Para conhecer a linguagem autoral de Lázaro Ramos é preciso ouvi-lo, lê-lo, assisti-lo. Ficar atento às perguntas que ele faz. Assinando mais uma vez a direção de uma obra audiovisual, Lázaro apresenta, hoje, Dia Nacional da Consciência Negra, o especial Falas negras, na TV Globo. Motivado por fatos da história recente, como as mortes de George Floyd, João Pedro Mattos e do menino Miguel, o telefilme traz a proposta de contar, em primeira pessoa, a história de 22 personagens da vida real que tiveram importantes contribuições para a história da causa negra, entre 1600 e 2020. Sobre a proposta, Lázaro, diretor da atração, compartilhou com o Correio como encarou o que considera “o maior desafio pessoal”.
“A princípio, não aceitei porque é um assunto muito emocional para mim, e não sabia como eu lidaria com isso. Mas, quando eu tive contato com os textos, entendi que era um convite a olhar com maturidade para o que a história produziu nessa luta antirracismo, por justiça e liberdade. Afinal, ali não tem ficção”, destaca o artista. As temáticas sociais e políticas estão frequentemente inseridas nos projetos de Lázaro, o que para ele é algo difícil, mas é também a assinatura que busca com realizador. “Trabalho muitas vezes com essas temáticas e sempre me imponho o desafio de criar uma narrativa. Isso é difícil, porque existem amarras, mas é a minha proposta como diretor: para além do conteúdo, eu tenha também como provocar sensações por meio da linguagem”, completa.
Linguagem
Com o apoia do da equipe técnica e a habilidade cênica do elenco, composto por nomes consagrados e novos talentos, o diretor pôde colocar essa proposta em prática, trabalhando as simbologias por trás de cada fala. “A história de cada um será apresentada com uma certa simplicidade — serão trechos e momentos —, mas tendo uma força estética por meio de enquadramentos e da textura que Mauro Vicente criou para o fundo. Mas o foco mesmo, o meu trabalho de direção, foi sempre valorizar a palavra”, diz o diretor. “Isso só foi possível realizar por causa da parceria com a equipe que estava imbuída desse espírito de criar essa linguagem. Mas eu tenho sido muito feliz, porque acho que é um caminho importante de ser explorado.”
De forma remota, Lázaro conduziu por 10 dias os ensaios com o elenco, para, em seguida, iniciar as gravações. “Todos os atores e atrizes, sem exceção ficaram muito nervosos quando chegaram para gravar. Eu, a princípio, não entendi, mas, depois, compreendi que todo mundo estava se sentindo responsável por dar o melhor, por entender que esse é um momento raro”, ressalta.
Caminho autoral
São muitas as contribuições da carreira do multi-artista baiano para a cultura nacional. Isso se confere no teatro, no cinema, nos livros, nas redes, em entrevistas e nos trabalhos na tevê. Desde que decidiu ser ator, aos 15 anos, em Salvador, como parte do Bando de Teatro Olodum, Luís Lázaro Sacramento de Araújo Ramos vem aprimorando a composição de sua obra, e trazendo com ele um generoso acervo artístico, intelectual e cultural. O ator também tem uma parceria de sucesso com a célebre atriz Taís Araújo, com quem é casado há 15 anos, na vida e na arte.
Dentre as identidades que assumiu na ficção, Madame Satã, Foguinho, Ezequiel, Roque, o herói capoeirista Zé Maria dos Santos, André, Martin Luther King, Éder, Evilásio Caó, Mister Brau, entre outros, marcaram a carreira de Lázaro. Na literatura, além de Na minha pele (2017), escreveu os livros infantis Sinto o que sinto: E a incrível história de Asta e Jaser (2019), Cadernos sem rima da Maria (2018), Caderno de rimas do João (2015), A velha sentada (2010). Na direção, Lázaro assina peças, como O topo da montanha; A menina Edith e a velha sentada; documentários, como Zózimo Bulbul e Bando, um filme de…; e o primeiro longa-metragem, Medida provisória — O filme, que ainda espera a estreia. O mais recente trabalho, Falas negras, estreia hoje, depois da novela A força do querer.
Sobre os impactos que os poderosos discursos, como os que serão apresentados em Falas negras, podem gerar consciência social, Lázaro responde: “A minha intenção com esse especial é emocionar as pessoas. A parte da reflexão, do mais racional, dependerá do histórico, da intenção delas, e, sobre isso, não sei se tenho muito controle. A gente fez o especial, muito querendo que as pessoas saíssem tocadas e motivadas. Também, conscientes de que essa é a história que foi produzida, com acertos, erros, desafios, desejos. O que podemos fazer é dar espaço para as palavras e tentar emocionar as pessoas. E torcer, para que saiam inspiradas a encontrar o seu lugar de participação nessa causa”, finaliza.
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