Estudo que rastreou golfinhos da espécie Inia geoffrensis, os famigerados botos-cor-de-rosa, constatou a ameaça de barragens, dragagem e pesca no habitat desses animais. Espécie vive nos rios da Amazônia. A pesquisa foi realizada pesquisadores da Universidade de Exeter, na Inglaterra, e da organização de conservação Pro Delphinus, do Peru. Ao todo, oito indivíduos dessa espécie foram monitorados por meio de um satélite pop-up, sendo sete machos e uma fêmea. O estudo foi publicado na revista Oryx nesta segunda-feira (3/7).
De acordo com o estudo, em média, 89% da área em que esses mamíferos vivem é usada para pesca. Ademais, os golfinhos foram encontrados a cerca de 252 km de uma barragem e a 125 km de um local de dragagem. Embora, a distância seja considerável, os pesquisadores alertam que onde os golfinhos vivem abrange aproximadamente 50 km, e barragens e dragagens podem afetar grandes áreas de habitat fluvial.
Para Elizabeth Campbell, do Centro de Ecologia e Conservação do Campus Penryn de Exeter “Está claro que o boto do rio Amazonas está enfrentando ameaças crescentes de humanos”. Ela também afirma que “a pesca pode acabar com as populações de presas dos golfinhos, e os golfinhos também correm o risco de morte intencional e captura acidental." Segundo Campbell, apesar de ter dados reais sobre quantos botos são capturados por ano, nos últimos 30 anos a captura acidental tem sido uma ameaça para esses mamíferos.
Consoante a pesquisa, a construção de barragens, sobretudo no Brasil, é uma ameaça à expansão, visto que 175 delas em operação ou em construção na Bacia Amazônica, e mais de 428 estão planejadas para as próximas três décadas. Aliás, o projeto para a Hidrovia Amazônica foi aprovado. Essas construções comprometem áreas de dragagem em quatro relevantes cursos de água da Bacia Amazônica. Elas também promovem a expansão de portos para facilitar a navegação de navios nos rios Amazonas, Ucayali e Marañón, prejudicando os animais aquáticos.
Contudo, os estudiosos afirmam que o governo peruano ainda pode proteger a biodiversidade. "O Peru tem a chance de preservar seus rios de fluxo livre, mantendo-os como um habitat seguro e saudável para botos e muitas outras espécies”, ressalta Elizabeth. “Dado que muitas dessas barragens e projetos de dragagem ainda estão em fase de planejamento, aconselhamos o governo a considerar os efeitos negativos que essas atividades já tiveram sobre as espécies fluviais em outros lugares”, acrescenta a pesquisadora.
A autora também orienta a expansão programas de rastreamento de golfinhos fluviais no intuito de abranger diferentes estações do ano e checar melhor a o número de fêmeas em locais de estudo. Campbell também enfatiza a relevância de aumentar o número rastreado de botos em outras áreas para aprofundar o conhecimento dos padrões de movimento desses indivíduos.
*Estagiária sob supervisão de Thays Martins
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