Ainda que tenha um forte apelo emocional, ao contar parte da vida de real de Jeff Bauman, que teve as pernas amputadas depois de atentado terrorista, há sete anos, na Maratona de Boston, o filme O que te faz mais forte, dirigido por David Gordon Green e estrelado por Jake Gyllenhaal, perdeu o posto para a exibição homenagem de um avassalador filme simbólico de superação e vigor, Pantera Negra, atração confirmada para a Tela Quente de segunda-feira (31/8).
Num tuíte oficial, a emissora havia se manifestado: "Pedido anotado com sucesso: a Tela Quente desta segunda é dele: Pantera Negra. Wakanda forever!". O filme tornou-se símbolo de muitas realidades, nestes tempos reivindicatórios e de protestos a favor de maior projeção de talentos negros. Peça-chave na história contemporânea do cinema (e do longa-metragem de aventura), Chadwick Boseman, morto na última sexta (28/8), dizia saber diferenciar ser ator, astro de cinema e celebridade. Preferia se identificar como ator, mas nem por isso deixou de jogar em todas as posições, dada a comoção com a morte dele, por câncer de cólon evoluído para o estágio 4. Cirurgias e quimioterapia foram constantes, nos últimos quatro anos de vida de Chadwick, saudado pela colega do mundo do cinema Oprah Winfrey, pela "coragem, força e poder".
Foi numa das cerimônias de premiação que Boseman, ao lado do elenco negro de Pantera Negra, ressaltou: "Nós sabemos o que é estar por baixo...", antes de explicar a função da aclamada produção de 2018, que se tornou "um exemplo do mundo que queremos ver", como completou o ator, naquela ocasião. Escalados para o filme de Ryan Coogler, os atores Michael B. Jordan, Lupita Nyong´o, Danai Gurira e Angela Basset, ao lado de Chadwick, transformaram a indústria da sétima arte. Pantera Negra exaltou a nação Wakanda como potência autônoma e recheada de tecnologia. O desbravamento de uma selva enriquecida, capaz de exaltar uma África poderosa, remexeu em conceitos de protagonismo.
"Como um ator afro-americano, percebo que há inúmeras histórias a serem contadas", chegou a demarcar em uma das entrevistas de divulgação da fita em que interpreta o rei T´Challa. Não foi apenas no montante de bilheteria, com renda de US$ 1,3 bilhão, e que representa praticamente metade do patrimônio levantado com o filme de maior bilheteria de todos os tempos (Vingadores: Ultimato), que Pantera Negra fez história. Única produção acerca de super-herói a ter indicação ao Oscar de melhor filme, Pantera Negra, ainda que distanciado da realidade, pelo que defendia Chadwick, em abstração, carregava a realidade de traços identitários da cultura negra e servia como plataforma de identificação e empoderamento social.
Independente de ser a quinta mais rentável aventura de heróis da Marvel, a produção exalava representatividade e solidariedade reclamadas até mesmo na vida pessoal de Chadwick. Explica-se: depois de formado pela Howard University, ele contou com apoio financeiro de Denzel Washington, para a escalada rumo a Oxford, antes de se aprimorar, no Harlem, no Schomburg Center (reservado a pesquisas de cultura negra).
Esmagador de preconceitos na telona, na breve vida de 43 anos, Chadwick Boseman deu conta de representar inúmeros pioneiros históricos que, na negritude, se impuseram pela garra e força: recriou, nas telas, de James Brown ao jogador de baseball Jackie Robinson, passando ainda pela representação de integrante negro da Suprema Corte americana Thurgood Marshall. Tudo, à época de cenário nada acolhedor, e muito diferente do universo atual, que se comove, na despedida do jovem ator que encarnou real heroísmo.
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