A cinco dias do Natal de 1996, formalizava-se o Programa de Extensão Bibliotecária, Mala do Livro - Biblioteca Domiciliar, por meio do decreto nº 17.927. A oficialização do importante projeto literário, nascido em Samambaia, ocorreu seis anos depois dos capítulos iniciais de protagonismo comunitário de Neusa Dourado Freire, bibliotecária baiana, radicada no Distrito Federal.
Há 30 anos, um círculo virtuoso iniciou-se a partir de uma história que, por meio da informação, passou a direcionar diversas outras. Neusa, hoje com 80 anos, conheceu por meio de um colega de profissão, a trajetória de Geneviève Patte. Assim como ela, era bibliotecária, e levava livros em uma bandeja para subúrbios de Paris, motivada a alcançar crianças que não tinham acesso à leitura. A baiana passou a refletir sobre o assunto.
Na (então) recente Região Administrativa (RA) de Samambaia, criada em 1989 para assentar famílias de invasões em diversas partes do Distrito Federal, só havia uma pequena biblioteca localizada na Casa da Cultura e, a partir dessa observação, a bibliotecária decidiu ampliar as possibilidades da cultura local, fazendo uma releitura do caso (em que a agente de mediação transportava histórias até os leitores), mas por meio de cestos de palha. “Adquiri duas cestas, selecionei um acervo básico e fui confiante a Samambaia, mas não encontrei praça com espaços para acomodar meu serviço de extensão”, relembrou Neusa, no artigo que escreveu para a edição de janeiro-junho de 2020 da Revista Eletrônica da ABDF, que a homenageia em editorial.
Entretanto, persistiu movida por uma força interior, que lhe dizia que a missão era “transformar o não leitor em leitor”. Assim, procurou líderes na comunidade local e propôs a criação de bibliotecas domiciliares. Eles contribuiriam com um espaço nas próprias casas, a referência na comunidade e o desejo de ter livros por perto; a Secec forneceria acervo e capacitação para lidar com empréstimos e devoluções. “Retomamos as duas cestas e as entregamos nas residências dos líderes comunitários Joana D’Arc Marçau e Antônio de Araújo, os pioneiros. Em 1995, alocamos mais um acervo em Samambaia e, a partir dessa data, a Mala do Livro rompeu suas fronteiras de origem”, contou para a revista.
Malas Multiplicadas
A medida em que as palavras se multiplicavam, as cestas foram cedendo à função para as engenhosas caixas-estantes em todas as RAs e em locais no entorno da capital federal. Comportavam entre 140 e 180 livros, numa seleção de obras adaptada aos interesses da comunidade, respondendo às demandas como um dos eixos do programa.
Além de livros didáticos e de referência, há literatura, entre clássicos infanto-juvenis e para adultos, do Brasil e do mundo. E também gibis e títulos ensinando novas habilidades e o empoderamento por meio do saber. Os números atualizados do projeto consistem 193 unidades, sendo 107 domiciliares e 86 em instituições públicas e privadas. A diretora da Biblioteca Nacional de Brasília (BNB), a principal biblioteca pública do DF e que coordena o esforço, Elisa Raquel Sousa Oliveira, calcula que a Mala do Livro atende atualmente 18 mil pessoas por ano, tendo alcançado em três décadas algo na casa dos 100 mil usuários. A história da Mala do Livro, assinada na maior parte por mulheres, traz muitos relatos de superação.
É possível fazer parte dos próximos anos do projeto, por meio de um cadastro no e-mail maladolivro@gmail.com , para se tornar agente da leitura; ou parte da Associação dos Agentes de Leitura e Contadores de História do DF – Aaconte, pelo e-mail aacontedf@gmail.com.
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