CINEMA

'Arte é alimento para o pensamento', diz diretora de 'Fale com as abelhas'

Ao Correio, Annabel Jankel fala sobre o longa estrelado por Anna Paquin, que aborda feminismo, violência sexual e racismo

» Ricardo Daehn
postado em 27/01/2021 06:00 / atualizado em 27/01/2021 09:07
 (crédito: Arquivo Pessoal)
(crédito: Arquivo Pessoal)

Oportunidades perdidas e que subjugaram talentos femininos numa vala comum de desprezo rendem histórias latentes, à espera para serem contadas, e “um público faminto por essas perspectivas”, avalia a cineasta britânica Annabel Jankel, que tem um filme em cartaz nos cinemas da cidade: Fale com as abelhas. O longa estrelado por Anna Paquin (a talentosa menina de O piano, vista ainda na série True Blood) e Holliday Grainger trata de feminismo, violência sexual e racismo, tendo por base um romance de Fiona Shaw.

No título, Annabel percebe uma forma de oração. “É uma comunhão privada e tranquila com outra forma de pensamento, em que pesa a conexão diversificada entre você, a natureza e o universo”, argumenta. Ambientado numa Escócia de 1952, adversa à emancipação e ao romance entre a desempregada Lydia e a médica Jean, Fale com as abelhas contrapõe a hostilidade dos humanos ao acolhimento das colmeias — reservado, no filme, ao personagem Charlie (Gregor Selkirk), filho de Lydia.

“Gregor tem uma personalidade adorável, sensível e aberta desde a etapa dos testes de elenco. Ele foi engajado e muito sério em relação ao trabalho. Conversamos longamente sobre como o jovem personagem se modifica”, explica a diretora. A delicadeza de Charlie é um incômodo para o pai Robert (papel de Emun Elliot).

Mudanças

Toda arte carrega um efeito verdadeiramente poderoso na alma, destaca a diretora de 65 anos, que já dirigiu videoclipes dos Talking Heads e de Miles Davis, além de ser lembrada pela criação (com dois colegas) de Max Headroom, personagem moderno que, em meados dos anos de 1980, teve projeção em quadrinhos de fundo político e foi difundido, em massa, na tevê.

“Sou impactada pela arte, diariamente. Temos que dançar música, sermos hipnotizados no escuro com um filme, nos vermos transportados pelos personagens de romances e nos emocionar com as apresentações no palco. Arte é alimento para o pensamento e, por meio dela, nos relacionamos, livremente, com nosso próprio interior”, avalia.

Pertinente ao tema de Fale com as abelhas, a discriminação visitou, no passado, Annabel Jankel. “Em uma brutal experiência, numa agência de publicidade, certa vez, disseram, na minha cara, que não contratavam diretoras mulheres”, conta. Transportado para realidade, o peso discriminatório segue pesando. “No tempo de covid-19, para as mulheres, em todo o mundo, em todos os países, desde ricos e pobres, há uma época terrivelmente desafiadora — e especialmente para mães solteiras. Há a responsabilidade adicional de manter a si e a seus filhos seguros”, conclui.

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