Uma mulher trans, militar e católica. Essa é Maria Luiza, personagem central que dá nome ao documentário de Marcelo Díaz. O filme conta a história da vida dela e de todos os desafios e mudanças envolvidos na trajetória de uma mulher trans dentro do meio militar. O longa chega aos cinemas hoje para mostrar nos detalhes o que Maria Luiza passou, das descobertas sobre si própria, interesses pessoais e toda vida dentro das Forças Armadas Brasileiras (FAB).
“Esse filme tocará as pessoas, ele é feito para gerar impacto diálogo e, principalmente, construir pontes”, explica o diretor Marcelo Díaz em entrevista ao Correio. O cineasta conta que a intenção é mostrar de forma delicada e bonita uma história que conversa de uma forma diferente com diversos públicos.
O filme retrata da infância à idade adulta da personagem central, apresentando desde como ela fazia tranças no cabelo do milho por não poder ter bonecas até o momento em que foi aposentada por invalidez da FAB sem provas de que ela estaria inapta ao serviço militar. “A história é basicamente sobre uma pessoa que quer ser feliz e que está tentando se colocar no mundo do jeito que ela é e sempre quis ser”, relata o diretor. O processo do filme durou 10 anos, contando o primeiro contato entre Marcelo e Maria até o produto final.
O principal ponto do filme está no formato em que retratam a história, o silêncio é protagonista ao lado de Maria Luiza. “O silêncio está em todas as partes do filme, a experiência identitária dela tem o silêncio como parte muito importante, então o silêncio fala muito no filme, inclusive o silêncio das Forças Armadas sobre o caso”, comenta Marcelo Díaz. “A escolha por estes momentos tem a ver com a resiliência de Maria Luiza, ela sempre teve essa qualidade em toda timidez dela”, adiciona.
“Nem eu conhecia o termo transsexual, eu só me entendia como mulher e queria viver neste mundo”, conta Maria Luiza. A militar da reserva sempre amou o serviço que exercia nas Forças Armadas, independentemente das mudanças que passava na vida pessoal. No entanto, Maria nunca teve a oportunidade de vestir uma farda feminina, foi aposentada por invalidez em meio ao processo de transição e luta para que o erro seja reconhecido.
Os preconceitos e processos difíceis que Maria Luiza passou são retratados no filme, não de forma a demonizar a FAB, mas no intuito de mostrar que muitas pessoas fizeram este tipo de ação com ela e a instituição ainda se omite a falar do caso, não foi permitido nem que cenas fossem gravadas em dependências militares. “Seremos resistência”, pontua o diretor sobre como o filme se posiciona em relação a toda LGBTfobia enraizada nas instituições brasileiras.
“Se as forças armadas entenderem que é possível se humanizar e assumir que erraram com Maria Luiza, darão um pequeno passo, mas pequenas coisas geram mudanças”, analisa Marcelo Díaz. “Quem fez isso comigo não foram as Forças Armadas, foram as pessoas que estavam lá no comando”, afirma Maria Luiza, que ainda tem fé que dias de menos preconceito virão tanto no meio militar quanto no Brasil.
*Estagiário sob a supervisão de Igor Silveira
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Da elegância à completa crueldade
Difícil priorizar os nomes estelares por trás da mais recente produção assinada por Robert Zemeckis, diretor de filmes memoráveis como Forrest Gump e da trilogia De volta para o futuro. Claro que, antes de mais nada, vale destacar a estrela Anne Hathaway, no protagonismo de Convenção das bruxas. A Grande Rainha das Bruxas, o papel por ela desempenhado, abre um portal de possibilidades: da insanidade à sensualidade, Hathaway (que esteve em O diabo veste Prada) capricha nos trejeitos e na voz esganiçada, e alterna ainda discursos inflamados e bizarros à semelhança de um Adolf Hitler. É ela quem lidera o elenco das grotescas bruxas que guardam obsessão em esmagar seres que tanto detestam: as crianças.
