Vida longa, Toquinho!

Violonista e compositor de grandes clássicos da MPB, artista apresenta novo álbum de inéditas em parceira com Paulo César Pinheiro

Devana Babu*
postado em 24/11/2020 20:39
 (crédito: Marcos Hermes/Divulgação)
(crédito: Marcos Hermes/Divulgação)

 

O cantor, violonista e compositor Toquinho, coautor de sucessos da Música Popular Brasileira, como Aquarela, Tarde em Itapuã, Regra Três, Que Maravilha e Samba de Orly, lança o álbum A arte de viver. É o primeiro álbum de inéditas dele em nove anos, sucedendo Quem viver verá, de 2011. “O tempo e a experiência exigem cada vez mais do artista um aprimoramento constante. Cada trabalho novo é um desafio de originalidade. Nunca tive pressa de lançar trabalhos inéditos. Faço no momento adequado”, explica o músico, em entrevista ao Correio.
Nesse tempo, Toquinho produziu bastante: “Tenho feito muitas lives, alguns shows híbridos e participado da divulgação do novo disco. Não parei de compor. Fiz um projeto chamado Toquinho: minha história em 20 canções para venda na internet, fiz parceria com Bráulio Bessa na música Ser Gentil, que se transformou numa campanha muito oportuna nestes tempos de isolamento, e estou entusiasmado com a nova experiência de participar de um desenho animado: Um Menino chamado Toquinho”, enumera.
As músicas têm todas as letras escritas por Paulo César Pinheiro, parceiro com quem Toquinho colaborou em 12 canções no álbum Mosaico, de 2015. “Conhecia, então, a forma simples e direta de trabalhar com Paulo. Quando surgiu a ideia desse novo disco, tinha tudo para dar certo: eu, com melodias no baú, e ele, com ânimo para trabalhar”, comenta o artista. “Aos poucos, fui vendo a possibilidade de fazer um trabalho único, um disco coeso. Paulo César é um dos grandes poetas da música popular brasileira, com estilo próprio, diversificado e objetivo. Acima de tudo, confiável. Aquele para quem você manda a melodia e sabe que vem tudo certo, na métrica, no ajuste das palavras à melodia e na temática inteligente e variada. Eu mandava as melodias e ele me devolvia com as letras exatas”, elogia. “Certa vez, mandei uma melodia e ele demorava com a letra. Pensei até que tivesse desistido. Quando recebi finalmente os versos, surgiu uma das mais lindas composições do disco, Rainha e rei”, narra.

No microfone

Paulo Cesar ainda participou, cantando, da música Tudo de Novo. O álbum tem ainda participações de Maria Rita, na música Papo final, de Camilla Faustino, em Roda da Sorte e Rainha e Rei, e do bandolinista brasiliense Hamilton de Holanda, em Amor pequeno. Rainha e Rei e Papo final foram lançadas como single em outubro, e ganharam videoclipes, disponíveis no YouTube. “Maria Rita é uma querida, canta tudo e com estilo próprio. Achava que faria um contraponto feminino perfeito na canção Papo final. Ela topou e ficou lindo”, comenta o músico, que reverencia também a parceira de longa data e o bandolinista: “Camilla Faustino é minha parceira de palco há quatro anos. Hamilton de Holanda toca seu versátil bandolim em Amor pequeno. Assim que gravei essa música, pensei que seria lindo que ela tivesse umas frases do Hamilton, um cara com uma criatividade incrível, e adorei o resultado”.
Outro destaque do repertório é a música Mão de Orfeu, que homenageia o amigo e ídolo Baden Powell, que morreu em 2000. “Baden foi meu ídolo, em minha adolescência. Carrego em meu estilo muito do que ele fazia no violão. Depois, vivi a emoção e o orgulho de dividir o palco com ele em várias oportunidades. Além do fato de ele ser um dos maiores e mais completos violonistas contemporâneos. Não podia deixar de homenageá-lo nesse trabalho feito com tanto bom gosto nessa música”, enaltece.

Traços

As grandes participações do álbum não param na música. A capa do álbum tem ilustração assinada por Elifas Andreato, artista plástico que já produziu capas icônicas para artistas como Chico Buarque, Martinho da Vila, Clementina de Jesus, Vinícius de Moraes, Milton Nascimento e uma lista gigantesca que ultrapassa os 300 itens, classificando-o como um dos maiores capistas da era do vinil no Brasil.
Elifas também produziu grande parte das capas dos discos de Toquinho. “Ele é um craque nisso, um artista inquestionável. Nossa longa amizade facilita os caminhos para o resultado. Essa capa é intrigante, valorizando a vida. Há que se olhar para o futuro, sem medo, mas não deixar de ressaltar os bons momentos vividos, representados pelas fotos, como espalhadas no tempo”, analisa Toquinho. “Elifas produziu capas de LPs geniais durante minha parceria com Vinícius de Moraes. A criatividade de Elifas é atemporal, perdurará sempre. Esse disco merece o requinte de sua criatividade”, conclui. A arte final é assinada pelo designer Luis A. Mielle.
Para Toquinho, o que diferencia este dos outros álbuns é a coesão entre as músicas. “Há uma unidade, todas as músicas foram feitas com o mesmo parceiro, facilitando a abordagem de vários ângulos sobre o mesmo tema, A arte de viver, o que não aconteceu em meus trabalhos anteriores”, explica. “A unidade temática está inserida na visão contemporânea da própria ‘arte de viver’ e suas contradições. E a estética está na beleza do disco, com todas as etapas muito bem cuidadas, conservando o violão como estrela principal, complementado por outros instrumentos, a começar pelas cordas em arranjos da época das grandes orquestras, valorizados por excelentes instrumentistas. Um edifício musical construído tijolo por tijolo”, complementa. Mas qual seria, para toquinho, a arte de viver? “É saber harmonizar trabalho, lazer e amor, fazendo predominar entre eles o entusiasmo de se renovar sempre”, ensina.

*Estagiário sob a supervisão de Igor Silveira

A arte de viver

De Toquinho. Deck, 11 faixas. Disponível nas plataformas
digitais e em CD. R$ 29,90.

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