Nana solta a voz

A cantora faz novo tributo aos mestres Tom Jobim e Vinicius de Moraes em disco com participação de Dori Caymmi

Correio Braziliense
postado em 04/08/2020 22:03
 (crédito: Lívio Campos/Divulgação              )
(crédito: Lívio Campos/Divulgação )

» Irlam Rocha Lima

ana Caymmi é dona de uma das mais longevas e incensadas trajetórias na música popular brasileira. Tudo começou em 1960, quando gravou Acalanto, faixa de um LP do pai, Dorival Caymmi. Dali em diante, ela imprimiu a digital como intérprete, tanto em shows como — e principalmente — nos 27 discos que lançou. O virtuosismo vocal da cantora pode ser apreciado novamente no tributo que presta a dois mestres: 25 anos após a morte de Tom Jobim e 40 anos sem Vinicius de Moraes.
Intitulado Nana, Tom, Vinicius, o CD traz, em 12 faixas, o registro de canções compostas entre 1956 e 1959. Oito têm a assinatura dos parceiros, entre as quais os clássicos Eu sei que vou te amar, Se todos fossem iguais a você, Modinha e Por toda a minha vida. A elas se juntam as igualmente sofisticadas, mas menos celebradas, As praias desertas e Canção do amor demais (Tom Jobim), Serenata do adeus e Valsa de Eurídice (Vinicius de Moraes). Todas foram emolduradas por requintados arranjos de Dori Caymmi — um mestre do ofício. O álbum está disponível na plataforma Sesc Digital.
Nas gravações, no estúdio Companhia dos Técnicos, Nana teve ao seu lado músicos que a acompanham há algum tempo: Itamar Assieri (piano), Jorge Helder (baixo) e Jurim Moreira (bateria), que foram responsáveis pelas bases. Houve o acréscimo das sonoridades dos naipes de sopros da Orquestra de São Petersburgo (Rússia); e de cordas criada por músicos paulistas. Tudo a partir de arranjos e regência assinados por Dori, que já havia feito o mesmo para obras do Maestro Soberano, como o álbum Matita Perê; e as trilhas sonoras da minissérie O Tempo e o Vento; e do documentário O Tempo e o Mar, de Pedro Moraes.
Em relação aos arranjos criados para o Nana, Tom, Vinicius, Dori explica: “Criar arranjos para a obra de um dos maiores compositores da música popular brasileira não é fácil, pois exige muita atenção e critério. Há frases melódicas do Tom, por exemplo, que são definitivas. Por isso, têm que ser mantidas, em respeito ao legado deixado por ele. Neste trabalho que realizei para o novo disco de Nana, contei com as importantes colaborações de Mário Gil, Mário e Joana Adnet”.
Cantar os homenageados desse projeto é algo que Nana faz desde o início da carreira. Ela, a mãe, Stela, e o irmão caçula, Danilo, participaram do LP — hoje, raro — Caymmi visita Tom, de 1964. No disco, que leva o nome dela no título, de 1975, numa das faixas, ela interpretou Medo de amar (Vinicius de Moraes); e, ao reverenciar Dolores Duran com o CD A Noite do Meu Bem (1994), incluiu Estrada do sol e Por causa de você (parcerias da cantora e letrista com Tom Jobim). Em Falando de amor, de 2005, ao lado de Dori e Danilo, Paulo e Daniel Jobim, Nana soltou a voz em vários momentos do disco.

» Entrevista // Nana Caymmi

Que relação você tem com a obra de Tom Jobim e Vinicius de Moraes?
Havia uma relação de amizade entre nossa família e a de Tom Jobim. Meu pai costumava visitar Tom quando ele morava no Leblon e nós, algumas vezes, íamos com ele. Nesses encontros, sempre se ouvia música de qualidade.

Quando começou a cantar profissionalmente?
Aos 17 anos, gravei em duo com papai Acalanto, uma canção de ninar que ele compôs para mim. No mesmo ano (1960), lancei um 78 rotações com Adeus, também de Dorival Caymmi. Ali, foi o começo de tudo.

As músicas de Tom e Vinicius passaram a fazer parte do seu repertório em que fase da carreira?
Embora tenha participado do LP Caymmi visita Tom, fazendo vocal, só em meu terceiro LP, de 1975, é que gravei Medo de amar, canção de Vinicius. Em 1994, no CD A Noite do Meu Bem, um tributo a Dolores Duran, duas faixas, Estrada do Sol e Por causa de você, eram parcerias dela com o Tom. Participei também de Falando de amor, disco de 2005, ao lado de Dori, Danilo, Paulinho e Daniel Jobim. Mas, ao longo da carreira, tenho cantado músicas de Tom e Jobim em várias oportunidades, em songbooks e shows.

No Nana, Tom, Vinicius, finalmente, presta um tributo aos dois. Quando surgiu a ideia?
Já era para ter feito esta homenagem aos dois. Até que surgiu a possibilidade de fazer este tributo, como a obra de Tom e Vincius merece, com acompanhamento de orquestra, participação de músicos com quem tenho trabalhado e, claro, arranjos de Dori, que foi responsável também pela seleção do repertório. Mas não deixei de dar palpite. Foi importante também o fundamental apoio do Sesc.
Como está convivendo com a interminável quarentena determinada pela pandemia?
Me isolei na casa da família, em São Pedro de Piquieri, na região da Zona da Mata (MG), fugindo da violência do Rio de Janeiro, desde o início da pandemia. Me ocupo com a leitura de livro, ouvindo boa música, cuidando da horta, apreciando o crescimento de um Pau Brasil, fazendo tricô e assistindo a jogos do Flamengo.

Entre as músicas que ouve, há as do pessoal da nova geração?
Desse tipo de música, eu não tomo conhecimento. O que tenho ouvido mais é Villa-Lobos.

Como vê o Brasil de agora?
Com tristeza, com as pessoas desobedecendo as determinações das autoridades médicas e muita gente morrendo.

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