Janifer Trizi enfatiza que negligenciar sintomas pode resultar em efeitos irreparáveis na saúde feminina: “é preciso tratar a raiz do problema e acompanhar essa mulher”
Nos últimos anos, a endometriose deixou de ser um tema restrito ao consultório médico, já que diversas personalidades de destaque, como Anitta, Larissa Manoela, Wanessa Camargo, Tatá Werneck, Malu Mader, Adriana Esteves, Patrícia Poeta e até Gisele Bündchen foram diagnosticadas com a condição e decidiram falar abertamente sobre o assunto.
Segundo a Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva, ao menos 10% das mulheres brasileiras em idade reprodutiva, ou seja, entre os 15 e 49 anos, sofrem com a condição, que pode se manifestar de diversas formas. E, apesar de afetar a qualidade de vida em diferentes aspectos, o tema ainda é cercado de tabus e mistérios.
Diante desse cenário, a médica ginecologista Janifer Trizi que atua com abordagem integrativa explica os mitos e verdades com relação à condição e enfatiza: “é preciso saber ouvir essas mulheres e tratar a raiz do problema. Foi-se o tempo em que uma queixa recorrente feminina era vista como exagerada ou intensa demais. Diversas famosas já trouxeram à tona o quanto sofreram com o diagnóstico e tratamento errados e é preciso abrir os olhos diante disso e tomar como um alerta geral”.
O que é e quando se preocupar com a doença
De acordo com a especialista, a endometriose é uma doença que acomete o endométrio – tecido que reveste o interior do útero e, comumente, outros órgãos da pelve. “É uma doença inflamatória e autoimune, geralmente as pacientes apresentam quadro clínico de cólica ou sangramento menstrual excessivo, mas também podem ter dispareunia, que é a dor genital persistente que ocorre antes, durante ou após a relação sexual. A irregularidade menstrual, apesar de sutil, também pode ser um sinal de alerta”.
Em um relato emocionante, a atriz Larissa Manoela contou que, em determinado momento, a endometriose começou a gerar impactos negativos em sua vida pessoal e profissional. A cantora Anitta também fez um desabafo similar. A médica explica que, por mais que pareça simples, se não tratada com a devida perícia, a condição tem potencial – e muito – de afetar o cotidiano das mulheres, acarretando na deformação dos órgãos do aparelho reprodutor e diminuindo a capacidade de engravidar: “A endometriose hoje é considerada um ‘câncer branco’, não mata, mas aleija, já que tira a qualidade de vida. As cólicas e os sangramentos atrapalham muito a vida de todas mulheres, além das dores para ter relação”.
Como identificar e o que pode agravar o quadro?
Além dos sintomas díspares, a especialista esclarece que não há um exame único para a detecção da doença, geralmente é necessária uma investigação mais apurada. “Fazemos o rastreamento com ressonância magnética com preparo intestinal ou ultrassom transvaginal com preparo intestinal. Mas o padrão ouro para diagnosticar é a videolaparoscopia”.
Conforme Trizi, algumas mulheres, como Larissa Manoela, convivem simultaneamente com a endometriose e a síndrome dos ovários policísticos, o que pode agravar o quadro. “Ambos os quadros de endometriose e ovários policísticos têm a ver com a predominância estrogênica, que piora na vigência do xenoestrogênio, substância produzida e liberada a partir de disruptores endócrinos, presentes no plástico quente que infelizmente consumimos através da garrafinha de água que esquenta no carro, do plástico de embalagens por ação do microondas e de alimentos como miojo, por exemplo, ou seja, é preciso estar atenta a tudo”.
Sem cura, mas com qualidade de vida
Segundo a especialista, a endometriose não tem cura, mas é possível melhorar significativamente a qualidade de vida com mudanças de hábitos e tratamentos médicos adequados. “A medicina integrativa funcional, por exemplo, vem nos mostrando que a dieta antiinflamatória, ou seja, a que prescreve comida de verdade, diminuindo alimentos altamente inflamatórios como leite e derivados, glúten, álcool e excesso de carne vermelha, tem se mostrado muito benéfica para as pacientes. Além disso, o exercício físico ajuda no processo antiinflamatório e principalmente para cuidar da saúde mental. Suplementos como o Resveratrol (polifenóis) encontrados na uva, dentre outros também ajudam, mas esse diagnóstico é individual e a suplementação também, obviamente. Se necessário, também é indicado o uso de Diu hormonal para cessar a fonte da inflamação, mas é preciso estudar e analisar caso a caso.
Janifer Trizi enfatiza que a endometriose é uma doença silenciosa e devastadora e, portanto, não deve ser menosprezada. “No Brasil, acredita-se que mais de 6 milhões de mulheres convivam com a doença e, infelizmente, muitas só descobrem tardiamente, quando há complicações já sentenciadas pela falta de tratamento ou atenção no início dos sintomas. Esteja atenta, pratique o autoamor e cuide-se: não negligencie os sintomas e tenha consciência de que seu corpo é seu templo”, finaliza.
