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Streaming brasileiro focado na população negra lança 'Casa da vó'

A plataforma brasileira Wolo TV lança série com elenco e equipe de produção formada por 99% de negros

Geovana Melo*
postado em 24/12/2020 11:13 / atualizado em 24/12/2020 11:14
 (crédito: Júlio Limiro/Divulgação)
(crédito: Júlio Limiro/Divulgação)

Uma série protagonizada por uma família preta não deveria ser novidade em um país como o Brasil, em que 54% dos brasileiros se declaram negros. No entanto, a falta de conteúdos audiovisuais representativos impulsionou a criação da Wolo TV, novo serviço nacional de streaming com produções focadas na população negra. A plataforma estreia nesta sexta-feira (25/12) com o lançamento da comédia original Casa da vó, estrelada pela atriz e cantora Margareth Menezes e dirigida por Licínio Januário.

É a primeira vez que a baiana encara uma protagonista. Há sete anos, ela estreou como atriz na minissérie O canto da sereia, da Rede Globo e, agora, dá vida à Teresa, a figura central da sitcom. A história da personagem vivida por Margareth converge com a de muitos brasileiros: ela saiu da Bahia para tentar a vida em São Paulo, onde consegue um cargo público. A ex-funcionária pública bem-sucedida abriga os quatro netos na própria casa, no tradicional bairro do Jabaquara.

“Existem algumas coisas na Teresa muito parecidas comigo, como o fato de ela ser uma pessoa batalhadora e determinada. Minhas conquistas profissionais têm muito a ver com isso, com foco e direção”, declara Margareth Menezes em entrevista exclusiva ao Correio.

Assim como a avó, os netos se mudam das cidades natais para tentar a vida na capital paulistana e Teresa será o braço que irá ajudá-los a driblar as dificuldades para alcançar o sucesso. Com cinco episódios de 30 minutos, a produção conta com 99% do elenco e equipe negros, e busca produzir narrativas positivas e representativas para essa população.

“É uma iniciativa inovadora e necessária no Brasil. É até meio atrasada, por que a gente está precisando, há um tempo, desse núcleo de produção, além de trazer à tona os profissionais excelentes que temos e de reverenciar a nova geração, tem uma galera muito boa”, pontua a cantora.

Vitalidade

Teresa é a paz que a família encontra para o estresse do cotidiano. Enquanto o neto Wellington Neto é o gênio debochado, Dan é o digital influenciador nas redes sociais e André, um artista que vive brigando com a irmã Ana, que é advogada e a única entre os irmãos que tem um trabalho fixo. Atualmente, Dona Teresa é proprietária de um salão de beleza popular na cidade, o local é cenário de todas as fofocas da região. “Ela é uma vencedora e uma âncora para os netos alçarem voos maiores. Ela tem 70 anos, mas tem uma vitalidade, é moderna, uma mulher forte, tem personalidade e vontade de viver”, descreve a Margareth.

Inspirado nos clássicos estadunidenses Um maluco no pedaço e Todo mundo odeia o Chris, o enredo do programa traz o dia a dia de todos os integrantes da família atrelados a temas sérios como racismo, que é abordado por meio de uma capa de humor, sob a máxima “seria cômico, se não fosse trágico”. Além de Margareth Menezes, fazem parte do elenco o rapper Rincon Sapiência, os influenciadores Jacy Lima e Dum Ice e o ator Wilson Rabelo.

“A história fala sobre a consequência do racismo estrutural, que faz com que jovens negros não tenham oportunidades dignas no mercado de trabalho. Esse é um dos assuntos mais discutidos no Brasil atual, principalmente, em decorrência do movimento Vidas Negras Importam. Por outro lado, a história da série também mostra como as pessoas negras conseguem levantar a cabeça, sorrir e seguir em frente, mesmo diante de tantas adversidades”, descreve o idealizador Licínio Januário.

A série foi gravada durante a pandemia e seguiu todos os protocolos de seguranças a fim de evitar a propagação da covid no set. “A gente fazia o teste de covid toda semana, ensaiava com a máscara e só tirava na hora de gravar. Foi um cuidado rigoroso, mas valeu a pena, não tivemos um caso de covid no elenco. Sou testemunha que usar máscara e álcool em gel fazem a diferença”, pontua a atriz. “Não é só pelo coronavírus ou pela vacina, é também pelo autocuidado”, completa.

Casa da vó poderá ser adquirida individualmente no modelo pay-per-view — quando o usuário paga individualmente pelas séries e pelos filmes que deseja assistir. Para isso, basta acessar o site da plataforma e efetuar a compra.

Wolo TV

A palavra “wolo” é uma expressão africana que expressa felicidade. Em inglês, eles a interpretam como só se vive uma vez. Sob essa premissa, a Wolo TV é uma iniciativa do angolano Licínio Januário e do brasileiro Leandro Lemos. A plataforma é um serviço de streaming global focado em produzir conteúdos que representem a população negra brasileira.

“Essa plataforma é importante porque a gente quer acelerar esse processo e ter algo voltado para a gente. Estamos aqui há tanto tempo e não tem um serviço nacional voltado para as nossas produções e nós produzimos tanta coisa. Precisamos de capital internacional, se dependesse só do Brasil, a gente não tinha mais racismo, então, essas soluções vêm de fora”, afirma Licínio.

A princípio, Casa da vó será a única produção da plataforma. A equipe analisará as demandas conforme a audiência e os resultados da série. Até 2022, eles pretendem crescer e lançar um catálogo completo. “O nosso sonho para 2021 é fazer mais duas produções. Ou séries, ou filmes ou talk shows’, adianta o cineasta.

Confira outras produções

Todo mundo odeia o Chris
Ambientado na década de 1980, Chris é um adolescente que vive no Brooklyn, em Nova York, ao lado da família composta pelo pai Julius, a mãe Rochelle, e os irmãos Tonya e Drew. A série estreada em 2005 contém quatro temporadas e se popularizou no Brasil ao abordar as dificuldades e o cotidiano dos cinco personagens. A comédia dramática é inspirada nas experiências pessoais do ator e comediante Chris Rock.

Um maluco no pedaço
Will Smith mostra um retrato aproximado da vida real. Em Um maluco no pedaço, a mãe dele o envia da Filadélfia para viver com os tios ricos Phil e Vivian em Bel-Air, Califórnia, onde ele mora e se diverte com as trapalhadas dos primos Carlton e Hilary. Com seis temporadas, a série da década de 1990 ganhará uma versão dramática produzida por Smith.

Eu, a patroa e as crianças
O amoroso pai de família Michael Kyle engravidou Janet, quando ela ainda era uma adolescente. Os dois se casaram e tiveram três filhos, mas o fantasma da própria história faz com que Michael alimente um verdadeiro pavor de que o mesmo aconteça com os filhos. Por isso, ele sonha com uma família à moda antiga, mas, na prática, vive uma realidade bem diferente.

Black-ish
Dre Johnson tem um excelente emprego, uma esposa, quatro filhos e uma ótima casa em um bairro nobre nos Estados Unidos. Porém, como um homem afro-americano, ele passa a questionar a influência deste sucesso na identidade étnica e cultural da família. Com 7 temporadas, o programa, de 2014, aborda questões como colorismo, racismo e ascensão social.

BlackAF
A sitcom americana foi criada por Kenya Barris e lançada na Netflix em 17 de abril de 2020. A produção revela e explora o mundo confuso, sem remorso e muitas vezes hilário do que significa ser uma família negra com dinheiro tentando acertar em um mundo moderno onde o “certo” não é mais um conceito fixo. Em junho de 2020, a série foi renovada para segunda temporada.

Mister Brau
Mr. Brau é um cantor popular casado com Michele, empresária, coreógrafa e esposa controladora. Ele é emoção, ela é razão. Os dois vivem brigando, porém, um não vive sem o outro. Juntos, eles e a família servem de inspiração para muitos casais. A produção brasileira lançada em 2015 é estrelada por Lázaro Ramos e Taís Araújo.

*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira

Casa da vó
Série da Wolo TV, com seis episódios. Por R$ 8,99.

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