HISTÓRIA

Clube da Bossa completa 20 anos em Brasília lutando pela boa música

A capital federal sedia o único espaço destinado ao gênero imortalizado por João Gilberto, Roberto Menescal e outros grandes nomes

Irlam Rocha Lima
postado em 15/01/2021 06:00
 (crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press)
(crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press)

Durante uma conversa, há duas décadas, com Roberto Menescal, Marcos Valle, Wanda Sá e o falecido Severino Filho, um dos fundadores do grupo vocal instrumental Os Cariocas, Dikran Berberian quis saber por que, no Rio de Janeiro, não havia um lugar em que, principalmente o turista estrangeiro, pudesse ouvir Bossa Nova. O que levou o engenheiro, professor universitário, escritor e amante deste estilo musical a fazer a pergunta é o fato de, ele saber da existência de vários locais em outros países, nos quais gêneros característicos como jazz, blues, canção e tango são tão valorizados — citando Nova York e New Orleans (EUA), Paris e Buenos Aires.

Segundo ele, em congressos técnicos no exterior, tomou conhecimento da estranheza de outros participantes, originários de diferentes países, sobre o fato de não encontrar material suficiente para pesquisas sobre a Bossa Nova, que consideravam um vetor musical maravilhoso. “Sempre considerei um absurdo a inépcia dos governantes brasileiros em divulgar, no exterior, a nossa música, tão respeitada e reverenciada internacionalmente”, frisa.

Apesar de não ser músico profissional, ao juntar todas as informações, Berberian, movido pelo espírito de cidadão, teve a iniciativa de fundar, há 20 anos, em Brasília, o Clube da Bossa Nova. As primeiras reuniões tiveram como palco a Livraria Musimed, na 504 Sul. Em seguida, com a total adesão de cantores e músicos, os encontros, sempre aos sábados, às 11h30, passaram a ocorrer no Teatro do Sesc (na mesma quadra da W3), com capacidade para 100 pessoas.

Em dezembro de 2006, houve a eleição e a posse da primeira diretoria da instituição, tendo o fundador como presidente, comemorada com memorável show de Os Cariocas (considerado o grupo do movimento bossanovista), que marcou também a inauguração oficial do auditório do Museu Nacional da República. Três anos depois, as apresentações passaram a ser no então recém-reformado Teatro Sílvio Barbato, do Sesc, no Edifício Eurico Dutra, no Setor Comercial Sul, com entrada franca, assistidos regularmente por plateia de 180 pessoas — lotação do espaço.

O sucesso do clube chamou a atenção de artistas nacionais. Roberto Menescal, um dos pilares da Bossa Nova, foi o primeiro a se apresentar ali, em 2010, e depois voltou outras vezes. Em uma delas em duo com Márcia Tauil, cantora e compositora mineira, radicada em Brasília, lançou o álbum Elas cantam Menescal, com uma das faixas intitulada Clube da Bossa, de autoria dos dois. O compositor e violonista disse ao Correio que tem trabalhado bastante durante a longa quarentena, imposta pela pandemia da covid-19. “Estou ansioso para voltar a Brasília e mostrar novos trabalhos, no âmbito do Clube da Bossa”.

Resistência

Para Menescal, o Clube da Bossa “é um espaço de resistência do estilo musical originário do Brasil mais bem avaliado e acolhido em várias partes do mundo”. Ele acrescenta: “Infelizmente, não contamos com um similar no Rio de Janeiro, berço da Bossa Nova, onde quem chega aqui, vindo do exterior, não encontra um local para que possa apreciar o gênero. A bossa, o choro e o samba são responsáveis pelo fortalecimento da música popular brasileira e temos que valorizá-los cada vez mais”.

Responsável pela programação da entidade há vários anos, a produtora Marizan Fontenele calcula que, desde a criação, o Clube da Bossa promoveu algo em torno de 500 shows. “Entre as atrações nacionais, estiveram aqui, além de Menescal, outros destacados nomes da Bossa Nova como Carlos Lyra, Marcos Valle, Wanda Sá e Os Cariocas, além de Leny Andrade, Zé Luiz Mazziotti, Maurício Einhorn, Jaques Morelembaum, Cristovão Bastos, Nelson Faria, Carol Saboia, Cris Delano, Paula Santoro e o Quarteto do Rio”, lembra.

Mas, foram cantores, cantoras e instrumentistas brasilienses que garantiram o funcionamento pleno do clube, entre eles Rogério Midlej, Leonel Laterza, Paulo André Tavares, José Cabrera, Félix Júnior, Agilson Alcântara, Marcos Moraes, Serge Fasunkiewicz, Ana Reis, Célia Rabelo, Lúcia de Maria e Muriel Tabb. Em 2019, diante da impossibilidade de utilizar o Teatro Sívio Barbato, foi desenvolvida uma programação itinerante em locais como Asbac e Carpe Diem do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Em 2020, por conta da pandemia, uma vez por mês, foram realizadas lives, com a participação de duos, em estúdios, adotando as medidas de segurança, determinadas pelas autoridades sanitárias, transmitidas pelo YouTube.

“No próximo dia 23, às 11h30, comemoraremos a data nacional da Bossa Nova com um show ao vivo do grande músico, cantor e compositor Filó Machado, que terá a companhia do filho Felipe Machado, novo talento da música brasileira. Obviamente, celebraremos também os 20 anos do Clube da Bossa, uma referência em todo o país, com transmissão pelo canal da instituição no YouTube”, anuncia Fontenele. “Esperamos a atenção de todos para a comemoração deste momento tão importante para a música brasileira”, complementa a produtora.

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  • Uma luta pela boa música que perdura 20 anos: antes da pandemia, integrantes do clube se reuniam frequentemente
    Uma luta pela boa música que perdura 20 anos: antes da pandemia, integrantes do clube se reuniam frequentemente Foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press
  • Roberto Menescal:
    Roberto Menescal: "Ansioso para voltar a Brasília e mostrar novos trabalhos, no âmbito do Clube da Bossa" Foto: Marizan Fontinele/Divulgação
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