O isolamento social imposto pela pandemia do coronavírus não afastou músicos brasilienses. Parcerias sobreviveram ao distanciamento e continuaram dando frutos, como os singles Feliz é a estrada, do duo Apráticos, e Passando, da banda Aguaceiro.
Para registrar Feliz é a estrada, Flávio Delli e George Costa souberam improvisar. Sem estúdio disponível, o edredom e o colchão serviram como cabine de isolamento acústico e as percussões foram feitas com respiração e batidas no corpo.
A nova música do Apráticos propõe um diálogo sobre masculinidades e terapias alternativas, servindo ainda como guia para os próximos lançamentos do duo, que falarão de paternidade, mundo contemporâneo e os sentimentos da quarentena. George utilizou o tarô para descobrir como deveria ser a melodia e a temática da canção, que busca equilíbrio entre o masculino e o feminino.
“Pensei em usar o tarô para trazer mais luz para a temática e para o arranjo da música. Através do tarô, vi que existia um universo da paternidade tóxica que a gente pratica no dia a dia e que aprendemos. A música foi construída em cima do homem mais humano, mais sentimental. As outras músicas também terão o tarô na produção. A ideia é trazer outras linguagens para somar à visão não óbvia”, conta.
A letra da canção surgiu de uma depressão pós-parto enfrentada por Flávio Delli. “A conversa é um tabu. Muito homem abandona a casa, não assume as responsabilidades. A música diz que você também pode sofrer alguma coisa depois do parto, é normal, existem artigos científicos sobre isso. Procure ajuda, pode acontecer com você e não vai te deixar menos homem. A ideia é trabalhar a questão da masculinidade tóxica versus a saudável”, comenta Flávio.
Amigos de infância, Flávio e George formaram o Apráticos em 2017 com a ideia de unir música e poesia. O nome do duo surge como uma contradição ao sentido funcional de Brasília. “Queríamos olhar para a vida como uma forma diferente, que não sirva como algo útil, de imediato. Daí surge Apráticos”, explica Flávio.
Novos planos
A banda Aguaceiro, formada por Lucas Maranhão (guitarra e vocais), Gabriel Peres (bateria) e Davi Figueredo (baixo), trabalhava em um álbum quando a pandemia começou. Eles também estavam com as passagens compradas para São Paulo, onde tinham dois shows marcados. “Estávamos ensaiando para as apresentações quando a pandemia parou tudo. Cancelamos a viagem, os ensaios e ficamos cada um trabalhando da própria casa”, lembra Lucas.
Na quarentena, o single Passando, último lançamento do grupo, foi escolhido para ser produzido a distância. A faixa faz referência ao tempo, que muitas vezes passa despercebido.
“Cada um pensava na própria parte e a gente juntava no projeto. Só nos reunimos, cada um em um dia, para gravar no home studio aqui em casa”, explica o guitarrista sobre o processo de construção da música.
* Estagiária sob a supervisão de Vinicius Nader
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