Foi uma peça de teatro protagonizada por Taís Araújo e Lázaro Ramos que motivou o adolescente paulistano Pedro Henrique Côrtes, mais conhecido como PH Côrtes, a criar um dos principais canais sobre a história e a cultura negras do país. Ele tinha 13 anos quando assistiu a O topo da montanha, peça de Katori Hall centrada na última noite do ativista negro Martin Luther King Jr., assassinado em 4 de abril de 1968, em Memphis, nos Estados Unidos. “A curiosidade pelos líderes negros começou ali. A peça, obviamente, fala também sobre os direitos civis, o racismo e até mesmo o machismo. Ver pela primeira vez ao vivo dois ídolos meus da televisão, falando sobre aqueles temas, me impactou muito”, lembra o youtuber, hoje com 18 anos.
Alguns anos depois, lembrou-se disso ao sair da peça. A peça termina convidando o público a “passar adiante o bastão” da luta pela igualdade e pelos direitos civis. PH viu que uma forma de fazer isso seria transformando o canal de YouTube que havia criado um ano antes, como forma de superar a timidez, em um veículo para celebrar os líderes negros brasileiros. Surgia ali a hoje famosa série Meus heróis negros brasileiros, lançada em 2015, no Dia Nacional da Consciência Negra, 20 de novembro.
Responsabilidade
O primeiro herói escolhido para ter sua história contada foi Zumbi dos Palmares. Depois vieram muitos outros, como a guerreira Dandara; os escritores Machado de Assis e Lima Barreto; o poeta Cruz e Sousa; Ruth de Souza, a primeira atriz negra em uma novela brasileira; o humorista trapalhão Mussum; a jornalista Glória Maria; e as cantoras Elza Soares e Alcione, entre outros. Ao longo dos anos o projeto incluiu outros temas e passou a abordar estilo de vida, autoestima, cultura pop e entretenimento, mas sempre tendo o protagonismo negro como mote principal. À medida em que crescia, o canal ganhou também quadros como Pergunte ao PH, PH indica e Preto news, esse último com o bordão “As últimas notícias do universo negro aqui, para vocês”.
Com isso, PH superou a marca de 35 mil seguidores e passou a influenciar milhares de crianças e jovens. “Esse espaço de influência foi construído de maneira muito orgânica. O canal foi crescendo e os vídeos, alcançando mais pessoas. Eu tive a experiência de ver a dimensão do meu trabalho quando fui a escolas e descobri que as crianças me tinham como referência”, conta. “Depois que você começa a entender o que significa ter várias pessoas lhe assistindo, você veste uma capa de compromisso e de responsabilidade”, completa PH, que, além do projeto solo em frente às câmeras, dirige o PlanAfros, em parceria com o cineasta Valter Rege, e contribui com diversos outros projetos, alguns por meio do #YouTubeBlack.
O influenciador destaca também a importância de valorizar os heróis e heroínas do cotidiano e os diferentes legados. “Não espere as pessoas morrerem para celebrá-las”, defende, citando a mãe, Egnalda Côrtes como uma das brasileiras negras que merecem reconhecimento. “Eu já quis desistir porque não via marcas trabalhando com publicidade para criadores de conteúdos como o meu. Até que uma mulher negra, que não estudou publicidade, mas tem prática na negociação, foi lá e fez: a minha mãe. Por meio de diversas iniciativas, ela fundou a primeira agência de criadores de conteúdo negro da América Latina. Enfatizo isso para que o leitor saiba que nossas histórias merecem ser contadas. Já apagaram muita coisa de quem veio antes de nós”, finaliza.
*Estagiária sob a supervisão de Humberto Rezende
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