CINEMA

Com presença de Roberto Benigni, 'Pinóquio' ganha nova versão; veja as estreias da semana

Criado no final do século 19, 'Pinóquio' segue encantador na nova versão do mentiroso boneco que pretende ser um menino de verdade

Ricardo Daehn
postado em 21/01/2021 06:00 / atualizado em 21/01/2021 11:01
 (crédito: Regine de Lazzaris Aka Greta/Divulgação)
(crédito: Regine de Lazzaris Aka Greta/Divulgação)

Houve um tremendo fracasso, em 2002, quando o astro italiano vencedor do Oscar (por A vida é bela) Roberto Benigni protagonizou Pinóquio, numa adaptação em cinema para a jornada de amizades, traições e arrependimentos empreendida pelo boneco de madeira que, desobedecendo ao carpinteiro que o criou, corre a Itália, com cinco moedas de ouro no bolso e muita traquinagem em ação. Numa nova versão, assinada por Matteo Garrone, e que dignifica a obra do clássico da literatura infantil de Carlo Collodi, Benigni tem cenas de grande sensibilidade, agora no papel de Gepetto, o desempregado que celebra ter se tornado pai e é dedicado a ponto de, em troca por uma cartilha escolar para o filho, passar frio, ao se desfazer do único casaco.

Na nova versão de Pinóquio (personagem de Federico Ielapi), o espectador não deve esperar apenas beleza e carga de ingenuidade. O diretor Matteo Garrone, habitué do Festival de Cannes, tem notório pendor sombrio e é inclemente ao criar cenas de longas como O conto dos contos (também detido no universo literário), Gomorra (um exame da máfia) e Dogman, título bastante violento.

Na trama do novo filme, há um momento tenso, em que, acamado com tronquite ou maderite, Pinóquio se mostra irredutível, desprezando remédio, e quase é levado por uma tropa de coelhos ávidos em preencher um caixão para sepultura. Assim é o cinema de Matteo Garrone, uma espécie de Tim Burton, por vezes, sem rédeas. Apesar do bom coração, o protagonista se mostra inclinado ao mundo dos prazeres, sem regras, e, sim, aceita o convite para a vida fanfarrona, que o conduz à burrice, depois do contato com um carroceiro (papel breve, mas marcante, para Nino Scardina).

Publicadas em forma de livro, em 1883, as narrativas de Collodi foram extraídas de edição seriada em jornal italiano. Morto em 1890, o autor teve o reconhecimento em vida, até mesmo por ter sido obrigado a ceder na narrativa, diante aos apelos de leitores que detestaram a inicial versão do jornal, na qual Pinóquio embatia com assassinos e se via morto, por enforcamento (versão, em parte, acatada pelo filme de Matteo Garrone). Collodi, que se aventurou tarde no universo infantojuvenil, ao traduzir textos de Charles Perrault, reinjetou vida em Pinóquio, diante dos clamores do público leitor, e implementou para 36 capítulos a jornada original com menos da metade de aventuras.

Descontrole

Extraído de um tronco repleto de anima, Pinóquio comparece no filme com os defeitos de sempre: desobediente e cara de pau (como detecta o Grilo Falante, em participação discreta, tal qual no livro). Da passagem pelo Teatro de Bonecos, em que fica claro o fato de ele ser um títere (sem fios que o façam ser governado), até o confinamento no mar (em duas ocasiões), Pinóquio lidará, numa pegada inocente, com tipos ardilosos como o Gato e a Raposa (os ótimos Rocco Papaleo e Massimo Ceccherini, esse também corroteirista do longa).

Vencedor de cinco prêmios David di Donatello (ápice da premiação de cinema, na Itália), e indicado para mais 10 estatuetas, Pinóquio traz excelência técnica, desde a aparência do peixe-cão (visto como uma baleia, no famoso desenho da Disney de 1940) até a competente música de Dario Marianelle (vencedor do Oscar, com a trilha de Desejo e reparação). Entre o cruel, personificado pelo professor interpretado por Enzo Vetrano, e o maternal (representado pela Fadinha da trama), há muita expressividade neste mais recente trabalho de Matteo Garrone.

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