Obituário

Morre o diretor de cinema Bernardo Bernardes, que criou poesia na tela

O cineasta, famoso por um curta que destaca a poesia de Cassiano Nunes, foi encontrado morto por familiares e enterrado hoje (8/2)

Ricardo Daehn
postado em 08/02/2021 14:40 / atualizado em 08/02/2021 14:40
O diretor Bernardo Bernardes, em 2004, ao lado do poeta Cassiano Nunes, no palco do Cine Brasília -  (crédito: Evandro Matheus/ CB DA Press)
O diretor Bernardo Bernardes, em 2004, ao lado do poeta Cassiano Nunes, no palco do Cine Brasília - (crédito: Evandro Matheus/ CB DA Press)

Aos que testemunharam o entrosamento artístico entre o escritor octogenário Cassiano Nunes e o cineasta Bernardo Bernardes, não pairava dúvida sobre a admiração mútua do personagem central do curta-metragem Viva Cassiano! (2004) e o realizador brasiliense Bernardes. O diretor, aos 44 anos, foi encontrado morto no último fim de semana por familiares. O enterro foi pela manhã de hoje (8/2), no cemitério Campo da Esperança.

Com préstimos de voluntariado em obras de serviços sociais e no âmbito dos direitos humanos, Bernardo Bernardes se destacou na cidade pela atuação na Visionária Produções Artísticas. A carreira de locutor, ator e diretor foi motivada por impulsos maternos. Nos anos de 1990, Bernardo partiu para o Rio de Janeiro, e no retorno à capital, trouxe uma obra produzida pela Companhia de Atores da Casa de Cultura Laura Alvim, na qual estudou: foi a montagem de A entrevista. Com estudos pela Columbia College Chicago (Estados Unidos) e experiência profissional junto ao Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul), Bernardo encontrou a notoriedade no cinema.

Foi na 508 Sul que ele conheceu o santista-brasiliense Cassiano Nunes, estudioso de literatura que cultivou amizades com Mário Quintana e Carlos Drummond de Andrade, entre outros. Descrito como "genial" e "um ser humano generoso", o notável professor da Universidade de Brasília trouxe a inspiração para uma empreitada de oito anos na finalização do curta Viva Cassiano! (2004), obra com animações e fluente tanto em cores quanto no preto e branco, e que conquistou troféu Candango por meio de eleição do júri popular, no 37 Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

Além de destacado na 29 Mostra de São Paulo, o filme, que preza conteúdos de títulos de livros do escritor Cassiano Nunes (entre os quais A felicidade da literatura) passou por seleção, entre 122 curtas-metragens, para o reconhecimento no festival de Brasília. Feito por iniciativa própria, a princípio, sem recursos públicos, o filme chegou a ser assistido pelo mestre Cassiano, que, em 2007, morreu, aos 86 anos. Na obra, pesam participações do crítico literário Antônio Cândido, do encenador Antunes Filho, do cineasta Vladimir Carvalho e do músico Renato Matos.

 

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