O rap segue firme e forte

Para comemorar o dia nacional do gênero musical, o Correio apresenta a trajetória do hip-hop no DF: das batalhas de rua às casas de show

Correio Braziliense
postado em 05/08/2020 22:22 / atualizado em 06/08/2020 18:17
 (crédito: Hungria Hip-Hop/Divulgação)
(crédito: Hungria Hip-Hop/Divulgação)

 » Lucas Batista*
» Pedro Ibarra*

O rap e toda cena criada a partir do gênero tem uma importância cultural muito grande para sociedade em geral. Atualmente o estilo se consolidou como uma música de massas e ultrapassou o rock em números de ouvintes pelo mundo. A ascensão deste formato musical é visível também no DF, onde rappers saíram de condições difíceis de apresentar a própria arte nas periferias, para shows em todo o Brasil e no exterior.
O estilo comemora hoje o Dia Nacional do Rap. A homenagem foi estabelecida por lei, em 2008, pela Assembleia Legislativa de São Paulo. Ou seja, há 12 anos a data é lembrada, mas o rap tem uma construção muito mais antiga no país.
No DF, a situação não é diferente, por mais que seja uma cidade mais nova. Data do final da década de 1980 e início dos anos 1990 o surgimento do movimento hip-hop na cidade. Foi a partir de nomes como Dj Jamaika, Câmbio Negro, Gog, Baseado nas Ruas e Viela 17 que o gênero musical foi recebendo notoriedade.
“O rap veio se instalar no Brasil de forma revolucionária, mas não só bastava ter letras e ideias. Para disseminar a cultura, nós precisávamos gravar algo, mas, como o sistema era analógico e caro, e com a cultura sendo oriunda de periferias, tínhamos um impasse financeiro e de conhecimento artístico em geral”, relembra Japão, líder do grupo Viela 17.
As batalhas e as festas com hip-hop estavam começando e o público estava se familiarizando com o gênero. Dj Jamaika teve papel importante ao levar a música para as rádios, trazendo nomes de fora, como MV Bill, para a cidade e lançando álbuns, abrindo caminho para que Mcs, incluindo Gog e Câmbio Negro pudessem se aventurar e se notabilizar no estilo. “Não existia o digital, ninguém fazia músicas nesse sistema, aliás nem sonhávamos que um dia existiria um CD. Para gravar um álbum e lançar um LP não era fácil, mas, de tanto persistir, conseguimos”, recorda Japão, que ainda ressalta a influência dos Djs Raffa Santoro e Manomix para o início da carreira.
O músico ainda declara que mesmo tendo participado do início do movimento no DF, os músicos seguem ativos até hoje, mostrando a capacidade da arte. “Acredito que todos tiveram conhecimento de nossa existência, não sei se eles encaram como um legado, até porque não estamos mortos, continuamos ativos e trabalhando bastante. Mas, podemos ter contribuído como referência.”

Do Quadradinho para o mundo

Nomes da primeira geração, como o de Gog, receberam notoriedade e ainda continuam na ativa como influência direta para as gerações seguintes. Artistas como Tribo da Perifería, Flora Matos, Froid e Hungria Hip-Hop apresentaram os moldes brasilienses de como fazer rap em escala mundial.
“Além da realização pessoal que todo músico tem de mostrar um pouco da sua cidade, sua vida e seu sentimento para o Brasil, para mim, a sensação é de dever cumprido”, afirma Duckjay, do grupo Tribo da Periferia. O rapper se juntou aos ex-integrantes Mano Marley e Alisson para criar o grupo. DJ Bola Tribo e AceDace também tiveram uma trajetória curta pelo grupo. Atualmente, a Tribo, que faz sucesso desde os anos 2000, é formada por Duckjay, Look e pelo DJ Lerym. “Independentemente da cena, o mais importante é ser referência para molecada da minha quebrada, poder mostrar que a música dá certo porque eles sabem de onde eu vim”, comemora o artista.
Outro nome, mais potente de 2010 para cá, é Hungria Hip-Hop. “É totalmente gratificante quando você sai do regional para o nacional. É muito interessante ver que eu fazia shows em Regiões Administrativas, passei a fazer pelo Brasil e cheguei num nível internacional. Fui ao Japão, Europa, Estados Unidos...”, relata Hungria sobre a popularização do rap de Brasília.

De olho no futuro

Uma nova geração se organiza para assumir, nos próximos anos, o protagonismo da cena hip-hop do DF. Nomes como Vix Russel, Hate Aleatório, Kel, Santzu e Novin Mob vêm ganhando visibilidade e se consolidando aos poucos como promessas não só do gênero, como da música do DF. “Eu enxergo o cenário do DF em crescimento. Há poucos artistas daqui que estão estourados mesmo, mas tende a crescer”, analisa Hate Aleatório.
Vix Russel recentemente lançou o EP BB, como prêmio de um concurso que ganhou da marca Red Bull. Ela pretende seguir buscando o espaço das mulheres na cena, assim como fizeram Flora Matos e Realleza. “O espaço das minas está sendo conquistado, estamos fazendo um som muito bom, às vezes melhor do que vários caras, mas a valorização é muito menor e temos que nos esforçar muito mais para conseguir chegar”, explica. “As mulheres estão ocupando esses espaços muito rápido e com muita qualidade, para poder lançar o som delas. O futuro é feminino, tudo só vai melhorar”, completa.

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  • Viela 17
    Viela 17 Foto: Nathalia Millen/Divulgação
  • Rapper Hate Aleatorio
    Rapper Hate Aleatorio Foto: Amanda Barros/Divulgação
  • Vix Russel
    Vix Russel Foto: Ísis Oliveira/Divulgação
  • Tribo da Periferia
    Tribo da Periferia Foto: Tribo da Periferia/Divulgação

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