Gramado

Ruy Guerra e o ator local Andrade Júnior conquistam Festival de Gramado

King Kong em Asunción, filme pernambucano, trouxe gosto de vitória para Brasília, pelo prêmio ao derradeiro trabalho do ator Andrade Júnior, morto em 2019

Ricardo Daehn
postado em 26/09/2020 23:56 / atualizado em 27/09/2020 00:17

Ressaltando a importância da unidade numa coprodução latina, o diretor pernambucano Camilo Cavalcante celebrou a vitória do filme que assinou King Kong em Asunción, como melhor filme tanto pelo júri oficial quanto pelo popular. Num discurso que prezou pela difusão de respeito, tolerância, justiça e afeto, o diretor enfatizou que o filme era dedicado ao ator candango Andrade Júnior, "o sol do filme". Morto ano passado, Andrade foi eleito melhor ator, postumamente. De Brasília também competia o longa Por que você não chora?, assinado por Cibele Amaral. O longa obteve prêmio especial do júri, a partir da menção à interpretação da atriz Elisa Lucinda. Entre os filmes estrangeiros, o colombiano La frontera foi considerado o melhor.

A voz da experiência

Foi dentro da formalidade, ainda que espontânea, de dedicar um prêmio recebido a todos os cineastas brasileiros, que o veterano diretor Ruy Guerra (do também vitorioso Aos pedaços) encontrou espaço para cravar o mais firme discurso contra o que chamou de "desgoverno" atual. Saudando o extinto Ministério da Cultura, Ruy contou com a filha e produtora Janína Diniz Guerra para enaltecer os antigos impulsos do Fundo Setorial do Audiovisual (da Ancine). Aos 89 anos, o cineasta moçambicano radicado no Brasil, onde criou clássicos como Os fuzis (1964) e Os cafajestes (1962), comemorou que a arte seja sinônimo de vida, e que resista.

Ruy Guerra, que ganhou o Kikito de Cristal em 2009 e concorreu em festivais como os de Cannes e de Berlim, além de ter sido vencedor do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro em 1970, celebrou a janela propiciada pelo 48o Festival de Gramado, para respirar ar puro, numa época em que "o ar puro nos é negado". Lembrado por filmes como a adaptação da obra literária de Antônio Callado Kuarup (1989), Ruy Guerra enfatizou a ideia de conviver com um "governo racista", dado o descaso com indígenas e quilombolas.

Comemorando a parceria feminina com a corroteirista Luciana Mazzotti, em Aos pedaços, Ruy Guerra aproveitou o discurso para denunciar a patente "tentativa de destruição de artes e ciências" atribuída ao governo. "Nada nos fará parar, porque artistas são animais que representam fonte de vida". 

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  • Ruy Guerra venceu como melhor diretor, na mais recente edição do Festival de Cinema de Gramado
    Ruy Guerra venceu como melhor diretor, na mais recente edição do Festival de Cinema de Gramado Foto: Edson Vara/ Agência Pressphoto/ Divulgação
  • O saudoso ator Andrade Júnior conquistou, postumamente, Kikito de melhor ator
    O saudoso ator Andrade Júnior conquistou, postumamente, Kikito de melhor ator Foto: Aurora Cinema/ Divulgação
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