Ressaltando a importância da unidade numa coprodução latina, o diretor pernambucano Camilo Cavalcante celebrou a vitória do filme que assinou King Kong em Asunción, como melhor filme tanto pelo júri oficial quanto pelo popular. Num discurso que prezou pela difusão de respeito, tolerância, justiça e afeto, o diretor enfatizou que o filme era dedicado ao ator candango Andrade Júnior, "o sol do filme". Morto ano passado, Andrade foi eleito melhor ator, postumamente. De Brasília também competia o longa Por que você não chora?, assinado por Cibele Amaral. O longa obteve prêmio especial do júri, a partir da menção à interpretação da atriz Elisa Lucinda. Entre os filmes estrangeiros, o colombiano La frontera foi considerado o melhor.
A voz da experiência
Foi dentro da formalidade, ainda que espontânea, de dedicar um prêmio recebido a todos os cineastas brasileiros, que o veterano diretor Ruy Guerra (do também vitorioso Aos pedaços) encontrou espaço para cravar o mais firme discurso contra o que chamou de "desgoverno" atual. Saudando o extinto Ministério da Cultura, Ruy contou com a filha e produtora Janína Diniz Guerra para enaltecer os antigos impulsos do Fundo Setorial do Audiovisual (da Ancine). Aos 89 anos, o cineasta moçambicano radicado no Brasil, onde criou clássicos como Os fuzis (1964) e Os cafajestes (1962), comemorou que a arte seja sinônimo de vida, e que resista.
Ruy Guerra, que ganhou o Kikito de Cristal em 2009 e concorreu em festivais como os de Cannes e de Berlim, além de ter sido vencedor do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro em 1970, celebrou a janela propiciada pelo 48o Festival de Gramado, para respirar ar puro, numa época em que "o ar puro nos é negado". Lembrado por filmes como a adaptação da obra literária de Antônio Callado Kuarup (1989), Ruy Guerra enfatizou a ideia de conviver com um "governo racista", dado o descaso com indígenas e quilombolas.
Comemorando a parceria feminina com a corroteirista Luciana Mazzotti, em Aos pedaços, Ruy Guerra aproveitou o discurso para denunciar a patente "tentativa de destruição de artes e ciências" atribuída ao governo. "Nada nos fará parar, porque artistas são animais que representam fonte de vida".
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