Cinema negro

Diretora negra no comitê do Oscar, Viviane Ferreira quer oportunidades

A cineasta baiana percebe, com otimismo, incrementos no consumo do audiovisual negro, representativo da maioria da população

Ricardo Daehn
postado em 21/10/2020 08:53
 (crédito: Macario/ Divulgação)
(crédito: Macario/ Divulgação)

Segunda diretora negra a ter um longa-metragem de ficção concluído (Um dia com Jerusa, 2020), depois da pioneira Adélia Sampaio, Viviane Ferreira se vê, aos 35 anos, noutra posição de destaque Atualmente, ocupa relevante posto na imposição de subjetividades representadas no segmento audiovisual negro, uma vez que ajudará na escolha da indicação de filme brasileiro para o Oscar 2021. “A presença de uma realizadora negra
na presidência do comitê que definirá a obra nacional que representará o Oscar representa um amadurecimento e compromisso do setor audiovisual nacional com a busca por caminhos que possam tornar nossa atividade mais diversa e menos desigual, se aproximando a riqueza e pluralidade da sociedade brasileira”, comenta.

Advogada e mestre de Comunicação e Cultura pela Universidade de Brasília, Viviane espera por um favorecimento ainda no processo de integração entre artistas dos movimentos de audiovisuais negros do país e do mundo, no futuro desfrute de múltiplas criações no cinema. Algo ainda no "plano dos sonhos", como ressalta. Os instrumentos para a concretização de sonhos não faltam: atualmente, a cineasta é diretora artística do Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul, estendido até dia 30 de outubro.

Numa análise de conjuntura brasileira, ela percebe desafio na garantia de maiores investimentos e fomentos à narrativas geridas por empresas vocacionadas para o conteúdo audiovisual identitário, sem incorporação de estereótipos. Atenta ao ativismo, Viviane Ferreira, nascida na Bahia, é ainda presidente da Associação de
Profissionais do Audiovisual Negro. “De forma objetiva, a garantia e manutenção de eventos como o Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul e o fomento e maiores investimentos em narrativas e projetos geridos por empresas vocacionadas para conteúdo audiovisual identitário, sem dúvidas, auxiliariam, num novo cenário”, explica a diretora, sempre lembrada por levar um curta-metragem, estrelado por Léa Garcia, ao Festival de Cannes, em 2014, pela mostra Short Film Corner.

Com diálogo aberto a, no mínimo, 54% da população brasileira, Viviane não enxerga, jamais, os movimentos de cinemas negros no Brasil como restritivos, uma vez que representam “a audiência nacional”. “Me recuso a enxergar o país sob a ótica da dicotomia "pessoa pretas" e "pessoas brancas", e nisso o alcance dos conteúdos provenientes dos cinemas negros têm contribuído, visto que, estão sendo consumidos, acolhidos e compartilhados por pessoas de diversos grupos raciais e sociais distintos”, sublinha. O reconhecimento do país vem por meio de obras como Sem asas (Renata Martins) e da série Sintonia (de Kondzilla), ambas premiadas no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, e na conjuntura de anúncios de peças documentais como a de Juliana Vicente (Afronta) e de longa com Emicida. Isso, reforçado pelo destaque de Café com canela e Temporada, ambos disponíveis em streaming.

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