Tantas Palavras

Correio Braziliense
postado em 29/09/2020 22:50

Lendo Augusto dos Anjos no crepúsculo

 

Li-te até que se me escasseasse a vista
É sempre negro que o apogeu instaura
Regurgitando o Sol boca da noite aura
Por mais que a luz alabastrina insista

Como um antídoto para mágoa há Maura
Pra isso é bom que a canção persista
Vejo que a letra a escuridão conquista
Diluindo o verso, uma entropia rara
Envolvi-me como quem desata nós
Uma deserção benéfica aos avós
Sabendo em mim um déspota parente

Li; li-te até que a luz não existisse
Ressuscitando o Sol bemol mas lá em riste
Refeito assim a um outro oriente.

Gerson Deveras

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