Definir limites de regiões por meio de linhas no mapa não impossibilita a difusão de cultura por meio da música na América Latina. No cenário nacional, novos grupos buscam a mescla de ritmos, versos e idiomas que dialoguem com os países vizinhos. Samuel Mota, da banda Muntchako, diz que “assumir essa raiz latina tem acontecido mais na cena musical brasileira”. No mesmo sentido, Ju Strassacapa, da banda Francisco, el Hombre, pontua que “esse distanciamento cultural e de consciência entre o Brasil e o resto da América Latina estava carente só de algumas pontes”.
A paulista Francisco, el Hombre surgiu no passar do chapéu em praças e em estradas da América Latina. “A palavra que mais acompanha a banda é movimento”, define Ju Strassacapa. Andrei Martinez e os irmãos mexicanos Sebastián e Mateo Piracés-Ugarte completam a trupe. “Tudo o que nos movimentou geograficamente, nos movimentou culturalmente e emocionalmente’’ acrescenta, mostrando a característica central do grupo de trazer ritmos, folclore e elementos latino-americanos, acompanhados por letras que misturam português e espanhol.
Nos últimos oito anos, a primeira grande pausa na rotina foi na quarentena. Embora sem poderem se encontrar pessoalmente, três singles foram lançados nos últimos meses: Juntos, nunca sós, criada e gravada em um período de sete dias, Despedida, canção em homenagem à Gomes, ex-baixista que decidiu por seguir novos projetos, e Valer la pena.
Recentemente, reuniram-se em um projeto intitulado Casa Francisco, no qual os integrantes se juntaram em um único lugar para se reconectarem e darem continuidade às composições. Francisco, el Hombre e a banda chilena Moral Distraída, lançaram o single Baile Sudaca. O termo “sudaca” era um xingamento utilizado pelos espanhóis para se referirem aos latino-americanos. Em um vídeo, Manifesto Sudaca, afirmam que o termo “não é insulto, é identidade”.
Centro-Oeste
A ponte para o grupo brasiliense Muntchako foi a Cervejaria Criolina. Rodrigo Barata, fundador do espaço, conheceu Samuel Mota e Macaxeira em meio às rotinas de trabalho no lugar. A ideia era ser um grupo para estudo do afrobeat. Entretanto, o campo se expandiu para outros ritmos também latinos. “Desde a essência, por mais que tenha sido para estudos africanos, nós somos latino-americanos. É inerente, intrínseco em cada um”, afirma Barata.
Em uma mistura de cumbia, guaguancó, rumba além de outros gêneros, o Muntchako é também conhecido por canções instrumentais, com algumas vozes sampleadas. Cardume de volume e Vitamina central, segundo Samuel Mota, surgiram de vocais minimalistas. “É muito massa poder construir essa plasticidade sonora com algo mais imagético” complementa.
A banda estreou, em 2017, com o disco instrumental homônimo, produzido pelo músico paulista Curumin, e teve lançamento também em LP. As canções mais recentes vêm explorando mais da voz textual. A Terra é plana, feita com Felipe Cordeiro e Keila, possui uma característica mais da estética do tecnobrega.
O grupo revela que novas parcerias estão sendo feitas como, por exemplo, com Fábio Trummer, da banda pernambucana Eddie, com as gravações à distância. “Pode se dizer que é uma adaptação apocalíptica pandêmica das produções”, ironiza Samuel Mota
*Estagiária sob supervisão de Igor Silveira
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