Cultura

Concerto Cabeças comemora 40 anos da primeira edição no Parque da Cidade

Com apoio do FAC, história do Concerto Cabeças será contada em documentário produzido pelo mineiro Moacir Macedo

Irlam Rocha Lima
postado em 28/11/2020 06:05
 (crédito: Juan Pratginestos/Divulgação)
(crédito: Juan Pratginestos/Divulgação)

A ocupação de espaços públicos da capital com eventos artísticos, que vem ocorrendo frequentemente nos últimos tempos, tem um precursor: o Concerto Cabeças. Realizado inicialmente, entre o 1978 e 1979, no gramado da SQS 311, o projeto passou a ter como palco em 1980 a Rampa Acústica do Parque da Cidade, onde se manteve por 11 anos. Pela sua importância, esse evento se tornou referência cultural para o brasiliense, que agora o mantém na memória afetiva.

Isso foi reforçado em 18 de setembro de 2010, com o Encontro Cabeças, na Praça das Fontes do Parque da Cidade, do qual foram reunidos alguns dos artistas que contribuíram para perpetuar essa história e celebrar a realização, uma década depois. O principal responsável, porém, foi Neio Lúcio, idealizador, produtor e apresentador de todas as edições do concerto. Ao falar sobre sua “invenção”, ele disse: “O Cabeças trouxe o espírito de ocupação de espaço, com o que a gente tem de melhor dentro dessa urbis. Ninguém melhor do que os artistas para descrever, viver, cantar e encantar a cidade”.

O Cabeças, que foi plataforma de lançamento de cantores e compositores, como Oswaldo Montenegro, Renato Mattos, Eduardo Rangel, e os grupos Liga Tripa, Mel da Terra e Pessoal do Beijo, além, obviamente, de Cássia Eller; abriu espaço também para representantes de outras manifestações artísticas, como os poetas Nicolas Behr, Paulo Tovar, Luiz Turiba, Sóter, Luís Martins; os atores Ary Pararraios, Aluísio Batata, o Grupo Pitu (dirigido por Hugo Rodas), a trupe do Udigrudi, os artistas plástico Wagner Hermuche e Eurico Rocha e o cineasta Pedro Anísio.

Cartaz com arte de Zé Nobre
Cartaz com arte de Zé Nobre (foto: Ze Nobre/Divulgação)

“Estávamos todos começando quando surgiu o Concerto Cabeças, que se transformou numa oportunidade para a gente cantar, tocar e levar nosso trabalho ao público”, lembra Oswaldo Montenegro. “O Cabeças era também um ponto de encontro do brasiliense que ia ali para socializar. Vivíamos o final da era hippie e a palavra que regia aquele encontro era a liberdade. Até hoje, com mais de 50 anos de carreira, vivo procurando a sensação que aquelas tardes me proporcionaram”, acrescenta.

Um dos poetas de maior destaque em Brasília, com obra reconhecida em outras regiões do país, Nicolas Beher, que fez parte da a Geração Mimeógrafo, chama a atenção para os saraus que ocorriam dentro da programação do Cabeças. “Tanto eu como, Turiba, Sóter, Paulo Tovar, Martins e Chacal tínhamos espaço para mostrar nossos poemas. À época, eu já havia lançado os livros Iogurte com farinha, Grande Circular e Chá com porrada. Era um momento de celebração coletiva, uma coisa hedonista e vibrante”, ressalta.

Neio Lúcio tinha um projeto mais ambicioso, em relação ao Cabeças. Ele sonhava com a criação de uma espécie de museu virtual, para preservar a memória cultural daquela geração, que acabou não se materializando. Esse projeto, agora vem sendo levado adiante por Moacir Macedo, mineiro de Montes Claros e morador da capital desde 1965. Com o apoio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), o documentarista e produtor cultural está empenhado na realização de um documentário intitulado Concerto Cabeças — Memória Afetiva da Cultura Brasiliense.

“Desde 2018, estou colhendo depoimentos de músicos, poetas, atores, diretores, grupos de teatro, fotógrafos e cineastas para o documentário. Trabalho também na criação de um aplicativo multimídia, que apresentará o inventário do registro fotográfico do Concerto Cabeças, performances dos artistas, cartazes, matérias e recortes de jornais, com o registro daquelas animadas tardes de domingo, na 311/312 Sul e na Rampa Acústica do Parque da Cidade”, completa.

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