LANÇAMENTO

Trilhas clássicas, arranjos novos

O músico e produtor Pupillo, que trabalha com artistas como Gal Costa, Elza Soares e é ex-baterista da Nação Zumbi, dá nova roupagem a canções que marcaram novelas nacionais

Correio Braziliense
postado em 23/10/2020 20:07
 (crédito: Céu/Divulgação)
(crédito: Céu/Divulgação)


Após 23 anos como baterista da banda Nação Zumbi, e pelo menos dois produzindo e acompanhando outros artistas (como Gal Costa, Elza Soares, Céu e Nando Reis), o pernambucano Pupillo lançou o primeiro projeto autoral, Sonorado apresenta novelas. Ao lado de Thomas Harres (percussão e voz), Marcio Arantes (baixo e voz), Zé Ruivo (teclados, sintetizadores e voz), Guri (guitarra e voz) e Ângelo Medrado (caxixi e voz), o músico revisita trilhas sonoras clássicas de novelas dos anos 1970, com levadas do hip-hop clássico, sob a alcunha de Sonorado.
O projeto pode ser considerado uma espécie de estreia de Pupillo, que não se sente muito confortável com a definição. “É um pouco difícil, porque, agora, a gente está lançando esse disco e soa como uma banda, apesar de eu estar à frente. Mas, sem dúvida, é um projeto em que eu estou lançando algo que tem um carimbo meu como artista; mais como artista do que como produtor. Então, sim, vamos dizer que Sonorado seja o nome dado à minha carreira como artista”, admite. “Ainda é delicada, para mim, essa coisa, porque eu sempre fui um músico de banda, sempre trabalhei coletivamente, então, está sendo uma novidade falar sobre algo que seja lançado como o início de uma carreira solo”, pondera.
Foi por meio do hip-hop que ele chegou às trilhas sonoras de novela. E foi a partir do trabalho com a Nação Zumbi que ele se familiarizou com a cultura do hip-hop, um dos alicerces do Manguebeat. Em casa, durante a adolescência, apenas assistia às novelas por tabela, com a família. Mais tarde, imerso na cultura do sample e da discotecagem, descobriria na música feita para as novelas de 1969 a meados dos anos de 1970 um tesouro. “Muitas dessas canções são cultuadas pelo DJs, e foi dentro deste contexto que eu resolvi fazer esse projeto”, esclarece.
“Quando eu comecei a pesquisar, formar minha coleção de vinis, eu descobri que as trilhas de novela, nesse período, eram feitas especialmente para as atrações, e as emissoras contratavam arranjadores e músicos incríveis, que criaram um estilo próprio, e isso reverberou muito na música brasileira. Algumas foram compostas por artistas importantíssimos, como Antônio Carlos & Jocafi, Roberto e Erasmo Carlos”, aponta.
Depois desse período, ele avalia, esse zelo se perdeu. “O que era feito com um cuidado estético foi mudando de acordo com o que a indústria foi fazendo com as emissoras. “Desde os anos 1980, isso virou basicamente um negócio para as gravadoras. Vários artistas apareciam na rádio devido às novelas, e isso se inverteu. As gravadoras viram que era um excelente negócio colocar seus artistas nas trilhas, porque tinha uma audiência enorme”, conta.

Sampleado

Sonorado imprimiu roupagem moderna à música, importando elementos dos primórdios do hip-hop. Primeiro, por causa da predominância do breakbeat, batida que remonta às origens do estilo. Segundo, ao criar arranjos com ar de discoteca, valorizando o balanço em vez do virtuosismo dos instrumentistas. “A intenção é de que as pessoas possam dançar e ouvir a música, sem prestar atenção a algo específico, como normalmente se faz em um show instrumental”, destaca. “É como um DJ imaginário dando o play nessa música, como se estivesse discotecando.”
As músicas têm trechos em que os demais instrumentos cessam para que a sessão rítmica brilhe sozinha, ainda em referência ao estilo das discotecas. “É quase um chamado: pode samplear, porque foi feito e existe esse espaço na música, para isso”, completa.

*Estagiário sob a supervisão de Igor Silveira


Sonorado apresenta novelas

Álbum de Sonorado (projeto de Pupillo). Deck, 9 faixas. Disponível nas plataformas digitais (https://sonorado.lnk.to/SonoradoApresentaNovelasPR).

 

 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação