Festival de cinema

Em formato diferente devido à covid-19, Festival de Cinema chega à 53ª edição

Festival de Brasília do Cinema Brasileiro chega à 53ª edição, apesar do caótico 2020. Devido à pandemia de covid-19, filmes selecionados serão levados ao público pela tevê e internet

Ricardo Daehn
postado em 13/12/2020 07:00
 (crédito: divulgação)
(crédito: divulgação)

“Será um festival forte”, avisa o cineasta Silvio Tendler, curador dos 30 filmes que compõem o 53º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. “Vamos fazer mais de 10 mesas de debates, três oficinas e três mostras de filmes”, completa, antes de apontar, sem pestanejar, o “inquebrantável” elemento do mais candango dos eventos: a garra. Desde que surgiu, em 1965, a mostra nunca deixou de ocorrer. Em 2020, não será diferente. O evento transcorre entre 15 e 21 de dezembro, mas, desta vez, dada a pandemia de covid-19, de modo totalmente virtual.


Tendler destaca que esta edição traz a meta de ver o cinema brasileiro respeitado e preservado. “Nós precisamos manter o cinema, a cultura e a arte mais vivos do que nunca. Nossa luta continua”, pontua o diretor de filmes como Os anos JK. E o público, inquestionavelmente participativo, continua visto como uma marca fundamental do evento. “Ele sempre prevaleceu, mesmo durante os anos de ditadura. E, agora, com a pandemia, faremos o mesmo festival, com a mesma tenacidade.”


A conjuntura atípica fez com que apenas uma ficção — Longe do paraíso, de Orlando Senna — fosse incluída entre os seis títulos da Mostra Oficial Longa-Metragem. Há, portanto, cinco documentários no páreo pelo troféu Candango: os longas Espero que esta te encontre e que estejas bem, de Natara Ney; A luz de Mario Carneiro, de Betse de Paula; Entre nós talvez estejam multidões, da dupla Aiano Bemfica e Pedro Maia de Brito; Por onde anda Makunaíma?, de Rodrigo Séllos; e Ivan, O TerrirVel, assinado por Mario Abbade.
“Há uma tendência acontecendo: o documentário tem ocupado grande espaço da criação cinematográfica.

Quando a comissão de seleção veio falar comigo, eu disse que acatava a escolha soberana de todos, desde que não parecesse ser ideia minha, pelo meu histórico de documentarista”, conta Tendler. A presença “violenta” do documentário, como demarca o curador, trará ênfase em figuras históricas da realização cinematográfica no país e ainda lançará luz sobre personagens do imaginário cultural do Brasil, casos do diretor de fotografia Mario Carneiro, o diretor de cinema Ivan Cardoso e a criação literária Macunaíma, de fundo histórico, popularizada por Mário de Andrade.


Experiente em documentários, o baiano Orlando Senna comparece à seleção do festival defendendo a ficção Longe do paraíso, numa competição que se completa com um inventário cinematográfico de comunidade de ocupação mineira e ainda com uma história de amor que atravessa décadas, depois de incendiada por profundas e sentimentais cartas.

Parcerias

No pacote, há, ainda, 12 filmes na Mostra Oficial Curta-Metragens, e, na Mostra Brasília, oito curtas ao lado de quatro longas. Para fazer os filmes chegarem até o publico, foram feitas parcerias com o Canal Brasil, que incluirá na programação os seis longas da Mostra Oficial, e com a plataforma dos Canais Globo, na qual serão exibidas as outras 24 produções selecionadas. A solução, já colocada em prática em festivais como os de Gramado, Fortaleza e Recife, permite acesso ampliado a filmes que, antes, ficavam restritos aos cinemas e ao público local.


“É uma evolução de parcerias muito antigas com cada festival que estamos transmitindo. A adaptação dos eventos à pandemia foi tão urgente que criamos nosso próprio modelo de apoio”, comenta André Saddy, diretor do Canal Brasil. Ele vê como circunstancial a rede de contato entre os assinantes de todo o Brasil e os produtos de festivais. Sem visar específico aumento de audiência, ele ressalta que a prioridade paira na ajuda à realização de eventos “históricos e fundamentais para o nosso cinema”. Outras transmissões ocorrerão pelo canal no YouTube da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, caso do anúncio dos premiados, que será em 21 de dezembro, às 20h.


Bartolomeu Rodrigues, secretário de Cultura

Este Festival de Brasília do Cinema Brasileiro abraça a celebração dos 60 anos da cidade?
Este Festival entrará na história não apenas por ser a primeira vez que adotará o modelo virtual, uma inovação imposta pela pandemia. O que o marcará mesmo é sua resistência, o envolvimento de tantas pessoas que não mediram esforços para não interromper sua sequência e honrar uma tradição de 53 anos. Nesse sentido, acredito que Brasília está sendo merecidamente homenageada e que os 60 anos, enfim, não passaram em brancas nuvens.


Nada de Cine Brasília com sessões presenciais?
Não posso deixar de lamentar, claro, o fato de não realizar o Festival no Cine Brasília. Mas, o templo do cinema está lá, nos esperando. Em breve, acredito, vamos superar ou, melhor, vencer essa pandemia. Mas, não dava para gerar protocolos às pressas ou forçar uma exibição presencial que, no final das contas, pareceria muito artificial.

Nos moldes atuais, o festival ficou muito mais barato. Esta edição impactará as futuras?
Os recursos para a realização do Festival foram disponibilizados pelo governador Ibaneis Rocha dentro da previsão orçamentária do governo. Aliás, é bom que se diga que o governador é o grande responsável por tudo estar acontecendo. É o verdadeiro herói do festival, pois, não fosse sua decisão, teria simplesmente entrado na lista de eventos cancelados. Consideramos esses recursos suficientes, não buscamos patrocínios externos, economizamos o máximo e conseguimos valorizar cada centavo gasto. O montante disponibilizado foi de R$ 2 milhões, mas acredito que nem chegamos a usar toda a verba. Tivemos contra nós, é importante registrar, o tempo. Fomos atropelados, além da pandemia, por uma série de contratempos decorrentes do momento que estamos passando na cultura. Em certos momentos, foi estressante e a equipe teve de suar a camisa. Na verdade, a camisa continua suada. Mas, se não fosse assim, não seria o Festival de Brasília, não é mesmo?

 

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