CIÊNCIA

Pesquisador brasileiro é destaque da revista Nature

Tradicional lista de revista científica britânica inclui o engenheiro agrônomo Luciano Moreira no top 10 das pessoas que marcaram as pesquisas em 2025. Ele desenvolveu estratégia de controle da dengue

A prestigiada revista Nature anunciou as 10 personalidades científicas mais relevantes do cenário mundial em 2025, e um dos homenageados foi o brasileiro Luciano Moreira, ex-pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz de Minas Gerais (Fiocruz Minas) e hoje presidente da companhia Wolbito. O engenheiro-agrônomo e entomologista atingiu um novo patamar com a inauguração de uma fábrica para a produção de Aedes aegypti infectados com a bactéria Wolbachia. Apelidados de "wolbitos", os mosquitos são usados para controlar a dengue e outras doenças transmitidas por vetores no país. Graças à pesquisa de Moreira, a estratégia foi reconhecida como uma medida oficial de saúde pública no Brasil.

"Eu fiquei muito emocionado, quase não acreditei. Acho muito importante, no Brasil, a gente conseguir fazer pesquisas de ponta. E o que mais me dá satisfação é ver que estamos conseguindo reduzir o sofrimento e as mortes no país. Estamos mostrando como a ciência consegue ajudar tantas pessoas" afirmou ao Correio.

O trabalho de Moreira está ao lado de outras grandes descobertas que marcaram o ano. Como o tratamento liderado pela pesquisadora Sarah Tabrizi, que modificou o DNA de um bebê e fez com que ele fosse curado de uma doença genética. Além disso, entrou para a lista o desenvolvimento da maior câmera astronômica do mundo, coordenado por Tony Tyson, do Observatório do Chile.

Simultaneamente, na esfera internacional, intensas negociações culminaram na versão preliminar do primeiro tratado global de pandemia da Organização Mundial da Saúde (OMS). O objetivo central do acordo é garantir uma resposta mais justa e preparada para futuros surtos, com um foco inédito na transferência de conhecimento e tecnologia para países de baixa renda, permitindo a produção local de ferramentas de combate a pandemias. 

 

Os escolhidos

 
Resposta contra a dengue

Quem é: Luciano Moreira, brasileiro, engenheiro agrônomo e entomologista

Ele é a face por trás de uma grande fábrica dedicada a combater doenças transmitidas por mosquitos, como a dengue. A instalação em Curitiba cria milhões de mosquitos Aedes aegypti infectados com a bactéria Wolbachia, que reduz a transmissão de patógenos nocivos a humanos. Moreira inaugurou a instalação em julho, marcando uma grande mudança de projetos de pesquisa em pequena escala para a adoção nacional de uma nova estratégia de saúde pública. Ele é creditado não apenas por seu trabalho acadêmico demonstrando a eficácia do modelo, mas também por convencer decisores políticos a implementar a tecnologia em todo o Brasil, onde a dengue mata pessoas todos os anos.

Combate à pandemia

Quem é: Precious Matsoso, especialista em saúde pública e ex diretora-geral do Departamento Nacional de Saúde da África do Sul

Foi fundamental como a "negociadora da pandemia", copresidindo o grupo da Organização Mundial da Saúde (OMS) que conduziu as difíceis negociações para o primeiro tratado global sobre pandemias. Esse esforço culminou em abril de 2025 com um consenso sobre o texto preliminar dos cerca de 190 países membros da OMS, estabelecendo princípios orientadores para a prevenção, preparação e respostas globais à próxima crise de saúde mundial. Ela é uma figura experiente que anteriormente ajudou a expandir o acesso a medicamentos contra o HIV, enfrentou "negociações extenuantes" e "debates parcimoniosos" ao lidar sobre o compartilhamento de recursos, uma grande preocupação em relação a covid-19, segundo a revista Nature. Matsoso foi elogiada por sua dedicação e táticas únicas. Juristas afirmaram que seus esforços foram essenciais para que o acordo existisse.


Não ao plágio

Quem é: Achal Agrawal, cientista de dados indiano

Ele se dedicou a promover a conscientização sobre violações de integridade científica na Índia após uma discussão no fm de 2022 com um estudante de graduação que insistia em usar softwares de parafraseamento, alegando que não era plágio, já que esses programas burlavam as checagens das universidades. Antigo cientista de dados, Agrawal deixou o emprego para se dedicar sem remuneração a esse tema, colocando-se no centro da conversa nacional sobre incentivos acadêmicos. Seus esforços, ao lado de outros, contribuíram para uma mudança regulatória histórica em agosto de 2025, quando o governo indiano anunciou que o National Institutional Ranking Framework (NIRF) passaria a penalizar instituições de ensino superior caso um número considerável de artigos publicados por seus pesquisadores fosse plagiados.


