Literatura

Iniciativas voltadas para a leitura infantil se adaptam à pandemia

Iniciativas voltadas para a leitura infantil se reinventam em decorrência do distanciamento social e valorizam o protagonismo da meninada

Correio Braziliense
postado em 29/12/2020 09:01 / atualizado em 21/08/2023 13:00
Crianças e os livros personalizados da plataforma Dentro da História -  (crédito: Dentro da História/Divulgação)
Crianças e os livros personalizados da plataforma Dentro da História - (crédito: Dentro da História/Divulgação)

O papel dos pais na formação escolar de uma criança é essencial e, em tempos de pandemia e isolamento social, este papel torna-se tanto mais proeminente quanto mais desafiador. No período de férias, o desafio só se intensifica. A internet e os livros são aliados poderosos tanto para a educação dos pequenos, quanto para o lazer deles.

De acordo com a quinta edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, com dados recolhidos em 2018, e divulgada no final deste ano, os índices de leitura aumentaram entre as crianças, o que indica a importância de continuar estimulando esse tipo de atividade entre elas para formar, além de cidadãos melhores, uma geração de leitores no futuro.

Para ajudar os pais nessa tarefa, o Correio conversou com representantes de alguns projetos que podem ser acessados a distância e selecionou algumas dicas.

 

Crianças e os livros personalizados da plataforma Dentro da História
Crianças e os livros personalizados da plataforma Dentro da História (foto: Dentro da História/Divulgação)

 

Interação

No site Dentro da História, a criança e os responsáveis deparam-se com um catálogo repleto de títulos com personagens que a meninada adora, como os da Turma da Mônica, Patrulha canina, Mundo Bita, Barbie, Disney e Heróis da DC. A diferença dos livros da editora para os outros é que, na plataforma, a criança passa a fazer parte da história do livro.

Funciona assim: a criança, ou os pais, escolhem o título que querem comprar, depois fazem um avatar personalizado, colocam o nome e, então, a criança aparece nas páginas do livro, interagindo com seus personagens favoritos. O livro, impresso, chega em casa, mas é possível lê-lo na íntegra, gratuitamente, no próprio site. “A plataforma é extremamente amigável para a criança. A ideia é que ela possa interagir e, mesmo o adulto, que, às vezes, é um pouco mais resistente à tecnologia, entra e navega de forma amigável”, explica a pedagoga Cláudia Onofre, especialista em educação, supervisão e administração escolar com mais de 30 anos de experiência, que atua como consultora pedagógica no projeto.

O Dentro da História foi fundado em 2016 pelos empresários André Campelo, Flávio Aguiar e Diego Moraes, reforçados depois por Felipe Paniago, que apresentaram uma proposta para a Maurício de Sousa Produções e aceitaram o desafio de, em 40 dias, montar uma bienal do livro em São Paulo tendo como grande atração um estande em que as crianças montavam o livro em um totem e o viam sendo impresso, na hora, em uma gráfica montada lá.

O projeto migrou para a plataforma, que, em quatro anos, já teve mais de 15 milhões de acessos e vendeu mais de 400 mil livros impressos sob demanda. Cerca de 35 funcionários fixos trabalham no empreendimento, que já conta com títulos originais no catálogo. “A grande sacada é que a criança tenha um sentimento de pertencimento, porque ela é a protagonista da história. Esse momento em que ela está navegando pela plataforma possibilita diversos aprendizados. Dá para trabalhar a questão socioemocional, educação financeira, conhecer o eu e o outro e introduzir a tecnologia, com sabedoria”, aponta a pedagoga.

Ela esclarece ainda que o projeto se insere nas diretrizes da Base Nacional Comum Curricular ao valorizar o protagonismo infantil. “Com histórias personalizadas, ajuda significativamente a retenção de conhecimento e tem um aprendizado de até três vezes mais novas palavras pelas crianças”, afirma, citando o estudo Reading personalized books with preschool children enhances their word acquisition, da The Open University, do Reino Unido.

Diferenciados

A editora argentina Catapulta é especializada em livros interativos e imersivos para crianças, que vêm com acessórios para brincar, como canetinhas diferenciadas ou um livro de receitas que vem com uma espátula. A empresa chegou ao Brasil em 2005, mas a primeira filial no país foi instalada em 2015. “Quando a Catapulta chegou no Brasil, não existiam livros com esse tipo de complementos, então foi uma novidade muito grande e vem fazendo sucesso, crescendo a cada ano”, afirma Carmen Parera, diretora da editora no Brasil.

