MÚSICA

Afetividade de mulheres negras

Geovana Melo*
postado em 29/10/2020 18:45 / atualizado em 29/10/2020 18:46
 (crédito: Ellen Salomão/Divulgação)
(crédito: Ellen Salomão/Divulgação)

 

O flerte com a ancestralidade e as novas percepções de vida e de sonoridades inspiraram o lançamento de Luedji Luna, Bom mesmo é estar debaixo d’água. O álbum perpassa os sentimentos da cantora, que usou as vivências enquanto mulher negra para dar origem ao trabalho que mistura jazz, MPB e música africana. Com produção musical assinada pelo guitarrista queniano Kato Change com a própria Luedji, o disco chega às plataformas digitais de música três anos após o álbum de estreia, Um corpo no mundo (2017).
Com Bom mesmo é estar debaixo d’água, a artista escolheu um assunto sobre o qual fala com propriedade: a afetividade de mulheres negras. Com 12 faixas, a baiana apresenta toda a lírica da poesia ao trazer parcerias com escritoras e poetas negras, como a brasiliense Tatiana Nascimento, a baiana Dejanira Rainha Santos Melo, as mineiras Conceição Evaristo e Cidinha da Silva, além da brasiliense de coração baiano Marissol Mwaba.

A escolha de usar poemas nas canções é uma questão estética e estilística que converge com o atual momento da vida da artista. “O primeiro disco significou uma busca por uma África ancestral. Neste, o continente é abordado de forma contemporânea e moderna. Com isso, a sonoridade do disco também mudou, mas eles ainda se completam de alguma forma”, conta a baiana.
A cantora foi ao continente para a gravação do álbum, mais precisamente, ao Quênia, onde conta com a participação de músicos nacionais, de Burundi e de Madagascar. Durante o trajeto de produção, ela descobriu que estava grávida e há três meses deu à luz Dayo. Bom mesmo é estar debaixo d’água foi gravado e produzido antes da pandemia do novo coronavírus, e estava previsto para ser lançado no primeiro semestre de 2020 para Luedji dedicar o segundo semestre para a maternidade. No entanto, a conjuntura atual mudou os planos e o trabalho chegou ao público no início do mês, em um “dupla gestação”.
“É importante a mulher negra amar e ser amada. Tive alguns relacionamentos e falar de amor dentro da comunidade negra é reconstituir a humanidade, apesar desse apagamento que existe”, afirma a cantora.
Trazendo como referência a água, elemento ligado às emoções e a Oxum, orixá africano ligado ao amor e a maternidade, Bom mesmo é estar debaixo d’água também apresentou um projeto audiovisual dirigido por Joyce Prado que está disponível no YouTube.

*Estagiária sob supervisão de Igor Silveira


Bom mesmo é estar debaixo d’água

De Luedji Luna. Independente, 12 faixas. Disponível em todas as plataformas digitais de música.

 

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