LANÇAMENTO

Verde musical

Com ajuda de Ney Matogrosso, a brasiliense Fernanda Cabral se une ao mistério do universo em Tatuagem Zen

Correio Braziliense
postado em 06/10/2020 20:29 / atualizado em 06/10/2020 22:04
 (crédito: Andre Amaro/Divulgação)
(crédito: Andre Amaro/Divulgação)

No transcorrer das 12 canções do recém-lançado álbum Tatuagem zen, a cantora e compositora brasiliense Fernanda Cabral percorre a própria história e personalidade. Intérprete da dramaturgia, mas também da poesia cantada, Fernanda expressa a liberdade, a autenticidade e, sobretudo, a ligação com a natureza e com os sentidos.

“Se você escuta o disco do início ao fim, ele percorre todo esse caminho. O caminho das canções traz uma marca, uma história. Autenticidade é a característica mais importante de um artista e eu tive a sorte de ter uma grande mestre, a Irina Kouberskaya, com quem eu construí um caminho como intérprete e busquei esse lugar da autenticidade. Nesse disco, falo de coisas muito importantes para mim. O respeito à natureza, ao ser humano, à liberdade”, detalha Fernanda, lembrando da atriz e diretora teatral que conheceu na Espanha.

Gestado em Brasília, o álbum é totalmente autoral e, na produção, também carrega outra característica da cantora e compositora. Formada em artes cênicas, Fernanda convidou amigos que, como ela, dialogam com todas as linguagens e possibilidades do fazer artístico. Tatuagem zen foi produzido pelos brasileiros Sacha Amback e Chico Corrêa, além do espanhol Vincent Huma. O material conta também com a força poética de parceiros e escritores, como Lau Siqueira, cujo poema dá nome ao disco; Chico César, Juliano Holanda, Cássia Janeiro, Alberto Salgado, Makely Ka, Elisa Cabral, Leo Minax, Paula Calaes e o poeta espanhol Pablo Guerrero, com quem a brasiliense compôs La tierra gira en tu vientre.

“É um disco que foi feito quase todo com poetas, no qual tentei me colocar mais no lugar da melodia e da musicista que dá voz a essas poesias. Para mim, a poesia é um lugar de muita autenticidade e liberdade. É uma forma de exercer nossa capacidade metafórica. Me apoio em grandes letristas e poetas para pensar em questões que me movem como artistas”, explica a brasiliense. Ainda participam do álbum, o pianista Serge Frasunkiewicz, o contrabaixista Oswaldo Amorim e o baterista Misael Barros.

Encontros

Fernanda começou a construir este trabalho com o lançamento de Pássaro. A canção surgiu da foto de uma águia tirada pela cantora quando estava no Instituto Cultural Casa do Béradêro, na Paraíba, para um curso de teatro ao lado de Chico César. Da imagem feita por Fernanda, o cantor talhou a poesia e, imediatamente, falou: “Ela é feita para o Ney Matogrosso. Se a gente mostrar, ele vai querer gravar”.

Não deu outra. Pássaro se concretizou em um dueto entre a brasiliense e um dos mais importantes nomes da música brasileira. A canção rendeu a Fernanda um convite para lançar Tatuagem zen pelo selo Matogrosso Produções. “A poesia de Pássaro fala de um lugar de liberdade muito grande, ocupado por Ney. Além de ele se vestir de pássaro, ele é a máxima expressão da liberdade, da autenticidade. A gente se conheceu no estúdio e parecia que a gente falava a mesma linguagem. Foi tudo muito natural”, relembra a cantora.

“Adorei a música. De cara gostei muito dela. Tudo. A letra, a melodia, o arranjo”, conta Ney Matogrosso. Um assistiu à gravação do outro e, a partir dessa observação e dessa sintonia, surgiu o convite do selo. “Ela não tinha uma gravadora. Com o selo, tinha lançado um compositor do Rio Grande do Norte, o meu disco e estava começando a divulgar algumas pessoas. Tenho uma admiração muito grande pela Fernanda e, por outro lado, noto que a gente tem pontos em comum, a ligação com a natureza, com os índios”, detalha o artista.

O diálogo entre os dois também está traduzido em detalhes do disco Tatuagem zen, como explica Fernanda. “É o mistério dos encontros”, brinca a cantora. Sons de maracás e as falas de dois índios Guarani Kaiowá presentes em canções da produção remetem à terra de Ney. “Existia uma conexão. Estava acariciando esse universo artístico e me aproximando do Ney Matogrosso, porque estou trabalhando com uma vibração sonora que tem forte conexão com a história dele. Como artista e intérprete, estar ao lado de alguém como ele — de quem Chico Buarque diz ser o maior showman do Brasil — é motivo de alegria, me traz uma afirmação da vida para que eu siga nesse caminho da composição.”

O showman também sente tal sintonia: “Ela também é uma artista que vela a liberdade, a independência dela. Gosto logo de cara de gente assim; da maneira que ela canta. Bateu instantaneamente”. O cantor ainda detalha que procura, para o selo, aquilo que, instintivamente, lhe interessar esteticamente. “Não estou procurando sucessos instantâneos. Quero uma coisa requintada.”

Lançado nove anos depois do primeiro disco solo (Praianos, de 2011), Tatuagem zen abraça, de certa forma e de maneira inconsciente, o momento no qual é disponibilizado ao público. “Fala da força do pensamento, da conexão maior com a vida e com a responsabilidade que cada um tem com a própria força do pensamento”, avalia Fernanda. Quando os elementos das canções sobem ao palco como protagonistas, eles preenchem vazios, como em Até você voltar, uma parceria com Leo Minax. “É uma relação com esse mundo invisível muito importante do mistério, da imaginação, que nos une a todos. E o papel do artista é revelar esse mundo invisível”, completa.


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Tatuagem zen

 (crédito: Marcio Scavone/Reprodução)
crédito: Marcio Scavone/Reprodução

12 canções, Matogrosso Produções Artísticas, 2020. Disponível nas plataformas digitais

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