Ela observa que, além dos complementos, o diferencial da editora está no padrão de qualidade das publicações. “Quando você oferece um livro a uma criança de 1 ano, (o livro) tem que ter uma certa durabilidade, cantos arredondados, e a gente faz questão de manter a qualidade”, destaca. A editora trabalha com a adaptação de títulos que fazem sucesso nos Estados Unidos e na Europa, traduzindo e adaptando à realidade das crianças brasileiras.

Durante a pandemia, as vendas caíram justamente por conta das características táteis dos livros. “Livro infantil é uma coisa que os pais gostam de manusear na livraria”. Entretanto, a editora fortaleceu o e-commerce e vem se adaptando ao contato virtual com os clientes. “Fizemos uma pesquisa e percebemos que mais mulheres leem nossos anúncios, na faixa de 24 a 34 anos. As jovens mães. E eu percebo essa mudança no país, que as mães querem fazer com que seus filhos se tornam leitores, que comam comida saudável, e o objetivo da catapulta é estimular a participação da família”, Carmen analisa.

A Catapulta conta com uma equipe de pedagogos que auxiliam na seleção e adaptação dos títulos, e as coleções são feitas pensando nas faixas de idade de cada criança. “É importante que o conteúdo seja muito claro e acessível para as idades.”

Brinquedoteca

Em atividade desde 2005 em São Sebastião, a Brinquedoteca Comunitária Ludocriarte oferece às crianças atividades lúdicas e educativas no contraturno da escola, dando acesso a uma variedade de livros e brinquedos aos frequentadores. Este ano, a associação toca o projeto Direito de Brincar, financiado pelo Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente, que atende 110 crianças e adolescente.

Com o advento da pandemia, a instituição teve de adaptar o projeto para a nova realidade de distanciamento. Após um mês de planejamento, pesquisas sobre a acessibilidade digital das famílias, consultas e conversas, a brinquedoteca conseguiu criar maneiras de continuar as oficinas de forma digital, seja acompanhando as crianças pelo WhatsApp, fazendo encontros pela plataforma Zoom ou transmissões no YouTube.

Desde então, a Brinca, como é carinhosamente conhecida pela comunidade, tem transmitido semanalmente uma live, aberta ao público, com brincadeiras, oficinas de criação de jogos, origami e outras atividades, além, claro, de muita contação de histórias. “Nessa parte de criação e contação de histórias, que é o nosso carro-chefe, há o processo de criar junto, estimular que as crianças tragam a suas percepções, suas reflexões sobre o mundo, e transformem isso em história, que depois vai ser registrada no livro. A gente criou essa metodologia ao longo dos anos, e agora o desafio é fazer isso no contexto da pandemia”, conta o educador Isaac Mendes, coordenador pedagógico da brinquedoteca.

Além de ter uma vasta coleção de livros bem selecionados, incluindo alguns adquiridos especificamente para o projeto Direito de Brincar sobre temas como saúde emocional, a brinquedoteca conta com a própria editora, que publica os livros produzidos colaborativamente pelas crianças. A novidade é que alguns destes livros, além de parlendas, histórias de domínio público ou licenciadas pelos autores, serão contadas pelo podcast Brincast, outra alternativa encontrada pela instituição para interagir com as crianças nesse período. O podcast pode ser acessado no Spotify, já que conta com três episódios, e contará também com entrevistas com as crianças e adolescentes.

Outro projeto iniciado na pandemia foi a distribuição de cestas com materiais artísticos como cola, papel crepom e miçangas, para as crianças do projeto, que não puderem comprar os materiais, possam fazer as oficinas em casa. A cesta vem ,também, com um gibi, livros e um jornalzinho feito pelos próprios alunos da Brinca. Os pais vão à brinquedoteca, em horário marcado e individual, retirar a cesta dos filhos, o que é uma oportunidade para a equipe dialogar e engajar os pais, essenciais, segundo Isaac, para o processo. No site da brinquedoteca, é possível conhecer melhor o projeto, acompanhar as redes sociais e ficar por dentro das novidades.

*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira

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