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Baixo consumo de fibras na gravidez pode afetar o cérebro de bebês

Pesquisa de universidade japonesa mostra que o baixo consumo de fibras na gravidez pode gerar atraso no neurodesenvolvimento de crianças. Dificuldades na comunicação estão entre os possíveis prejuízos

Isabella Almeida
postado em 27/07/2023 06:00
Especialista alerta que a dieta na gestação deve incluir outros nutrientes, como ácido fólico e ferro
 -  (crédito: Anastasiia Chepinska on Unsplash)
Especialista alerta que a dieta na gestação deve incluir outros nutrientes, como ácido fólico e ferro - (crédito: Anastasiia Chepinska on Unsplash)

A desnutrição é um estado de saúde em que a pessoa pode sofrer com deficiência, excesso ou desequilíbrio de nutrientes, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). E essas complicações costumam ter efeitos ainda maiores em momentos mais delicados da vida, como a gestação. Pesquisadores da Universidade de Yamanashi, no Japão, constataram que a baixa ingestão de fibras na gravidez pode atrasar o desenvolvimento do cérebro de bebês.

Conforme o artigo, estudos anteriores feitos em animais mostraram que uma dieta pobre em fibras durante a gravidez prejudica a função do nervo cerebral dos filhotes. Agora, a equipe liderada por Kunio Miyake mostra, em humanos, a relação entre o desequilíbrio nutricional materno e o desenvolvimento do cérebro de bebês. "Nossos resultados fornecem evidências que reforçam que a desnutrição durante a gravidez está associada a um risco aumentado de atraso no desenvolvimento neurológico em crianças", afirma, Miyake, em nota. O trabalho foi divulgado hoje, na revista Frontiers in Nutrition.

Segundo o pesquisador, a maioria das mulheres grávidas no Japão consome uma quantidade de fibra alimentar muito menor que a recomendada. O estudo mostrou que apenas 8,4% das gestantes no país consomem as fibras conforme o recomendado: 18g por dia. A quantidade indicada varia pelo mundo. Nos Estados Unidos e no Canadá, por exemplo, são 28g. No Brasil, um adulto saudável deve comer de 25g a 30g diárias.

Durante o trabalho, os pesquisadores compararam o desenvolvimento de crianças cuja mãe teve maior ingestão de fibras alimentares na gestação com aquelas que nasceram de mulheres que não seguiram a recomendação nutricional. Quando observaram os resultados, a equipe descobriu que as crianças do segundo grupo apresentaram maior probabilidade de ter atrasos no neurodesenvolvimento.

O efeito da falta de fibras na dieta materna foi percebido em várias áreas relacionadas à função cerebral. Foram afetadas as habilidades de comunicação, de resolução de problemas e habilidades pessoais e sociais. Além disso, os cientistas observaram atrasos no desenvolvimento de movimentos de grandes partes do corpo, assim como na coordenação de músculos menores.

Há ainda outros alimentos que devem ser incluídos na dieta de gestantes, destaca Henrique Gomes, pediatra e gastropediatra do Hospital Santa Lúcia, em Brasília. "Basicamente, os ricos em ácido fólico, como fígado, folhas verdes, e em ferro, presente em carne vermelha, brócolis e folhas verdes. Além dos alimentos ricos em vitaminas ABCDE. Cabe lembrar também as fontes alimentares ricas em cálcio, zinco e ômega-3", lista. "É importante fazer acompanhamento nutricional durante a gestação para manter a boa saúde materna e do feto. A prática também é necessária para que o feto tenha um bom crescimento e ganhe o peso adequado para a idade gestacional", completa o médico.

Prevenção

A pesquisa e os resultados são baseados na análise de mais de 76 mil pares de mãe e bebê do Estudo do Ambiente e Crianças do Japão, um projeto em curso que busca esclarecer como o ambiente afeta a saúde das crianças. Para coletar informações dietéticas das participantes, os cientistas utilizaram um questionário com itens sobre hábitos alimentares durante o segundo e o terceiro trimestre da gravidez. A avaliação dos atrasos no desenvolvimento foi feita em outro questionário enviado aos pais quando as crianças completaram 3 anos.

Com base nas respostas, os pesquisadores demonstraram a correlação entre a ingestão de fibras pelas mães e o desenvolvimento cerebral das crianças. "Nossos resultados mostram que a orientação nutricional para as grávidas é crucial para reduzir o risco de problemas de saúde futuros para os filhos", enfatiza Miyake, em nota.

Gomes pontua que uma alimentação mal balanceada por parte da mãe também pode gerar consequências na hora de amamentar. "Não existe o dito leite fraco. Mas é certo que uma mãe com ingestão inadequada de alguns nutrientes pode ocasionar uma baixa disponibilização destes no leite materno", explica. "Uma alimentação saudável e equilibrada deve ser composta por carboidratos integrais, proteínas de origem animal, além de frutas e vegetais bem higienizados."

Os pesquisadores japoneses observam que há algumas limitações na pesquisa. Uma delas foi não ter considerado a ingestão de fibras alimentares por meio de suplementos. "A possibilidade de outros nutrientes também terem impacto não pode ser completamente descartada", afirma o autor principal do estudo.

Palavra de especialista: Risco também de doenças crônicas

"De acordo com a alimentação, a nutrição e até mesmo o estresse, a mãe pode favorecer, ou não, o desenvolvimento de doenças crônicas e degenerativas no bebê depois que ele crescer. Portanto, se no período gestacional uma mãe se alimentar de forma inadequada, seja desnutrição energética proteica ou desenvolvendo sobrepeso e obesidade, ela estará, de alguma forma, contribuindo para alterar a homeostase energética do bebê. Ou seja, ele pode, no futuro, não só desenvolver sobrepeso, mas também doenças crônicas degenerativas. Isso significa que a mãe não pode ficar em jejum, deve, preferencialmente, se alimentar de três em três horas e fazer o possível para que não ganhe muito peso. Muitos estudos científicos mostram a importância de uma dieta adequada e equilibrada durante o período gestacional para que, epigeneticamente, esse bebê não tenha repercussão negativa com relação ao desenvolvimento de doenças que ele começou a adquirir ainda dentro do útero."

Durval Ribas Filho, médico nutrólogo e endocrinologista. Presidente da Associação Brasileira de Nutrologia

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