Dedicação em meio à guerra

Quem é: Yifat Merbl, bióloga e pós-doutora, dirige o próprio laboratório no Instituto Weizmann, em Israel

Foi reconhecida por suas descobertas significativas relacionadas ao proteassoma — uma estrutura intracelular, responsável por degradar e reciclar proteínas que estão danificadas, velhas ou que a célula não precisa mais. Seu trabalho demonstrou que os peptídeos resultantes desse processamento ampliam o número de funções que uma única proteína pode desempenhar. A dedicação de Merbl ficou ainda mais evidente quando seu laboratório foi destruído por um ataque de míssil iraniano: ela correu de volta por entre estilhaços de vidro usando chinelos para salvar amostras, afirmando que, apesar de perder seu espectrômetro de massa, "ninguém ficou ferido", e que sua equipe está pronta para continuar a busca pelos segredos escondidos nos peptídeos produzidos pelo proteassoma.


Guardiã da saúde pública

Quem é: Susan Monarez, microbiologista com PhD em microbiologia e imunologia

Apelidada de "guardiã da saúde pública", serviu como diretora dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC). Ela foi expulsa após apenas um mês no cargo. Monarez afirmou que a demissão aconteceu em razão de sua recusa em comprometer sua "integridade moral e científica por conveniência" e por "manter a linha da integridade científica" diante de pressões externas. Ela enfatizou que o CDC "é importante demais para desistir", oferecendo sinceros votos de sucesso ao próximo diretor, que herdará uma agência desmoralizada por demissões e um incidente traumático em sua sede.

Tarefa dolorosa

Quem é: Sarah Tabrizi, neurologista e neurocientista britânica

Na University College London, no Reino Unido, faz parte da equipe que conseguiu progressos animadores sobre uma terapia experimental capaz de reduzir os níveis da huntingtina, uma proteína essencial na doença neurodegenerativa rara e sem cura. Segundo especialistas da área, ela é "a aranha no centro da teia" de praticamente todos os avanços clínicos importantes em terapias modificadoras da doença. Olhando para o futuro, Tabrizi lidera a avaliação de cinco terapias para reduzir a doença de Huntington e pesquisas laboratoriais sobre mecanismos de neurodegeneração que podem gerar novos candidatos a fármacos.

Descoberta profunda

Quem é: Mengran Du, geoquímica e cientista marinha

Ela fez uma descoberta, literalmente profunda, enquanto observava o oceano a mais de 9km abaixo da superfície. Quando para o fundo do mar soube imediatamente que estava diante de um ecossistema “totalmente novo para a ciência”. As luzes da embarcação em que estava iluminaram uma grande comunidade viva, destacando “vermes-cerdas fantasmagóricos” nadando entre campos de “vermes-tubo vermelho-sangue”. Esse momento reforçou sua contribuição para exploração e identificação de componentes antes desconhecidos nas profundezas oceânicas.

"Disruptor" tecnológico

Quem é: Liang Wenfeng, empreendedor chinês, fundador da empresa de IA DeepSeek e engenheiro

Considerado um “disruptor tecnológico” pela Nature, ele ganhou notoriedade inicialmente como investidor antes de fundar a DeepSeek, a empresa que lançou um “modelo de raciocínio em inteligência artificial revolucionário”, chamado R1. Liang tem mestrado em engenharia pela Universidade de Zhejiang, com uma tese sobre algoritmos para rastrear objetos em vídeos. Depois, aplicou sua paixão por IA aos mercados financeiros, cofundando o hedge fund High-Flyer em 2015 e criando a DeepSeek em 2023. A empresa ganhou atenção global ao divulgar como construiu e treinou o R1, tornando-se o primeiro grande modelo de linguagem (LLM) a passar por revisão por pares em setembro deste ano. Assim como muitos empreendedores ocidentais de IA, Liang tem como meta alcançar a inteligência artificial geral (AGI), sistemas tão capazes quanto humanos de realizar tarefas cognitivas.

Paciente pioneiro

Quem é: KJ Muldoon, conhecido como “Paciente Eta”, curado de uma doença ultrarrara

Em poucos meses após seu nascimento, em agosto de 2024, o nome de KJ, seu sorriso e grandes bochechas apareceram em jornais ao redor do mundo como a primeira pessoa conhecida a receber uma terapia hiperpersonalizada de edição genética baseada em CRISPR. Após uma série de exames, descobriram que KJ tinha uma condição genética ultrarrara chamada deficiência de carbamoil-fosfato sintetase 1 (CPS1), que compromete a capacidade do corpo de processar proteínas. A deficiência pode danificar o cérebro. Embora haja a possibilidade de tratá-la com transplante de fígado, metade dos bebês morre na primeira infância, mas KJ recebeu a terapia de edição genética e foi salvo.

Inovações telescópicas

Quem é: Tony Tyson, físico e astrônomo

Ele é considerado um “pioneiro dos telescópios” e o visionário por trás do novo Observatório Vera Rubin. No início dos anos de 1990, Tyson construiu uma câmera digital para telescópios usando dispositivos de carga acoplada (CCDs), ao lado do físico Gary Bernstein. Essa câmera foi instalada em um telescópio no Chile e foi uma ferramenta fundamental na descoberta da energia escura em 1998. Enquanto trabalhava naquele equipamento, Tyson teve a ideia para o telescópio Rubin, liderando o projeto desde a primeira proposta em 2000 até a conclusão do espelho principal. O aparelho, chamado Telescópio de Pesquisa Simonyi, tem a maior câmera digital já construída, é do tamanho de um carro pequeno, capaz de capturar 3.200 megapixels por foto.

 



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