Mas esse ano eu não morro...

Ana Cañas destaca momentos de sua trajetória musical e a paixão pelo novo trabalho, em que canta clássicos de Belchior

Paula Barbirato*
postado em 14/08/2020 22:38
 (crédito: Ana Alexandrino/Divulgação)
(crédito: Ana Alexandrino/Divulgação)

 

Das coisas que aprendeu nos discos, o mais importante é o que Ana Cañas viveu. Entre o novo questionador e o muito antigo, difícil de desaprender, a artista mergulha em quem é para se expor ao público. Olha para o passado, interpretado por Belchior, e percebe que é presente. As canções do rapaz latino-americano Como nossos pais, Na hora do almoço, Mucuripe, Coração selvagem e Galos, além de noites e quintais servem como biografias autorizadas sobre a compositora. “Me comovem de um jeito diferente, bastante avassalador” pontua Ana Cañas, que confirmou, por Instagram, a gravação do álbum Ana Cañas canta Belchior.
Quando o assunto é composição, tudo ao redor atua na criação dos versos. Dos detalhes ao que é óbvio, a atenção está voltada para a rotina. “É sempre um mistério a amálgama humana, seus meandros, idiossincrasias. Tentar capturar essas esferas e traduzi-las em melodias e poemas sempre é um desafio imenso”, declara. Muitas vezes vista como a nova MPB, Ana Cañas responde que “é uma sigla que abarca muitas coisas indefiníveis e não exatamente um som”.
Em um mundo em que o que é viral gera valor. Ana Cañas, segue o simples, realça a apresentação com Nando Reis, na canção Pra você guardei o amor, o lançamento das músicas, acompanhadas por clipes, Esconderijo e Respeita, a versão de Eu amo você (Cassiano), e a indicação ao Grammy no ano passado com o disco Todxs. A live realizada em homenagem a Belchior representa um marco no caminho musical de Ana.

Redescoberta

Em 1946 nascia, em Sobral, interior do Ceará, Belchior, que, mais tarde, seria reconhecido no país e também internacionalmente. De geração em geração, ainda conversa com artistas atuais. Ana Canãs fez uma live em julho deste no, por meio de arrecadações entre os fãs, com o repertório de músicas do cantor cearense. A cantora confessa que não esperava receber tantas mensagens carinhosas, do país inteiro. “Sinto que muita gente ama o Belchior.”
“Decidi parar de lutar contra o meu preconceito bobo sobre me entregar ao lado intérprete”, diz a artista, em uma publicação no Instagram, na qual confirma a gravação do disco-tributo. Embora acreditasse que cantar músicas de outros artistas fosse mais fácil do que ir pelo caminho da autoria, a compositora revela que interpretar Belchior está entre as coisas mais difíceis que fez na vida.
A atemporalidade das canções do compositor cearense chamou atenção de Ana. “Eu acho que esse repertório está mais atual do que nunca, diante de tudo que vivemos nesse momento. Filosófica e existencialmente falando, parece que Belchior sabia para que lado caminharia a humanidade”, ressalta. “Não ficou datado, ele falou de forma mais universal.” acrescenta.
Rita Lee, Gilberto Gil e Caetano Veloso são outros nomes que têm admiração por parte da cantora, mas nenhum deles, segundo ela, causa o mesmo impacto do que a contemporaneidade das letras do cearense, por mais que também tenham sido compostas das décadas de 1970 e 1980.

Pandemia

“Foi um momento em que eu vi muitas mudanças para todos nós da música, sem exceção.” Assim como outros músicos, ela migrou o trabalho para o campo digital. Antes de se pronunciar sobre o momento pandêmico, enquanto artista que depende de apresentações ao vivo, imaginou como isso soaria para as pessoas. “Existe essa cultura de que, talvez, o artista como eu, que não é mainstream, mas tem disco lançado, 15 anos de carreira e tudo mais, tenha uma vida confortável. Só que, na verdade, eu ainda pago aluguel, eu não tenho casa própria”, conta.
Desde o início da quarentena, fez em cinco lives gratuitas no Instagram, com músicas autorais, e, depois, com financiamento coletivo de quem acompanha a artista, o show especial em homenagem a Belchior, no YouTube, que também colaborou para a entrega de alimentos a pessoas em situação de rua em São Paulo.
Em relação ao estúdio durante a quarentena, Ana Cañas trabalhava, ainda no início, em demos para um disco novo autoral. Mas com o trilhar de caminhos e o encontro mais profundo com as obras e a ideia de gravar Belchior, as gravações, por enquanto, foram paradas.

*Estagiária sob supervisão de Igor Silveira

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