O setor cultural na pandemia

Após mais de sete meses desde a suspensão dos shows e eventos, produtores da cidade buscam alternativas em meio as flexibilizações e o aguardo de uma volta efetiva

Adriana Izel
postado em 16/10/2020 21:08
 (crédito: Carol Souza/Divulgação)
(crédito: Carol Souza/Divulgação)

A suspensão de shows e eventos culturais fizeram parte das primeiras ações de combate a disseminação da covid-19. No mesmo dia em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou a pandemia do novo coronavírus, em 11 de março, o governo do Distrito Federal impediu as atividades com público superior a 100 pessoas. Até o dia 19 do mesmo mês, todas as ações culturais coletivas que seriam realizadas tiveram que ser canceladas.
Durante os mais de sete meses des de o primeiro decreto, houve momentos de flexibilização, como a possibilidade da realização de eventos de vários âmbitos culturais em formato drive-in e a volta das apresentações musicais ao vivo em bares, que deram certo alívio ao cenário. Mesmo assim, o setor ainda amarga os prejuízos da paralisação. Principalmente, porque não há previsão de uma retomada efetiva.
Muitos produtores tiveram que se adaptar para sobreviver ao período. Foi o caso de Chicco Aquino, Dj, produtor de eventos, entre eles as festas Tônica e Makossa, e sócio-proprietário do complexo Brooklyn Store Café e Bar, na Asa Norte. Assim como muitos produtores e artistas, Aquino apostou nas lives, trabalhando em algumas de destaque como do Dj Bhaskar, e foi reconhecido no edital Fundo de Apoio à Cultura (FAC) Prêmios Brasília 60 anos, que contemplou 500 agentes culturais. Depois, com a flexibilização, retomou as atividades culturais com as devidas proporções e cuidados. “Estamos conseguindo fomentar a área, gerando uma produção artística e cultural e de trabalho, mesmo que de forma pontual e numa escala gradual”, completa e cita o Festival Brooklyn Street Jazz iniciado no espaço na última quinta-feira e que segue até hoje unindo arte, música, moda e coquetelaria.
Apesar disso, o Dj e produtor acredita que é preciso ter mais avanaço. “Já passou da hora de discutirmos como seria essa retomada. Os profissionais de entretenimento e eventos ainda estão um pouco de mãos atadas. É uma grande perda de produção artística da cidade e também na parte econômica. No meu entendimento, precisamos estar preparados, porque, por enquanto, ainda estamos nesse processo de não saber quando teremos uma retomada gradual, ou efetiva”, completa.
Com 20 anos de experiência no cenário de eventos da capital, o produtor Edilson Araújo, que é sócio-proprietário da Alínea Produções, foi outro profissional da área que buscou novos meios de movimentar e fomentar o mercado. Ele também começou pelas lives. Até que decidiu fazer um evento híbrido no próximo dia 30, o 1º Festival Cerrado Reggae, no Drive Show, e que será realizado com recursos do FAC captados em 2018. “Achamos que era um momento importante de retomar de alguma forma. Mesmo que sem lucro. Essa retomada já vai incentivar outras pessoas também a ir voltando. Obviamente seguindo os critérios de segurança. Não queremos botar ninguém em risco”, completa.
Araújo também destaca que essa volta acaba tendo custos altos para os produtores e, consequentemente, para o público. “Fazer um evento se tornou mais caro. São mais pessoas trabalhando, um sistema de segurança e materiais que são agregados ao custos. Só que com um público reduzido”, explica. Apesar disso, ele se diz otimista e já vislumbra um calendário a partir do primeiro semestre de 2021. “Estamos nos planejando, mas sempre acompanhando a questão da pandemia. É melhor ter um planejamento e jogar fora, do que não ter nada”, avalia.

União

Neste período ainda difícil muitos produtores têm unido forças para tentar ajudar os trabalhadores envolvidos no setor. Criado há seis anos, o Fórum de Produtores Culturais têm sido uma opção. Idealizado por Aryane Sánchez com recursos próprios e de forma gratuita, a iniciativa tem ocorrido em 2020 em formato on-line mantendo a função de capacitar e promover a troca entre produtores e gestores culturais. Os próximos encontros virtuais serão em 20 de outubro, com Felipe Almeida do Mundo Bita, e no dia 19, quando Nerie Bento da Frente Nacional de Mulheres no Hip-Hop participa.
Mesmo mantendo o evento, ela se preocupa, tanto com a situação dela, quanto da cultura em geral: “Já havia um desmonte em progresso na área cultural. Há uma grande expectativa em relação à Lei Aldir Blanc e os recursos previstos através do Inciso II da Lei, pelo qual se espera receber auxílios para a manutenção de espaços e coletivos culturais. Mas até agora, estes editais não saíram no DF. É um dever cívico e humanitário que os órgãos de Cultura locais não percam esta oportunidade de reduzir os efeitos desastrosos da pandemia no setor cultural”, analisa.
Lançada em meio à pandemia a APTA — Associação das Produtoras Trabalhadoras de Arte e Cultura do DF é um coletivo voltado para a inserção das mulheres no cenário. Amanda Bittar é uma das integrantes e diz que esse tem sido um período em que as produtoras têm usado os próprios talentos para capacitarem umas as outras. “Estamos realizando minicursos e também fazendo trânsito político. Temos muitas mulheres na APTA que são do backstage e da parte técnicas, profissionais bastante afetadas na pandemia. Temos ajudado umas as outras nos editais, porque é visível que a cadeia está muito afetada. Muitas estão vivendo do auxílio emergencial ou esperando a Lei Aldir Blanc”, explica.

Apoio governamental

Desde o início da pandemia, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF lançou três editais emergenciais, “com o objetivo de atenuar a situação da comunidade artística do DF”: FAC Apresentações On-line, em que 86 projetos foram aprovados com aporte de R$ 2 milhões (com 25% empenhado e estimativa de geração de 3,1 mil empregos); Prêmios FAC Brasília 60, com R$ 2 milhões destinados a artistas e organizações que promovem cultura no DF (em que 90% dos contemplados foram pagos e os outros 10% estão com pendências); e Premiação Brasília Junina 2019, que destina R$ 501 mil a 40 grupos de quadrilhas (em processo de empenho dos vencedores).
Além disso, mais dois editais do FAC: o Visual Periférico, que destinará R$ 9 milhões para 90 projetos em fase de inscrição; e o Regionalizado, com R$ 13 milhões para 195 projetos, em análise de mérito cultural. A pasta ainda avança na quitação de dois editais de gestões anteriores do fundo: Áreas 2018, no valor de R$ 22,5 milhões para 241 projetos, até agora 73% foi pago; e Ocupação 2019, de R$ 7,1 milhões, em que 78% dos 87 agentes já foram pagos.
Também há esforços da pasta na execução da Lei Aldir Blanc. Os cadastros estão abertos até 30 de outubro. O aporte será de R$ 36,9 milhões. Os blocos de editais serão lançados em breve. Ainda, segundo a secretaria, há outras ações realizadas com as organizações da sociedade civil. “De janeiro a julho de 2020, a Secec executou 19 projetos em 31 regiões administrativas mais municípios da Região Integrada de Desenvolvimento do DF (Ride). O repasse total ultrapassou mais de R$ 6,4 milhões, atingindo um público de 1.241.000 pessoas (intensificado pelas plataformas digitais), com criação de 1.970 empregos diretos e 3.937 indiretos, movimentando a economia do Distrito Federal, sobretudo, no período da pandemia da covid-19”, explica ao Correio em nota.

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