“Eu nasci transgressor e vou morrer transgressor. Tenho consciência do exercício da liberdade e vou defendê-la até o fim. Sou um homem livre e busco reafirmar isso o tempo todo. O que me deixa aliviado é que em paralelo ao conservadorismo que existe hoje, ter surgido um movimento de resistência em relação a essa gente careta e covarde. Existe uma juventude forte e livre, cheia de vida e tesão que não tem governo, nem nunca terá.” De forma contundente, Ney Matogrosso se posiciona em À flor da pele, antologia audiovisual, composta por entrevistas históricas e clipes musicais, que o canal Curta! apresenta amanhã, às 22h30.
O documentário, com 70 minutos de duração, dirigido por Felipe Nepomuceno, contempla a vitoriosa trajetória do cantor mato-grossense que iniciou a carreira musical aqui na cidade, se apresentando em casas noturnas e como integrante do Madrigal de Brasília, sob a regência do maestro Levino de Alcântara. O roteiro focaliza desde o período em que Ney era vocalista d’Os Secos & Molhados, grupo que o projetou nacionalmente, no começo da década de 1970.
A parte musical traz desde clássicos do cancioneiro brasileiro, como Ave Maria (Jaime Redondo e Vicente Paiva), O mundo é um moinho (Cartola) e Tanto amar (Chico Buarque), até o hino pacifista Imagine (John Lennon), passando por eternos hits do pop nacional, da importância de Como 2 e 2 (Caetano Veloso), Poema (Cazuza e Roberto Frejat), Balada do louco (Arnaldo Baptista e Rita Lee), além, é claro, de Flores astrais (João Ricardo e João Apolinário), Rosa de Hiroshima (Gerson Conrad e Vinicius de Moraes) e Sangue latino (João Ricardo e Paulinho Mendonça) — sucessos atemporais d’Os Secos & Molhados.
Como avalia À flor da pele, filme que leva o nome um disco seu?
Trata-se de um documentário pouco convencional sobre a minha trajetória artística que reúne entrevistas que concedi ao longo da carreira e clipes que gravei de canções de discos e shows de vários períodos. São 17 ao todo. O melhor é que em todos eu canto a música por inteiro. Tem canções antigas, como Ave Maria, gravada só com o violonista Raphael Rabello, que acho linda; composições de Chico, Caetano, Cazuza, Mutantes e coisas do Secos & Molhados, marcantes no meu repertório e na minha história.
O diretor do documentário é um velho conhecido seu...
Sim. Ele tem sido o responsável pela direção dos meus últimos DVDs, para os quais criou imagens cinematográficas.
Por que você tem evitado fazer lives?
Não tenho saco para live, que vejo como uma coisa muito precária, sem energia. Prefiro produções mais bem trabalhadas, mais bem elaboradas.
Como tem sido sua rotina nesta interminável quarentena, determinada pela pandemia?
Tenho me dividido entre o apartamento no Rio e o sítio na região serrana. Continuo fazendo exercícios físicos, assistindo a filmes e lendo livros. Comecei a ler A última mensagem de Hiroshima — O que vi e como sobrevivi à bomba atômica, do japonês Takashi Morito, que mora em São Paulo. Ganhei o livro dele e estou me inteirando mais sobre essa tragédia humana.
Que expectativa forma em relação ao retorno das atividades artísticas?
Estou me cuidando, protegendo a mim e aos outros, mas vivo a expectativa de voltar a fazer show e ter contato com o público, isso quando for possíve
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