Antártida

Cientistas mapeiam o solo sob Thwaites, geleira instável da Antártida

A Thwaites é um dos sistemas de gelo-oceano que mudam mais rapidamente na Antártida e, caso sofra um degelo irreversível, pode aumentar o nível do mar global em mais de meio metro

Correio Braziliense
postado em 01/06/2023 06:00
Segundo a análise, a Thwaites tem menos rocha sedimentar do que o esperado: impacto no derretimento -  (crédito: NASA/J. Yungel)
Segundo a análise, a Thwaites tem menos rocha sedimentar do que o esperado: impacto no derretimento - (crédito: NASA/J. Yungel)

O solo sob a geleira mais vulnerável da Antártida foi mapeado pela primeira vez, ajudando os cientistas a entenderem melhor como ela está sendo afetada pelas mudanças climáticas. A análise da geologia abaixo da Thwaites, na Antártida Ocidental, mostra que há menos rocha sedimentar do que o esperado — uma descoberta que pode afetar a forma como o gelo desliza e derrete nas próximas décadas.

"Os sedimentos permitem um fluxo mais rápido, como o deslizamento na lama", explica Tom Jordan, geofísico do British Antarctic Survey (BAS), que liderou o estudo. "Agora que temos um mapa de onde estão os sedimentos escorregadios, podemos prever melhor como a geleira se comportará à medida que recua."

Publicadas na revista Science Advances, as descobertas são importantes porque a geleira, que tem o tamanho da Grã-Bretanha ou do estado norte-americano da Flórida, é um dos sistemas de gelo-oceano que mudam mais rapidamente na Antártida. A zona de aterramento da Thwaites — o ponto onde ela encontra o fundo do mar — recuou 14 km desde o fim dos anos 1990. Grande parte da camada de gelo está abaixo do nível do mar e é suscetível a uma rápida e irreversível perda que pode elevar o nível do mar global em mais de 0,5m em alguns séculos.

Imagem 3D

A nova análise é baseada em levantamentos aéreos usando aeronaves equipadas com radar e sensores avançados, capazes, por exemplo, de mapear variações mínimas a milhares de metros abaixo do solo e do fundo do mar. Os pesquisadores usaram essas múltiplas fontes de dados para compilar uma imagem 3D dos recursos, incluindo o tipo e a extensão de diferentes rochas.

Como a base de Thwaites fica muito abaixo do nível do mar, os pesquisadores esperavam que sedimentos espessos tivessem sido depositados lá ao longo dos milhões de anos subsequentes. Mas os dados sugerem que apenas cerca de 20% do subsolo da geleira são rochas sedimentares, que estão em uma série de bacias entre 80 e 200 quilômetros de comprimento e cerca de 30 quilômetros de largura.

Ainda não está claro, porém, como esse novo conhecimento da geologia subglacial afetará as estimativas de fluxo e perda de gelo de Thwaites e outras geleiras. Os membros da equipe de pesquisa realizarão estudos mais detalhados desses processos. Os modeladores também poderão usar os novos dados para fazer projeções mais confiáveis da futura perda de gelo.

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