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Produção de Brasília, websérie distópica 'Planetelle' discute feminismo

A atriz Clarisse Johansson, acompanhada em cena pela mãe Felícia, propõe abordagem feminina e cômica de ficção científica, em 'Planetelle'

Ricardo Daehn
postado em 15/10/2020 10:51 / atualizado em 15/10/2020 15:33
 (crédito: Fac DF/ Divulgação)
(crédito: Fac DF/ Divulgação)

Atriz, autora e professora, Felícia Johansson admite a enorme queda por promover, na criatividade, senso crítico, tudo alinhado ao "poder transformador da arte, do teatro e da educação". Dentro da perspectiva, Felícia tem foco para o futuro, como aponta o novo trabalho, a websérie futurista Planetelle, que, a cada semana, tem um episódio disponibilizado no YouTube. Dirigida e criada por Felícia, a série também conta com a participação da filha dela (a atriz Clarisse Johansson) , extrapolando a realidade, e sistematizando ação em um planeta unicamente feminino.

De certa forma, a empreitada acolhe desejos expressos por Felícia, como produtora cultural. "Idealizo um futuro feminino com mais liberdade e menos violência. Precisamos de maior representatividade também. No teatro e no cinema, precisamos de mais diretoras, roteiristas, produtoras. Não podemos esperar que as tramas tenham mais e melhores personagens femininas — temos que criar nossas protagonistas", opina Felícia.

Para Planetelle, Felícia — sempre empenhada em expandir o projeto de extensão Teatro de Mentira, que conjuga tradição teatral e novas tecnologias — vê com certa infelicidade o diálogo estrito entre o tema da obra e a realidade presente. "O texto foi escrito em 2016 mas aborda temas como um apocalipse iminente, o fim do meio ambiente, o poder da mídia, a ganância e a ignorância dos poderosos", observa.

Cenários

Na trucagem de ambientes e cenários, Planetelle usa a expressão do chroma-key, como recurso gráfico. "Sempre adorei o uso e me interessava pelo making of de grandes produções para entender o funcionamento", conta Felícia, intérprete da Robô-K e da cientista Dra. Poly 100. Ela viu o jogo virar, com a larga utilização do chroma-key em computadores mais acessíveis e produções de baixo orçamento. "Com criatividade, podemos criar a produzir nossas próprias histórias. É incrível poder voar em uma nave espacial interplanetária feita com um absorvente interno", comemora Felícia, na base da brincadeira.

Ultrapassando questões políticas que, não ao acaso, envolvem governantes toscos, Planetelle esmiúça tópicos associados à intimidade feminina e à maternidade. "Em geral, há uma sacralização do assunto, com a imagem da mãe perfeita sob a qual nossa cultura foi construída. Mas nós, mulheres, sabemos que a relação entre mães e filhas é bem mais complexa do que propagam os clichês", demarca Felícia.

Elemento constante em muitas tramas de ficção científica, a busca por origens também habita Planetelle, num drama em que personagens podem ter sido criadas em laboratório. "A tecnologia não pode suprir afetos e robôs (ainda) não sabem cuidar de crianças. Em Planetelle há a crise do ninho vazio não porque as crias se apoderaram de asas e dos voos; o vazio decorre da ausência da natureza, da excessiva tecnologização de tudo e todos. É um ninho desumano, absurdo e risível", comenta Felícia.

Outra aventura

Buscar resultados práticos por meio da execução de TCC é o norte para o estudante Eduardo Sergio Teles, ao lado de outros quatro alunos Iesb da área de Cinema e Mídias Digitais, buscam caminho similar ao de Planetelle. O intuito de profissionalização da equipe derivou de uma pesquisa de mercado que apontou poucas obras de fantasia no audiovisual brasileiro. Daí nasceu o desejo de realizar Obstinado, piloto para série projetada para oito episódios. Seres diferentes e folclóricos, entre os quais Corpo Seco (uma espécie de zumbi), o fantasma Bradador, junto com a Cuca, o Curupira e o Saci, devem animar o enredo distópico.

"Já temos quase metade dos R$ 25 mil necessários para o piloto (em esquema de crowdfunding). Ele servirá de vitrine para um idealizado pitching junto às empresas de streaming", conta o estudante, diretor e pretenso showrunner. Realista e destinada a jovens adultos, a série pretende inserir aspectos de aceitação e diversidade nas temáticas. "Há muitos gêneros diferentes, com pegada futurista, para serem explorados no vasto conteúdo da cultura brasileira", avalia.

A criação do piloto, em "escala grandiosa", reunirá 15 pessoas de segmentos como cinema, design, experts em site, ilustradores, redatores e diretores de arte. "Vamos nos aplicar muito nos efeitos visuais e na maquiagem", reforça Eduardo Sergio.

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