Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima
Como essa atualização impacta na COP30 e na postura brasileira diante da crise climática?
Esse relatório torna ainda mais inacreditável a licença para pesquisar petróleo na Foz do Amazonas dada pelo governo brasileiro. Ela é inconcebível em vários aspectos. Nessa questão climática, obviamente, porque vai totalmente na contramão dos avisos do que precisa ser feito, das ações que precisam ser adotadas. Além disso, ela também acontece num horário absurdamente errado. Não teria um momento certo, seria um erro em qualquer momento, e o governo conseguiu errar no pior momento possível, às vésperas de uma conferência climática. Espero que essa publicação acenda uma luz vermelha nessas salas de negociação. Esse é o início dos relatórios, nós vamos ter outros em sequência na véspera da conferência, são 10 anos do Acordo de Paris, então é um momento oportuno para essas pesquisas e para os países tomarem decisões e caminharem no rumo certo.
O que a publicação traz
de mais relevante?
Para mim, o fato mais concreto e impressionante é que os últimos 10 anos foram os mais quentes já registrados. Desde que o Acordo de Paris foi assinado, nós estamos batendo um recorde atrás do outro de anos mais quentes na história da humanidade. A concentração de gases de efeito estufa na atmosfera também foi uma das maiores já registradas, conforme um relatório da semana passada. A concentração de gases e o aumento de um ano para o outro de 2023 para 2024 atingiu níveis nunca vistos. Estamos assistindo aos extremos climáticos acontecerem, nos relatórios e também na vida real. Infelizmente, colecionamos algumas derrotas importantes nessa agenda que é, por exemplo, a eleição do Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Ele é um desastre climático na área política, que prejudica ainda mais um cenário que não é fácil de tentar alcançar. (IA)
