
Para Dayer, o balanço entre as áreas poderá ser alcançado em um trabalho de longo prazo. "Hoje, a gente tem uma demanda mundial de commodities agrícolas. Então, não conseguimos, de uma hora para outra, deixar de fazer uma produção extensiva de grãos que atende aos mercados interno e externo", justifica. "Mas esse equilíbrio pode ser atingido na medida da implantação de novas tecnologias e com o respeito às normas. Tudo é possível, é um caminhar mais lento. Vamos andando nesse sentido, mas não será feito de forma abrupta", avalia.
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