Numa narração inicial do filme, um personagem pontua a premissa do longa, e que espalha pavor entre os pequeninos: bruxas estão entre todos e circulam, livremente, misturadas às pessoas normais. Aos moldes de demônios, as bruxas recolhem garras por debaixo das luvas, não têm dedos nos pés, são carecas, sofrem com brotoejas e ostentam narinas alargadas. Entre habilidades, detectam as crianças que tanto detestam.
Em termos de produção, o filme traz prato cheio para Zemeckis (cultivador de efeitos especiais e criador de filmes sombrios como A morte lhe cai bem), que ainda está acompanhado de colaboradores como Guillermo del Toro (de A forma da água) e Kenya Barris (de Black-ish), ambos coautores do roteiro que bebe da literatura de Roald Dahl, autor morto há 30 anos. Criador do premiado Roma, o produtor Alfonso Cuarón também é chamariz para o terror infantil, recheado de aventura e comédia.
Entre os pirralhos repugnantes, aos olhos das vilãs do novo filme, está o órfão interpretado por Jahzir Bruno. Ele é que, desavisado, vai despertar um verdadeiro jogo de gato e rato com as bruxas reunidas num resort, durante um encontro destinado ao planejar de uma gama de maldades contra crianças. Como estratégia, se juntam para transformar pequenos inocentes em ratos.
Grosso modo, para quem assistiu a uma adaptação estrelada pela talentosa Anjelica Huston (nos idos de 1990), há significativas mudanças no contexto social do filme, com abrangência de representatividade. Toda a ação, antes transcorrida na Inglaterra, agora traz Chicago e o Alabama (há, por isso, implemento de questões raciais) como cenários. Na sequência, há passagem para o Golfo do México, reconhecido pela riqueza étnica. A magnética atriz Octavia Spencer (de Histórias cruzadas) entra em cena como a avó do menino, uma tutora com vocação de conselheira e curandeira.
Por fim, Convenção das bruxas parece trazer uma mistura de fitas como Alvin e os Esquilos, Ratatouille, e, sim, Venom, com a malévola persona de Anne Hathaway destilando crueldade, a meio passo de composição repleta de movimentos sinuosos e levitação, que ecoa de um transtorno à la Smeagol ao chique de Catherine Deneuve. Melhor de fato, como prega o filme, não aceitar doces de estranhos ou sedutoras estranhas.
Brasil no Oscar?
De uma lista de 19 títulos nacionais, a Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais destacou o documentário Babenco — Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou como o representante brasileiro para disputar vaga no Oscar como Melhor Filme Internacional, na cerimônia de 2021. Se chegar à reta final, depois de uma competição acirrada junto a 90 países, o longa de Bárbara Paz pode dar palanque internacional para uma segunda diretora brasileira no Oscar, depois que Petra Costa (produtora associada de Babenco) ter disputado prêmio por Democracia em vertigem, em 2020.
Estrela do longa brasiliense Por que você não chora?, Bárbara Paz traz um filme sobre a intimidade com o marido Babenco, morto aos 70 anos, em 2016. A estreia do documentário se deu no Festival de Veneza de 2019, reafirmando registros da “perplexidade (dele) perante a injustiça”, como costumava frisar o artista de dupla nacionalidade (era também argentino), sempre lembrado por filmes como Carandiru, Coração iluminado e Pixote, a lei do mais fraco, título que rendeu a Marília Pêra prêmio de atriz pela Associação dos Críticos de Nova York.
Cannes e mesmo o Oscar estiveram na trajetória de Babenco, indicado melhor diretor por O beijo da mulher aranha e autor de Ironweed, fita que credenciou Meryl Streep e Jack Nicholson na competição pela estatueta dourada. Morto em julho de 2016, Babenco teve parada cardiorrespiratória, após se recuperar de uma cirurgia. O Oscar ocorrerá em 25 de abril de 2021. No comitê de seleção, no Brasil, a entidade teve participações dos diretores Viviane Ferreira, Toni Venturi e André Ristum; além dos produtores Clélia Bessa, Leonardo Monteiro de Barrose Renata Maria de Almeida Magalhães. O diretor de fotografia Lula Carvalho completou a lista.
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