O som do sagrado brasileiro

Adriana Izel - Maria Baqui*
postado em 03/12/2020 23:24
 (crédito: José de Holanda/Divulgação)
(crédito: José de Holanda/Divulgação)

Filha de santo e candomblecista, Fabiana Cozza decidiu, em 2020, atender a um chamado antigo dos orixás. Há sete anos, ela recebeu um pedido espiritual para que fizesse um álbum em que exaltasse a cultura das religiões de matrizes africanas. “Segui com outros projetos, vieram outros discos, mas eu nunca esqueci esse pedido”, lembra. Há três anos, ela resolveu se dedicar ao disco, intitulado Dos Santos, que foi lançado neste ano nas plataformas digitais.

O álbum é composto por 19 canções, sendo 18 inéditas, sob o tema do sagrado brasileiro. Trazer a temática em novas composições foi um desejo de Fabiana, que não queria apenas apresentar, no CD, os toques já conhecidos dos terreiros. “A ideia não era reproduzir uma cerimônia de candomblé”, explica. Por isso, convidou compositores — da religião ou não — que pudessem fazer novas faixas. No time de autores estão nomes como Nei Lopes (Batucadinho ao lado de Everson Pessoa); Moyseis Marques (Bravura de Elegbara e Ogã de Ogum com Luiz Antonio Simas); e Pedro Luís (Oração a Ossain, composição com Carlos Rennó). A própria Fabiana também compôs uma das faixas, Manhã de Obá, com Ceumar.

Para transportar o ouvinte à cultura religiosa, a sambista não apenas canta a diáspora, como a coloca, ritmicamente, num disco de voz e tambor, como ela define: “Para esse trabalho, a gente pensou no elementar, no essencial. O fundamento (das religiões) é a voz e o tambor. Isso tem bastante no disco”, comenta. Por isso, havia seis percursionistas, três homens e três mulheres, na banda que gravou o material. “A partir dessa base essencial, a gente trouxe o contrabaixo, compondo tudo a partir dessas ressonâncias dos graves, e percebendo quais outros elementos caberiam no disco”, completa.

Apesar de não ter sido pensado na pandemia, Dos Santos chegou às plataformas em meio à quarentena e de um período da maior visibilidade às questões raciais. “O que eu não sabia era que esse disco sairia num momento de pandemia e num momento onde tudo o que diz respeito à cultura negra tem sido muito alvejado, sobretudo por esse governo que está aí. O que faz o disco ainda mais contundente, provocador, reflexivo e, claro, não deixa de ser um convite para que as pessoas tenham uma proximidade com a cultura sagrada negra e ameríndia”, propõe Cozza.

*Estagiária sob a supervisão de Igor Silveira

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Dos Santos

 (crédito: Reprodução/Tratore)
crédito: Reprodução/Tratore


De Fabiana Cozza. Independente, 19 músicas. Disponível nas plataformas digitais.

 

 

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